terça-feira, 26 de outubro de 2010

Socorro! Preciso de motivação.

Semanas atrás, um amigo me ligou e disse que queria falar comigo pessoalmente. O encontro demorou um pouco para sair, mas acabou rolando dias atrás. Ele trabalha numa grande empresa, que tem uma marca muito conhecida e que muitas vezes já apareceu na lista das "Melhores Empresas para se Trabalhar". Dado este contexto, o papo dele me surpreendeu.

Ele disse algo do tipo: "Estou desmotivado no trabalho. Não vejo oportunidade de crescimento onde estou. A pressão está enorme. O meu chefe não me dá atenção. A empresa prefere contratar gente nova em vez de investir no pessoal interno mais antigo. O salário está achatado. Quase não recebo treinamento. Estou totalmente desmotivado".

Olhei firmemente para ele e a minha primeira reação foi: "Então o que você fazendo ainda lá? Vai embora. Vai procurar sua realização". E ele, olhando cabisbaixo, virou para mim e exclamou: "Mas eu adoro esta empresa. Não consigo me ver em outro lugar".

O papo durou toda a noite. E constatei que se tratava de um amor não correspondido. Ou melhor, de um casamento que precisava ser revisto. O meu amigo se sentia traído pela sua empresa querida.

Uma relação de trabalho não é, ou pelo menos não deveria ser, uma relação emocional. As empresas contratam trabalhadores para prestar um serviço, que são remunerados e compensados conforme a sua performance e comprometimento. O mesmo se passa com consumidores, que pagam o que acham justo por determinado produto ou serviço. Mas a vida não é tão racional assim. Os trabalhadores, bem como os consumidores, desenvolvem relações de paixão, amor e ódio com as empresas. Se tornam ferrenhos admiradores ou inimigos das empresas em função das experiências e percepções acumuladas.

O chato disso tudo é que muitas empresas têm dificuldades para identificar e entender essa "relação emocional", e a grande maioria não sabe como capitalizar todo esse potencial emocional acumulado no perfil de trabalhadores e clientes que existe em cada um de nós. Mais difícil ainda é ver as empresas entrando nas redes sociais para "discutir a relação" com seus funcionários e clientes.

A dinâmica moderna do mundo corporativo, a chegada da geração Y, a volatilidade atual dos empregos e muitos outros fatores afetando as empresas estão gerando um monte de trabalhadores frustrados como o meu amigo. A nova geração de funcionários não demonstra o mesmo "pacto emocional" demonstrado pelos trabalhadores mais antigos. Eu não estou lamentando aqui, mas apenas citando uma constatação.

A mensagem parece simples. Quando algum amigo seu procurar você falando aquilo tudo que meu amigo disse, eu sugiro você fazer o seguinte...
Fique de frente para ele, olhos nos olhos. Pegue os dois braços dele e sacuda muito, mas muito mesmo, bem forte, pra despentear o cabelo, dizendo: "Sai desse corpo que não te pertence. Vai procurar o seu caminho e seja feliz!!!"

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A empresa que os trabalhadores estão buscando

Pegando carona no último post, eu fiz um pequeno exercício invertido, ou seja, pensei no que os trabalhadores procuram nas empresas. Isso é resultado de tudo que ouço, leio e recebo como feedback de amigos e colegas de trabalho.

Qual é o perfil de empresa que os trabalhadores estão buscando?

Os trabalhadores desejam trabalhar numa empresa de fortes princípios éticos, que tenha valores dignos, que valorize e respeite o ser humano, que acredite que a evolução da empresa é diretamente dependente da evolução de seus empregados, que busque resultados possíveis e não metas delirantes, que entenda que os recursos são finitos, que incentive a colaboração e a transparência, que reconheça que cada trabalhador colabora para o resultado da empresa, que construa e mantenha bons relacionamentos com seus empregados, que seja centrada em confiança e credibilidade, que incentive a criatividade e crie mecanismos para isso, que exija dos colaboradores uma produtividade decente e não uma produtividade indecente, que saiba expressar com clareza o que espera de cada um, que seja uma empresa empreendedora, que saiba trabalhar com prioridades e não pedir tudo ao mesmo tempo, que seus líderes sejam transparentes e inspiradores, que sejam acessíveis e gerem orgulho nos liderados, que a empresa explique obsessivamente a estratégia para os seus empregados através de uma comunicação interna eficaz, que promova a integração e o trabalho em equipe, que seja uma empresa-exemplo para outras companhias, que mantenha um ambiente de trabalho saudável e bem humorado, que tenha plano de carreira estruturado e possibilidade de participação em projetos internacionais, que pague um salário digno, que saiba premiar e reconhecer os funcionários que mais contribuem, de preferência que tenha uma remuneração variável de acordo com a performance individual e os resultados da empresa, que tenha planos de aposentadoria para todos os níveis, que ofereça oportunidades contínuas de desenvolvimento de habilidades e competências profissionais, que ofereça bolsas de estudo, que tenha práticas eficientes de recrutamento interno e job rotation, que incentive o compartilhamento de conhecimento, que tenha política de portas abertas, que o processo de comunicação seja descentralizado permitindo que cada um contribua à sua maneira, que promova o empowerment de todos os níveis da empresa, que ofereça estabilidade de emprego a quem merece, que só contrate quem realmente quer trabalhar, que tenha um excelente pacote de benefícios para toda a família do trabalhador, que tenha horário flexível, que permita e incentive o home-office, que estimule o exercício de outras atividades profissionais, que promova a integração entre as diferentes gerações de trabalhadores, que apresente desafios constantes para os seus colaboradores, que invista na qualidade de vida de seus profissionais, promovendo o equilíbrio da vida profissional com a vida pessoal, contemplando seu bem-estar profissional, físico, social, material e espiritual. Que em períodos de dificuldades a empresa não penalize o colaborador, que não faça demissões injustas e que não corte benefícios. Que seja uma empresa socialmente responsável, uma verdadeira empresa-cidadã, que suas metas estejam ligadas aos atributos da sustentabilidade ambiental e social, que promova diversidade e inclusão, que incentive o voluntariado e a participação dos colaboradores em projetos sociais. Que não haja politicagem, que tenha chefes éticos, justos, ouvintes, disponíveis, equilibrados, otimistas e competentes. E que estes chefes tenham preocupação constante para ensinar e desenvolver seus profissionais.

Ahhh, esqueci... e que pague o curso de inglês.

Olha, a gente promete "vestir a camisa", viu?

Digite seu email


Um serviço do FeedBurner

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O profissional que as empresas estão buscando

Fui fazer uma apresentação num evento sobre carreira e resolvi fazer uma "pesquisazinha" a respeito das características e competências que as empresas estão buscando ao contratar novos funcionários. É muito simples. Quer ver?

Qual é o perfil de profissional que as empresas estão buscando?

As empresas desejam um profissional que tenha boa conduta, que exerça e acredite nos valores da empresa, de preferência que seus valores pessoais estejam em sintonia com os valores da empresa, que seja flexível, que seja orientado a resultados, que apresente contínua boa performance, que tenha características de liderança, que seja colaborativo e saiba trabalhar em equipe, que tenha foco constante no cliente, que entenda onde o seu trabalho colabora para o negócio da empresa, que faça a diferença no grupo onde atua, que mantenha o cliente satisfeito, que seja hábil em construir e manter relacionamentos baseados em confiança e credibilidade, que seja dedicado, que tenha ambição para se desenvolver e crescer, que seja responsável, que seja criativo, que colabore para a inovação da empresa de alguma forma, que apresente produtividade crescente, que saiba expressar ideias com clareza, que seja bom de execução, que tenha perseverança diante das dificuldades, que faça um trabalho sempre de qualidade, que tenha espírito empreendedor, que seja diplomático quando necessário, que saiba trabalhar com prioridades, que tenha iniciativa, que seja motivado e que motive os colegas, que saiba trabalhar sob pressão, que aceite mudanças, que tenha conhecimento de estratégia, que navegue bem dentro da organização, que tome decisões com rapidez evitando a procrastinação, que seja bom de persuasão, que apresente suas ideias e propostas com convicção, que seja bom ouvinte, que saiba trabalhar com certa independência e precise pouca supervisão, que tenha inspiração, que seja um exemplo para os colegas, que seja um bom "resolvedor de problemas", que saiba tomar riscos calculados, que saiba se expor e trabalhar num ambiente 360 graus, que se expresse bem através da comunicação escrita e oral, que invista em seu desenvolvimento técnico e em competências, que seja bem humorado, que esteja sempre disponível quando a empresa precisar e que entenda todo o portfólio e estratégia da empresa. Ahhh, esqueci... e que tenha inglês fluente.

E aí? Topas?

A bem da verdade, estas são as condições básicas. Você tem algum diferencial?

Digite seu email


Um serviço do FeedBurner

domingo, 17 de outubro de 2010

Emoções Tóxicas no Trabalho

Ganhei de uma querida amiga um livro chamado "Emoções Tóxicas no Trabalho", de Peter J. Frost. O título é muito interessante, mas o conteúdo é muito mais. Eu me achei em diversas partes do livro.

O livro é fascinante pois cobre um tema que as empresas não gostam de falar. Aliás, nós gerentes, convivemos com ela rotineiramente, quase como uma carga individual que carregamos em nossas costas. Estou falando da "dor emocional" no trabalho.

Todos nós, trabalhadores, sofremos com a carga exagerada de trabalho, prazos absurdos, chefes intransigentes e metas impossíveis. Tudo isso num clima de economia instável, alteração de regras empresariais, fusões, terceirizações e toda sorte de mudanças. O conjunto dessa obra é o surgimento de pessoas angustiadas e frustradas no ambiente de trabalho. Desculpe o meu exagero e dramaturgia, mas você, leitor, entende o que eu estou falando. Peter J. Frost chama isso de "a dor emocional inevitável da atual vida corporativa".

Essa dor emocional, se não tratada adequadamente, transforma-se em emoções tóxicas, ou seja, em atitudes prejudiciais e não curativas que as pessoas têm ante as dificuldades enfrentadas no trabalho. Se este clima negativo for crescente, o ambiente de trabalho torna-se nocivo, drenando a vitalidade, motivação e energia das pessoas.

Infelizmente, na maioria das empresas, existe uma forte ética corporativa de não se discutir a dor emocional. Prefere-se fingir que ela não existe. Ou, as vezes, até é dito que ela existe, mas não é importante, o que faz com que o assunto não apareça na lista das prioridades das empresas.

Quase sempre esta dor emocional, não reconhecida pelas empresas, cai no colo dos chamados "manipuladores de toxinas", termo usado pelo autor para designar aquelas pessoas, gerentes e profissionais, que ajudam a aliviar o sofrimento dos colegas, fazendo com que estes se concentrem no trabalho. Estou falando daquelas pessoas que os colegas procuram para desabafar, para pedir conselhos e compartilhar aquelas ideias que não gostam de falar abertamente. Muitas vezes, esses "manipuladores de toxinas" não têm consciência do que fazem, na maioria dos casos agem por instinto e por convicções pessoais e emocionais, já que as empresas não endereçam o problema.

Existem empresas que parecem panelas de pressão. Estou falando daquelas onde o clima interno de trabalho não é saudável, ou daquelas onde os funcionários não se identificam com os valores e ideais corporativos. Nestas empresas, é muito comum encontrar alguns colegas que "seguram a onda", que sabem ver a parte cheia do copo quase vazio. Parecem evangelistas, sem saberem que são. O pior de tudo é que muitas empresas não conseguem identificar o poder e a importância destes "seguradores de onda", e acabam dispensando estes trabalhadores tão importantes para a manutenção do clima corporativo.

Uma vez, muito anos atrás, ouvi um colega comentar que fulano era muito bom, gerava resultados incríveis para a empresa, mas por onde passava ele deixava um rastro de sangue atrás. A empresa parecia gostar deste executivo, afinal os seus resultados de curto prazo eram fantásticos, mas era um sujeito difícil e que levava a organização ao estresse extremo. Os resultados eram sempre bons no início, mas com o tempo a situação se invertia. Nestas situações, quase sempre, é que os manipuladores de toxinas aparecem e se destacam. Certamente você, que está lendo este texto agora, entende e deve ter um caso parecido para contar.

Segundo Peter J. Frost, "muitos gerentes não possuem o treinamento sistemático na arte de criar relações produtivas com seu pessoal. Eles foram promovidos ou contratados, muitas vezes, de outras empresas com base em suas habilidades técnicas. Ninguém verifica a competência do gerente para trabalhar com pessoas, ou se o fazem, não dão importância às fracas ou modestas habilidades interpessoais quando comparadas a fortes habilidades de venda ou TI e um recorde de entrega de produtos". É aí que aparecem muitos dos perfis gerenciais que conhecemos. Tem aquele gerente que gosta de colocar o pessoal "contra a parede" devido a sua falta de aptidão em tomar decisões. Tem aquele outro que exagera no pedido de conselhos e análises antes de qualquer decisão. Existem também os gerentes maníacos por controle e microgerenciamento. Outros querem rever tudo. E assim vai...

Mas sabe o que é pior? É que os "manipuladores de toxinas" também precisam de ajuda. Ele são seres humanos e também sofrem dores emocionais. Infelizmente, em geral, o trabalho de um manipulador não é celebrado ou admirado, talvez nem mesmo pelas pessoas que estão sendo ajudadas, uma vez que esse trabalho muitas vezes ocorre "nos bastidores". As empresas deveriam identificar e investir fortemente nestas pessoas, que influenciam diretamente na produtividade e no clima organizacional.

Se você se interessa pelo assunto, ou se sente um "manipulador de toxinas", o livro vale muito a pena. O autor discute os efeitos destas toxinas, apresentando de forma bem prática as ferramentas e técnicas para administrá-las e neutralizá-las.

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Steve Jobs diz para a estudante: "Por favor, não nos incomode"

Este fato circulou recentemente pela blogosfera e talvez você já conheça. Tomei conhecimento através da sempre excelente coluna de Lucy Kellaway do Financial Times e Valor Econômico.

Uma aluna de uma universidade americana, chamada Chelsea Isaacs, tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa da Apple para obter informações para um trabalho que estava fazendo. Foram várias tentativas sem resposta. Chateada com o pouco caso da empresa, ela enviou um email direto para Steve Jobs.

"Senhor Jobs, gostaria humildemente de saber por que a Apple, que é tão atenciosa com as necessidades dos estudantes, seja em relação à sua mais nova e maior invenção, seja na prestativa linha de serviços ao cliente, tem um departamento de comunicação que ironicamente não responde a nenhuma de minhas perguntas que, como já disse repetidas vezes, são essenciais ao meu desempenho acadêmico".

Jobs respondeu: "Nossos objetivos não incluem ajudar você a conseguir uma boa nota. Sinto muito".

Chelsea escreveu uma outra mensagem, longa, afirmando que a Apple deveria ter respondido mesmo que por cortesia.

Jobs retornou com a seguinte mensagem: "Negativo. Temos mais de 300 milhões de usuários e não podemos responder todos os pedidos, a menos que eles envolvam algum tipo de problema. Sinto muito".

A estudante enviou uma nova mensagem dizendo que era um cliente e tinha um problema.

Finalmente, para terminar a conversa, Jobs respondeu: "Por favor, não nos incomode".

Ninguém tem certeza se esses emails foram realmente escritos pelo próprio Steve Jobs, mas o fato é que o mundo, mais uma vez, vem crucificando o executivo pela forma como tratou a estudante. Jobs já tem a fama de ser um sujeito antipático e impaciente, este caso apenas reforça a imagem cultivada pela mídia. Se você deseja ter acesso aos emails originais (com data, horário, etc), acesse AQUI.

Mas, tal qual disse Lucy Kellaway em sua coluna, eu tenho que admitir que Jobs tem razão. Apesar da forma lacônica, rude e pragmática da sua resposta, ele apenas disse para a estudante que atendê-la não estava nas prioridades dele, nem da Apple.

Para ilustrar melhor, eu poderia traduzir a resposta de Jobs no seguinte texto:
"Prezada Chelsea. Agradeço o seu contato e me sinto honrado, em nome da Apple, de vê-la buscando mais informações sobre o iPad e a nossa empresa para o seu trabalho na universidade. Em virtude do volume de trabalho e das prioridades em curso na empresa, eu sinto muito em não poder atendê-la no momento. Os nossos executivos estão concentrados em atender os planos traçados e comprometidos com nossos investidores e clientes. Não podemos perder e desviar 1 minuto de nossas metas. Recomendo que busque as informações que necessita na farta literatura já disponível no mercado, que certamente vai atender as suas necessidades. Agradeço o contato. Saudações. Steve".

Enfim, Jobs poderia ter respondido da forma acima, mas não o fez. Aliás, por tudo que ouvimos dele, fica quase impossível imaginarmos ele respondendo dessa forma. Ele preferiu ser direto e transparente.

De modo geral, as empresas devem pensar em meios e canais para atender este tipo de demanda, especialmente empresas como a Apple. Mas quem está no dia-a-dia de intenso trabalho sabe o quanto é difícil equilibrar e manter a agenda de pé. Eu mesmo recebo, com regularidade, emails de estudantes pedindo para falar comigo sobre algum tema específico. Alguns chegam a escrever pedindo para que eu retorne, por email, tudo que sei sobre comunicação e marketing, de forma bem genérica e sem nenhum cuidado em ser específico no que deseja.

O caso descrito exemplifica um dos problemas da geração mais nova e do modelo imposto pelas redes sociais na internet. Existe a percepção que todos podem ser acessados na hora que bem entender, que todos devem estar sempre disponíveis e que se pode ter tudo na hora. Se algo foge deste padrão, então fulano é retrógrado, anti-social e desconectado do mundo moderno. Eu não estou dizendo que concordo com a forma como Jobs respondeu a estudante, mas questiono a expectativa de acessibilidade e disponibilidade total que as pessoas sempre esperam. Tenho certeza que a maioria das pessoas condenaram a ação de Jobs. Estude melhor as cartas da estudante e veja se ela não foi arrogante também? Para ter uma melhor ideia de seu perfil, acesse AQUI para ver este caso sendo contado por ela própria.

Essa história também reforça um conceito que vou discutir num post futuro, que é não permitir que as redes sociais tire você do foco em suas prioridades e na sua agenda do dia. Esta, para mim, é a maior lição tirada deste caso. O que verifico hoje em dia é que as redes sociais têm crescido e afetado o comportamento de algumas empresas, que muitas vezes priorizam fatos e citações isoladas nas redes e deixam de lado o foco nas verdadeiras prioridades. Ou seja, as redes sociais têm um poder enorme para distrair as empresas do seu verdadeiro foco, mas isto é papo para outro post.

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

domingo, 10 de outubro de 2010

A TV brasileira sob o fogo cruzado das novas tecnologias digitais

O caderno Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico de 17 de Setembro de 2010 trouxe uma matéria de capa muito legal chamada "Em busca da sintonia", que fala sobre "o fogo cruzado que a TV brasileira está enfrentando devido às novas tecnologias". A matéria merece ser lida, mas reproduzo abaixo alguns trechos que me chamaram a atenção, além de algumas estatísticas interessantes a respeito do tempo que as pessoas dedicam aos meios digitais e à TV. É evidente que a TV vem perdendo cada vez mais espaço, especialmente entre os mais jovens.

"A televisão ficou jurássica para os adolescentes, que praticamente já nem mais a assistem, e está perdendo audiência para ela mesma, para os aparelhos desligados. A tendência é haver uma interação, já que vai aumentar muito ainda o espaço tomado pela internet, gerando uma mudança na relação das pessoas com a televisão" - Esther Hamburger, chefe do departamento de cinema, rádio e televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

"A televisão é uma batalha diária de conquista. Será preciso pensar em qualidade, dar ao telespectador produtos inéditos, diferenciados. A pulverização das mídias será cada vez maior, vai ganhar quem tiver o melhor conteúdo. Na guerra pela audiência, muitas vezes as emissoras preferem popularizar, jogar o nível para baixo e isso é muito ruim. Nosso maior valor é o telespectador"- Boninho, diretor da Rede Globo.

"Quando vejo meu neto Francisco, do alto de seus 3 anos, ligar o DVD e navegar pelo menu de seus filmes prediletos, quando ele batuca no teclado do computador ou do iPod, tentando buscar vídeos divertidos no YouTube, eu assisto aos últimos capítulos da televisão muito sedutora, mas nada interativa, que conheci com a idade dele. Entrará no ar uma televisão muito maior, presente em todos os ambientes, em telas de todos os tamanhos, navegáveis ao toque dos dedos ou a comando da voz, pura interatividade. A experiência sensorial será muito distante dos chiados e chuviscos dos primórdios. Oxalá o conteúdo seja relevante - e os fascínio permaneça" - Gabriel Priolli, jornalista e diretor de televisão. .


A veiculação de conteúdos televisivos na internet tende a se intensificar, por que as pessoas querem controlar quando e onde assistir a seus programas favoritos

17 horas é a média de quanto um internauta brasileiro gasta vendo TV por semana;

30 horas
é a média de quanto o mesmo internauta brasileiro gasta navegando na internet por semana;

60%
acessam a web para ler notícias e buscar informações sobre o tempo e atualidades;

56%
leem jornais pela internet e 42% dizem preferir a versão impressa.



O celular é cada mais utilizado como meio de entretenimento, especialmente entre os mais jovens

50%
usam o celular para ter acesso à internet e 43% para receber informações, notícias de esportes, tempo e trânsito por mensagem de texto;

1 hora
a cada seis despendidas na internet é utilizada via celular.



O computador é um substituto da TV como principal fonte de entretenimento

87% dos internautas na faixa de 14 a 26 anos preferem o computador;

75% em todas as outras faixas (de 27 a 75 anos) fazem a mesma opção;

56%
na faixa de 14 a 26 anos utilizam quase tanto a TV quanto o computador para assistir a vídeos.



O universo dos internautas brasileiros

13,7 milhões de domicílios (23,8% do total) estão ligados à internet;

66,3 milhões
acessaram a internet pelo menos uma vez em 2009;

26%
têm instrução superior, 42% concluíram o ensino médio, 24% têm o fundamental;

36,8 milhões
de pessoas frequentam a internet;

56%
têm idade entre 10 e 24 anos, 37% entre 25 e 44 anos;

54%
dos internautas estão na classe C, 30% na B, 13% na D/E e 3% na A.



Fonte:
Caderno Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico de 17 de Setembro de 2010
"The State of Media Democracy", Deloitte/Harrison Group (com Ibope/NetRatings - Out. 2009: Ibope/Nielsen; IBGE - Pnad 2008; Comitê Gestor da Internet no Brasil)

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O que aprendi com Clara Shih e Brian Solis no Digital Age 2.0

Participar do Digital Age sempre funciona para mim como um "abridor de mentes". E foi isso que aconteceu em agosto, mais uma vez, quando rolou o evento neste ano. Eu cometi uma falha que estou corrigindo agora. Escrevi um post e vacilei deixando-o em draft. Só estou publicando hoje. Eu gostei bastante das apresentações de Clara Shih e Brian Solis, nesta ordem. Clara é uma das mulheres bem conhecidas no mundo da web e tecnologia, e CEO da Hearsay Labs. Brian é uma autoridade, também conhecida, em web 2.0 e mídias sociais. Eis abaixo um "pout-pourri" do que captei, misturado com algumas divagações minhas.

Clara disse que os brasileiros são os mais sociais no planeta. E citou o exemplo do Facebook, onde, em média, os brasileiros têm 360 amigos, enquanto o resto do mundo tem 195. Eu não conhecia estes números e fiquei surpreso.

O Facebook estabeleceu um padrão para a nossa identidade online, onde as pessoas compartilham suas intimidades de forma semi-pública. E graças às redes sociais, especialmente ao próprio Facebook, os relacionamentos estão se acelerando, parece que tudo ganhou mais velocidade. Também sabemos mais sobre os outros. Pelo Facebook, você sabe a idade, o que o indivíduo faz, o que ele gosta, etc. Enfim, você tem informações muito mais precisas das pessoas com quem se relaciona, de forma fácil e rápida, sem ter que perguntar a elas. Imagine isso nas mãos das empresas? Com um bom "data mining" nas mãos você poderia segmentar a sua rede de relacionamentos sem precisar disparar nenhuma pesquisa. A informação está ali, é só colher.

Um outro efeito é que o custo de contato está cada vez diminuindo mais. Atualmente é mais fácil falar com mais pessoas por email ou pelo próprio Facebook do que fazer uma ligação telefônica. Esta disponibilidade, ao alcance de todos, está causando um crescimento sem precedentes das redes de relacionamento. E as pesquisas de sociologia dizem que quanto maior as redes sociais, maior o capital intelectual gerado. Ou seja, as redes estão produzindo um volume de conhecimento descomunal. O custo de ter alguém seguindo você no twitter é muito baixo, e isso aumenta a geração e compartilhamento de conhecimento. Essa é uma mudança transformacional da sociedade, que toca diretamente a comunicação empresarial.

Outro fenômeno explosivo é que as pessoas preferem acessar as redes sociais quando estão se movimentando, nos momentos em que a melhor distração parece ser usar o equipamento móvel que têm nas mãos. Hoje já existem mais usuários móveis do que usuários fixos acessando o Facebook. E esse conceito de mobilidade está ligado a dois outros conceitos intrínsecos: disponibilidade e acesso ao conhecimento. Isto é, a mobilidade faz com que o cidadão esteja sempre disponível e o transforma num consumidor voraz de informação 24 horas por dia.

Isso tudo fica engraçado quando olhamos o mundo corporativo, pois a primeira percepção é que as empresas ainda fazem comunicação da idade da pedra. Os clientes e os funcionários das empresas pedem interatividade, mobilidade e conveniência. Será que as empresas estão entregando isso em sua comunicação externa e interna? Duvido. E esta talvez seja a principal dificuldade que as empresas passam ao se lançarem nas redes sociais e em outros projetos de comunicação interativa. Elas não têm uma perspectiva clara e exata do ecossistema onde estão atuando. Quase todas começam seus protótipos de redes sociais em cima de projetos iniciais que não dão certo.

Talvez o exemplo mais notável é o que vou citar abaixo. Eu sempre gosto de citá-lo pois é algo básico. A pesquisa "Mídias sociais nas empresas – O relacionamento online com o mercado”, da Deloitte, aponta que 73% dos projetos de redes sociais nas empresas do Brasil começam pelo departamento de marketing, que enxerga as redes sociais como um potencial canal de vendas. Daí, a expectativa da maioria delas é obter resultados melhores de vendas através das redes sociais, mirando o público alvo apenas com o viés de consumidor. De modo geral, é aqui que as empresas falham, pois cada indivíduo da sociedade tem múltiplas dimensões, desempenhando papéis diferentes no dia a dia. Nas redes sociais, estes comportamentos individuais ficam ainda mais evidentes. As pessoas desempenham os papéis de cliente, de influenciador, de contestador, de concorrente, de gerador de ideias, etc, etc, etc. Voltando ao caso da empresa, ela lança um projeto de rede social para falar com o consumidor, e descobre que por trás dele existe uma pessoa multifacetada, que deseja falar com a empresa para reclamar de um serviço, dar uma ideia de um novo produto ou serviço, que é acionista da empresa e quer mais informações, etc. E aí a empresa descobre que redes sociais não é apenas um mero canal de vendas e se vê enrolada para atender essa sociedade que clama por relacionamento e interatividade. Ou seja, na maioria dos projetos de rede sociais corporativos, as empresas querem falar e esperam que os clientes queiram ouvir, mas na verdade os clientes também querem falar e serem ouvidos.

Parafraseando o que Brian Solis disse: Mídia Social é algo muito mais ligado a sociologia e psicologia do que tecnologia.

Fui!

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A sala de aula na visão dos professores

Texto publicado no blog Foco em Gerações.

Semanas atrás eu publiquei posts contendo entrevistas de dois adolescentes falando sobre a sala de aula. O primeiro adolescente se mostrava completamente arredio com o ambiente, enquanto o segundo era mais motivado, apesar de também tecer severas críticas em relação à universidade.

Leia em “A sala de aula vista por um adolescente - Entrevista 1” e “A sala de aula vista por um adolescente - Entrevista 2".

As entrevistas foram publicadas na íntegra, sem que eu mudasse palavras ou amenizasse frases. Fui cauteloso em afirmar que não poderíamos generalizar, pois eram apenas dois estudantes apresentando suas percepções individuais.

O que me surpreendeu foi, nas semanas seguintes, receber e-mails de professores que leram as entrevistas e decidiram me enviar feedback, a maioria para reclamar da falta de interesse dos alunos e da dificuldade de conduzir as aulas neste contexto. Reuni o que achei de mais relevante nos e-mails e preparei o resumo abaixo. Todos me pediram confidencialidade, inclusive das instituições onde lecionam, mas aceitaram que eu fizesse esta síntese.

De maneira geral, os professores afirmam que as transformações no ambiente da sala de aula estão apenas começando. As novas tecnologias, a evolução cultural, os novos valores, o interesse pelo trabalho e a família já estão provocando mudanças profundas no processo de educação que conhecemos hoje. Todos falaram que as salas virtuais (ensino a distância) vão aumentar muito futuramente e que talvez não fará mais sentido obrigar os alunos a irem todos os dias para uma escola física.

A facilidade de acesso à informação, através dos gadgets que temos hoje em mãos e o que ainda vem por aí, deverá mudar o velho conceito da exigência de memorização e os atuais testes em sala de aula. Estas transformações, e muitas outras, vão exigir uma nova formação profissional para os professores, com nova mentalidade, mais recursos e mais tecnologia.

Os próprios professores dizem que não estão preparados para este mundo novo e nem se sentem em condições de iniciar esta transformação. As barreiras são muitas: as universidades estão mal preparadas, o corpo docente é arredio a mudanças e experiências, faltam recursos, existe desconhecimento no uso e aplicação das novas tecnologias e, principalmente, falta tempo para desenvolverem e implementarem coisas novas. Falta tempo para pensar diferente. A sensação é de que os professores estão sempre correndo e devendo alguma coisa. Eles não têm tempo para se desenvolver adequadamente.

Apesar do cenário acima, o grande desafio parece ser mesmo lidar com os alunos. Os professores dizem que uma grande parte deles não quer saber de nada, estão na sala de aula por obrigação e não por interesse próprio. A situação parece pior nas universidades que possuem wireless, pois a maioria diz que tal facilidade atrapalha mais do que ajuda.

Muitos me disseram que conseguem dividir a classe em duas metades, uma que não quer nada e a outra que se mostra interessada, que interage e busca aprender. A dificuldade é conciliar os dois grupos, que convivem no mesmo espaço, durante várias horas, todos os dias. Parece ser uma queda de braço diária.

Alguns usam powerpoint na sala de aula em vez de giz e a velha lousa. Tipicamente, os professores de marketing, publicidade e comunicação usam mais recursos audiovisuais. Já os professores de engenharia, matemática e administração, especialmente os tradicionais, ainda usam o método antigo, mas nenhum professor me disse que usar tal recurso gera mais interesse e atenção, uma coisa parece não ter relação com a outra.

O feedback recebido dos professores condena sumariamente o aluno da primeira entrevista. Eles alegam que não ficam desligados durante a aula e que se mantêm atentos e dedicados. Alguns alegam existir um problema de educação e falta de bom senso dos alunos, como atender ao celular ou colocar o pé em cima da mesa durante a aula.

Alguns dos professores confessaram ter obsessão por descobrir trabalhos que foram copiados e não admitem tal conduta. Mas, infelizmente, parece que esta prática está aumentando, e a alternativa tem sido evitar repetir trabalhos de períodos anteriores, impossibilitando-a.

Combinando o feedback dos professores com as entrevistas dos alunos, conclui-se que ninguém está satisfeito com a sala de aula. E quando ninguém está satisfeito…

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...