terça-feira, 30 de junho de 2009

Gay Talese: "O governo usa a imprensa mais do que a imprensa usa o governo"

Dias atrás, eu publiquei um post a respeito de um debate que acompanhei na CBN sobre jornalismo versus liberdade para fiscalizar o governo. A respeito desse tema, eu recomendo a leitura da entrevista do jornalista e escritor Gay Talese para a revista Veja, edição 2117 de 17/06/09, páginas 86 a 89. Você pode ir no online, mas a matéria completa se encontra somente na edição impressa. Acesse AQUI o Acervo Digital da Veja para ler a matéria completa (tem que procurar a edição 2117).

Diferente do clima que rolou no painel da CBN, Talese não poupa a imprensa nessa relação imprensa e governo. Ele disse: "O governo usa a imprensa mais do que a imprensa usa o governo. Hoje, devemos ter uns 10.000 repórteres em Washington. Há uma civilização inteira de jornalistas em Washington. Se eu dirigisse um jornal, eliminaria de 50% a 60% da sucursal de Washington e mandaria os repórteres para outros lugares do país, para Califórnia, Nebraska, Flórida. Sabe o que aconteceria? Estaríamos tirando a ênfase sobre o governo e neutralizando sua capacidade de controlar o discurso político. Em vez de ficarmos segurando o microfone para o governo falar, estaríamos trazendo notícia sobre como as decisões do governo são percebidas e como são sentidas longe de Washington. Isso é vida real. É cobrir os efeitos das medidas do governo sobre a economia".

Gay Talese também fala uma frase que resumo bem essa história de crise na mídia: "A crise é dos jornais - e não do jornalismo". Ou seja, o jornalismo vai continuar existindo com ou sem jornais impressos. Veja as palavras de Talese: "As pessoas esquecem que os jornais vão e vêm. O jornalismo, não. As pessoas vão sempre precisar de notícia e informação. Sem informação não se administra um negócio, não se vende ingresso para o teatro, não se divulga uma política externa. Todos os dias, nos jornais das cidades grandes ou pequenas, repórteres vão à rua para fazer o que não é feito por mais ninguém".

E ele fala também sobre a internet:
"Com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado". "A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas. Quem se informa pela internet, de modo assim estreito e limitado, pode ser muito bem sucedido, ganhar muito dinheiro, mas não terá uma visão ampla do mundo".

Enfim, eu não concordo com tudo que ele diz. Mas gosto de ler esses caras pois eles me fazem pensar. Estou indo hoje para Paraty, no Rio de Janeiro, para FLIP. Esse cara, Gay Talese, vai estar lá. Vamos ver se ele fala mais alguma coisa.

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Blog da Petrobras - O Feitiço e o Feiticeiro

Eu adoro a internet, mas as vezes ela me assusta. A cada dia que passa eu vejo que ainda temos muito o que aprender com a internet e as mídias sociais.

Semanas atrás, o assunto blog "Petrobras Fatos e Dados" bombou na imprensa e na web. A empresa anunciou que o objetivo do blog é criar um canal de comunicação direta com a sociedade, sem intermediários. No entanto, as mídias sociais, como os blogs, não são meramente canais de comunicação da forma como a imprensa e as empresas estão acostumadas a trabalhar, elas são canais de diálogo e exposição. Quando uma empresa publica um blog externo, como fez a Petrobras, ela está dando uma mensagem do tipo: "Oi sociedade. Oi clientes. Oi investidores. Quero conversar com vocês. Estou pronta e preparada para estabelecer um diálogo”. Por outro lado, o diálogo na internet não tem um padrão estabelecido. Esse diálogo virtual, intenso e surpreendente, é algo novo para todos nós, com todos os potenciais riscos e benefícios que uma novidade provoca.

Enfim, conto tudo isso pois o blog oficial da Petrobras, chamado “Petrobras Fatos e Dados”, ganhou um contra-ponto. Trata-se do "Petrobras Dados e Fatos", que se apresenta como "diferente do original, aqui não tem censura". Por essa a Petrobras não esperava. Não deixe de ver o número de comentários nesse blog alternativo. Aliás, veja o post "Alguns esclarecimentos a respeito desse blog", que gerou mais de uma centena de comentários.

A Petrobras lançou o blog para responder a imprensa, dizendo que a imprensa não é tão transparente e imparcial quanto deveria ser. Daí vem esse blog-protesto para fazer o contra-ponto do blog da Petrobras. Minha percepção é que a empresa concentrou o esforço do blog unicamente para responder a imprensa. Acho que ninguém na empresa dimensionou o potencial de reação da comunidade virtual, formada por pessoas como eu e você. Quem, na Petrobras, poderia imaginar o surgimento de um blog-protesto como esse? Com autor desconhecido, lay-out igual ao original e com uma legião de internautas apoiando a iniciativa.

É por isso que as empresas têm que se planejar e saber muito bem o que querem quando entram no jogo das mídias sociais. Como dica, eu sugiro o recente post de Sandy Carter "Difference between If and When... Business 2.0". Ela resume muito bem alguns pontos importantes que as empresas devem considerar quando pensarem em web 2.0.

Enfim, o mundo da internet é novo e surpreendente. Parece que a grande rede respondeu para a Petrobras: “Quer brincar de blog? Ok. Topo. Vou brincar com você”. Será que o feitiço virou contra o feiticeiro?

Prá terminar. Veja as imagens abaixo. Clique nelas para acessar os blogs. Uma delas é o blog oficial da Petrobras. A outra é o blog alternativo. Não deixe de ver os detalhes: o nome do blog, o layout, etc. A internet tem dessas coisas.




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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Blogs do Irã viram manchete no Jornal da Globo

Eu estou cansado de ouvir que os blogs, de maneira geral, não sobreviveriam sem o conteúdo publicado pela imprensa. Entendo e concordo em parte (depende do blog, né?). No entanto, fico incomodado quando alguns menosprezam o poder, alcance e a vida própria das novas mídias. Ou então, quando não entendem que estamos vivendo uma mudança profunda na sociedade, onde as mídias sociais desempenham um papel importante nessa transformação. Infelizmente, como citado no meu post anterior, a imprensa tem sido uma das áreas onde as novas mídias geram discussões acaloradas e reativas, muitas vezes pouco racionais.

Por isso tudo, eu já havia ficado muito contente com a capa da Época dessa semana, com o título "Irã 2.0 - Como a rebelião pela internet e pelo Twitter começou a transformar a república islâmica", e com a matéria "Rebelião 2.0 em Teerã" (acesse AQUI um pequeno trecho. O que vale é ler a revista pois a matéria é excelente). Mas tenho que confessar que minha felicidade foi aos céus ao ver uma matéria do Jornal da Globo, de ontem, sobre o uso da internet pelos Iranianos para driblar a censura. Foi sensacional. Desta vez, foi o conteúdo dos blogs, do twitter e das redes sociais que alimentaram a imprensa. E não foi qualquer imprensa não. Foi a TV. Foi a Globo.

Vale ver. Estamos num momento de mudanças profundas na forma como a sociedade se comunica e se relaciona. Viver esse momento é uma experiência única, especialmente sendo um profissional de comunicação.


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terça-feira, 23 de junho de 2009

Debate sobre Jornalismo na CBN

No dia 15/6 o programa "Notícia em Foco" da CBN conduziu um painel, ao vivo, com o título: "O risco de o papel do jornalismo de fiscalizar o poder e denunciar abusos estar ameaçado". Participaram do debate dois jornalistas experientes e conceituados: Clóvis Rossi e Eugênio Bucci.

Eu não gostei do tema do painel pois vivemos a época de maior abertura e liberdade de opinião no país. As novas tecnologias, como blogs e redes sociais, vêm alavacando ainda mais esse ambiente aberto de debates e troca de ideias. Acho que não faz sentido essa discussão de cerceamento do jornalismo pois existem temas muito mais relevantes e interessantes para debater. O que realmente me fez continuar acompanhando o painel foram os momentos de conversa a respeito do jornalismo versus novas mídias.

Eis 3 flagrantes que pincei do debate:

Momento 1: (aos 13min00seg)
Num determinado instante, um dos jornalistas entrevistados disse que tinha 3 restrições fundamentais em relação aos blogs. Abaixo você encontra alguns fragmentos:
1- O blog: "é basicamente uma conversa de nós com nós mesmos"; "não é um diálogo"; "é um monólogo"; "é o contrário da pluralidade"; "não é um debate de ideias".
2- a segunda restrição eu não entendi. Já ouvi várias vezes e não entendi o que o jornalista quis dizer. Agradeço quem me esclarecer.
3- "Se um blog me recomendasse, no ano passado, que investisse no banco Lehman Brothers, quem é que eu processaria se eu realmente seguisse esse conselho?"

Momento 2: (aos 23min46seg)
No meio da conversa surgiu uma pergunta: "Quem paga os blogs?"

Momento 3: (aos 40min15seg)
A conversa entrou no assunto blog da Petrobras e um dos jornalistas disse achar um absurdo a Petrobras ter contratado pessoas e agências para ajudar a empresa a enfrentar a CPI. Ele disse: "O fato de ter se mobilizado dessa maneira para enfrentar uma CPI, que é uma coisa que deveria ser corriqueira e banal se a empresa é sólida. Se a empresa é séria, ela vai passar no teste e até sair reforçada. Toda essa mobilização é que me fez desconfiar do que eu não desconfiava antes, que a Petrobras tem alguma coisa para esconder".

Eu tenho algumas observações a respeito.

O painel seria muito rico se os organizadores tivessem convidado um blogueiro sério para participar do debate. Isso daria a pluralidade que eles tanto comentaram ao longo da conversa. Por não ter um contra-ponto, a conversa acabou ficando tendenciosa e mais do mesmo.

Eles entraram em assuntos que não dominam. Por exemplo, um dos jornalistas disse estranhar a mobilização da Petrobras frente à CPI. Essa visão é típica de quem nunca trabalhou em comunicação empresarial. Eu nem vou perder meu tempo aqui citando o quanto uma crise impacta uma empresa, especialmente uma do porte da Petrobras. Eu já enfrentei várias crises nas empresas onde trabalhei, numa delas eu passei pela experiência de ter a empresa citada numa CPI (foi bem de leve e nada parecido com a Petrobras) e sei bem o que isso afeta os negócios e o relacionamento da empresa com seus colaboradores, clientes e sociedade como um todo, especialmente imprensa.

O painel da CBN serviu para reforçar uma das percepções que tenho: alguns jornalistas ainda têm dificuldade de entender e lidar com as novas mídias. Eles discutiram também a respeito do futuro do jornalismo, e isso foi bom. Foi dito que as mídias sociais não vão acabar com o jornalismo. O que existe, na verdade, é um desafio de modelo de negócio para as mídias que hoje dependem do jornal impresso.

Acesse AQUI o debate inteiro (tem intervalos de comerciais e notícias no meio).

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segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Proficional" de Comunicação

A queda da obrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo gerou um monte de discussões. Já li um monte de análises diferentes, mas a que mais gostei foi a do Edu Vasques no Pérolas. Acho que ele foi direto ao ponto, abusando da franqueza e do pragmatismo tradicional. Vale muito ler. Acesse AQUI.

Gostei também da análise de Miriam Leitão, em sua coluna do último sábado. Concordo com 100% do que ela escreveu. Veja AQUI. Separei três trechos:
"O que acabou foi a reserva de mercado. Não acabou a necessidade de qualificação, de aprendizado, de domínio da técnica, de acumulação do conhecimento para ser jornalista".
"Os cursos de graduação e pós-graduação continuam a existir nos Estados Unidos, mesmo sem haver obrigatoriedade. Alguns com prestígio mundial, como os da Columbia. Na Alemanha, as emissoras de televisão selecionam profissionais de várias áreas e os treinam em cursos internos".
"Quem entender que a hora é de estudar menos, ficará para trás".

Acho que, no fim das contas, em função da realidade nua e crua citada por Edu Vasques, a queda da exigência do diploma não vai mudar nada. As empresas ainda terão que decidir se querem um profissional ou um "proficional".

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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Eu Blogo, Tu Twittas, Ele Wika. Nós RedeSocializamos.

Hoje, o sempre excelente blog Crise & Comunicação publicou um texto meu. Tomo a liberdade de reproduzi-lo abaixo. Aproveito para dizer que sinto-me orgulhoso de ter contribuído para um blog que aprecio e é fonte regular de consulta e aprendizado.

Eu Blogo, Tu Twittas, Ele Wika. Nós RedeSocializamos.

Já participei de diversos fóruns de comunicação, com muitos representantes de empresas, onde sempre pergunto o quanto eles usam as novidades da web 2.0 em suas empresas.

Em todas as vezes o meu queixo caiu, sem exceção. Fico sempre espantado com as respostas. A maioria diz acessar o Orkut e alguns dizem navegar em blogs e... só isso.

Só isso? Só isso mesmo.

O resultado é decepcionante, principalmente se considerarmos que, nestes eventos, participam profissionais e líderes de comunicação e marketing de grandes empresas, que supostamente deveriam incentivar o uso de ferramentas inovadoras de comunicação e relacionamento nas empresas em que trabalham.

Poucos respondem ter blogs, um ou outro diz ter conta no Twitter e poucos participam de redes sociais além do Orkut. Verdade seja dita, ainda existe um número limitado de empresas que permite o acesso livre à internet, MSN, Orkut e outras redes sociais. Isso é um inibidor e tanto. Veja AQUI uma matéria no IDGNOW que fala sobre políticas de restrição de acesso nas empresas. E acesse AQUI o que revela a pesquisa TIC Empresas 2008 sobre isso, que foi divulgada recentemente, em 28/04, e que tem dados interessantes. Apesar disso, ao falar com as pessoas sobre o tema, o principal motivo do acanhamento no uso das ferramentas sociais digitais é quase sempre a falta de tempo, e não problemas de restrição de acesso.

O resultado é frustrante. A percepção é que as áreas de marketing e comunicação não parecem estar liderando e puxando a introdução de ferramentas sociais virtuais nas empresas. E o motivo é simples: a maioria dos profissionais não conhece essas ferramentas. Como liderar alguma coisa se você não usa ou pratica?

A situação deveria ser inversa. Esses profissionais deveriam experimentar muito essas ferramentas em suas vidas pessoais, testar e se arriscar bastante para trazer esse conhecimento experimental para dentro das empresas. Mas isso não está acontecendo, daí a explicação para a acomodação e “mais do mesmo” que continuamos a ver em marketing e comunicação nas empresas. O próprios profissionais dessas áreas não são tão ousados quanto supostamente deveriam ser.

Em resumo, acho que todos os profissionais de marketing e comunicação deveriam abrir contas no Twitter, no Facebook, no LinkedIn, contribuir para blogs de seu interesse e ler livros emblemáticos sobre o tema como, por exemplo, Crowdsourcing, de Jeff Howe (O Poder das Multidões, na versão editada no Brasil) para entender esse novo mundo colaborativo que surge à nossa frente. Viver essa experiência é indelegável.

Tem um elefante passando na nossa frente e tem muita gente que não está vendo.

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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pão de Açúcar e suas Marcas

No dia 9 de junho, o Grupo Pão de Açúcar publicou um anúncio de página inteira nos principais jornais do país, comunicando a aquisição do Ponto Frio.

Dizia o anúncio:

Ponto Frio, Pão de Açúcar, Extra, CompreBem, Sendas e Assai. Está formada a maior rede de varejo do Brasil.

Há mais de 60 anos, o Grupo Pão de Açúcar investe e contribui para o desenvolvimento do país. Agora, com a aquisição do Ponto Frio, assume a liderança do varejo brasileiro com mais de mil lojas e 79 mil colaboradores. Para integrar todas essas forças, contamos com a mesma vocação para a inovação, o prazer em servir e a determinação de quem sempre busca o melhor.

Grupo Pão de Açúcar. Quando a gente conquista, o Brasil conquista.

Duas coisas me chamaram a atenção nesse anúncio. A palavra "integrar" e os logos das empresas no final da página inteira.

Realmente, integrar essas redes de varejo não deve ser fácil. Me caiu a ficha se faz sentido o Grupo Pão de Açúcar continuar com todas estas marcas separadas. Daí me surgiu uma pergunta: Se você fosse o gestor de marketing desse grupo, você recomendaria "matar" todas estas marcas e centralizar todos os esforços em uma única marca? Imagine o poder de fogo do grupo se todas as verbas de marketing fossem canalizadas para esta marca, com uma cadeia logística menos complexa e todos os 79 mil colaboradores unidos em uma única empresa.




Já que estamos falando de aquisição de empresas, a revista Exame acaba de publicar uma notinha, quase escondida, dizendo que o Marfrig revelou que mantém negociações para uma possível fusão com o Bertin. Essa será outra "senhora" fusão, criando mais uma mega-empresa global de alimentação.
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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Blog da Petrobras - O que pensam os editores

O "combate" entre o blog da Petrobras "Dados e Fatos" e a imprensa parece que está chegando ao fim, pelo menos deve sumir das manchetes dos jornais. Cada um cedeu um pouquinho, assim ninguém precisa pedir desculpas prá ninguém, e tudo se resolve. Mas a discussão a respeito dessa experiência vai continuar.

Os jornais não sabiam o que fazer depois que exageram na dose da reação contra o blog. Notadamente eles erraram a mão ao espernear desmedidamente em seus editoriais (veja abaixo) e reportagens. Parte da mídia ainda não entendeu que as ferramentas de comunicação 2.0 estão invertendo completamente o jogo, dando ao leitor a autonomia de buscar a informação quando e na forma que bem entender, editada ou não. E que o jornal, como conhecemos, continuará a ser um veículo importante de comunicação, mas não o único e nem tão imprescindível para a sociedade como uma década atrás.

Já a área de comunicação da Petrobras sabia que tinha que fazer alguma coisa. A iniciativa de lançamento do blog foi brilhante, mas faltou "manha". Faltou introduzir o blog de forma mais lenta e ajustada à dinâmica das relações com a imprensa. Manter um clima de prontidão diária contra a mídia não é interessante para a empresa, aliás, para ninguém. Como fazer para dar um passo para trás?

A decisão da Petrobras de não mais publicar no seu blog as perguntas feitas por jornalistas, e as respostas dadas pela empresa, um dia antes de as reportagens serem publicadas é inteligente e cria a situação de acordo que todos queriam. Todos estavam esperando uma oportunidade para abaixar as armas.

Segundo a coluna de Mônica Bergamo na Folha, "a decisão foi tomada depois de reuniões feitas pela equipe de comunicação da Petrobras. Muitos dos presentes concluíram que a forma adotada pelo blog, de divulgar os questionamentos antes mesmo da publicação das matérias pelos jornais, foi desastrosa. Outra parte da equipe, no entanto, não queria recuar completamente da ideia para que não parecesse que a empresa capitulara à reação da mídia. Chegou-se a um meio termo: as perguntas dos jornalistas e as respostas a elas só serão postadas no blog à meia-noite, para evitar que publicações que concorrem entre si tomem conhecimento antecipado das reportagens que serão publicadas por outros veículos". Veja AQUI.

O blog da Petrobras foi discutido intensamente nos últimos dias, em todos os fóruns. Todo mundo entrou na discussão. Até o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, resolveu se pronunciar. Veja o artigo dele, chamado "Porque os blogs assustam", AQUI.

Se você que ver uma análise bem equilibrada e justa, eu recomendo a leitura do excelente artigo escrito por Claudio Weber Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, em seu blog. E vale ler as dezenas de comentários. Acesse AQUI.

Mas o motivo deste post é compartilhar o artigo "O que pensam os editores" publicado ontem no site do Observatório de Imprensa. Veja AQUI. O artigo contém depoimentos recebidos por Ricardo Noblat e publicados em seu blog, todos referentes ao blog da Petrobras. Tomo a liberdade de publicar o artigo inteiro, marcando em vermelho algumas partes que me chamaram a atenção. Não pretendo comentá-las, cada um que tire suas próprias conclusões, mas afirmo que cada um dos trechos marcados mereceria um belo debate. O blog da Petrobras, mas do que trazer transparência e sacudir "o sistema", ajudou a entendermos melhor como funciona a cabeça dos principais editores e grupos de comunicação do país. Destaque para a afirmação de Ricardo Gandour, do grupo Estado: "A sociedade não pode prescindir da imprensa e dos valores da edição".

Reproduzido do Observatório de Imprensa, 11/06/2009

BLOG DA PETROBRAS - O que pensam os editores

Por Depoimentos a Ricardo Noblat em 11/6/2009
Reproduzido do Blog do Noblat, 9/6/2009

CENSURA CRIATIVA, MAS CENSURA
Euripedes Alcântara - diretor de Redação da revista Veja

Nem tudo que é legal é ético. A decisão da Petrobras de publicar em seu blog as perguntas dirigidas à empresa pelos jornalistas e respondê-las publicamente antes mesmo de saber como foram aproveitadas nas reportagens pode ter amparo jurídico.

Mas é claramente uma posição de força sem precedentes no convívio entre empresas privadas de mesmo porte e, ainda, mais violenta quando tomada por uma empresa que pertence ao povo brasileiro, seu controlador.

Uma posição de força dessa natureza, a meu ver, só faria sentido se fosse iniciativa de uma nação estrangeira contra jornalistas brasileiros em uma situação de guerra externa. Não é esse o caso.

Uma medida sadia seria gravar as entrevistas concedidas à imprensa por seu presidente e seus diretores e, uma vez constatada que a edição desfigurou a mensagem original ou colocou as informações fora de contexto, dar publicidade à íntegra da conversa com a ênfase nos trechos suprimidos ou desfigurados.

Atropelar a apuração jornalística é uma forma de censura, muito criativa, sem dúvida, mas censura.

***

DESELEGÂNCIA E INTIMIDAÇÃO
Sergio Lirio - redator-chefe da CartaCapital

Publicar as perguntas dos jornalistas antes de o material ser publicado nos respectivos veículos é mais do que um ato de deselegância. Cheira um pouco a intimidação, incompatível com uma empresa que afirma não temer as investigações.

Inútil, em todos os casos, pois acaba por gerar um noticiário negativo à empresa, justamente o que os estrategistas de comunicação da Petrobras almejam evitar.

Mas será perfeitamente normal, e salutar, se a companhia utilizar o blog para publicar a íntegra das perguntas e respostas após o material sair publicado ou prestar esclarecimentos adicionais a respeito de uma determinada notícia. Principalmente se a edição sonegar ou distorcer informações prestadas.

Sabemos que durante CPIs a imprensa costuma fazer o contrário do que deveria: torna-se menos e não mais criteriosa e vigilante na seleção e divulgação dos fatos, sob a desculpa das pressões da competição pelo furo, além de frequentemente se deixar usar por interesses particulares ou eleitorais travestidos de interesse público.

Outro comportamento bastante comum da mídia nesses momentos é ignorar com mais frequência seus erros e não conceder a um indivíduo ou empresa atingidos o devido espaço de retratação.

Misturados à manada que alegremente pisoteia o bom senso, as regras básicas da profissão e a autonomia do pensamento (que deveria nortear um jornalista do raiar do dia ao fim da jornada diária), repórteres, editores e veículos sentem-se mais confortáveis para cometer aleivosias e assassinatos de reputação ou para reproduzir erros alheios sem se dar ao trabalho da checagem.

Quem já foi injustamente alvejado por CPIs sabe bem o que isso representa. No caso de uma companhia com ações nas Bolsas de Valores, milhões de dólares em contratos e sentada sobre reservas espetaculares de gás e petróleo, os prejuízos podem ser incalculáveis e irreversíveis.

***

UM ERRO, UM ABUSO, UM DISPARATE
Luiz Antonio Novaes - editor-executivo de O Globo, responsável pela edição da 1ª página

O risco de vazamento é inerente à atividade jornalística. Não é de estranhar que um repórter tope com um personagem que, na impossibilidade de impedir a publicação de uma denúncia, torne-a pública , a seu modo, antes que ela seja bem concluída e documentada.

O que é surpreendente e sui generis, nunca antes visto na história desse país, é que uma instituição do porte da Petrobras anuncie que o vazamento será a praxe do seu relacionamento com a imprensa.

É fácil entender que, em épocas de CPI, os furos jornalísticos incomodem mais do que as investigações parlamentares, sempre sujeitas ao jogo político. Mas não é possível que a Petrobras, desconhecendo regras elementares do jornalismo e do trabalho de assessorias de imprensa, seja tão ingênua a ponto de achar que vai acabar com o furo por decreto.

A "reinvenção" do jornalismo vem à tona uma semana depois que a estatal, apesar de possuir mais de mil profissionais de comunicação em seus quadros, preferiu contratar uma empresa externa para enfrentar a CPI.

A lógica que agora move a direção da empresa parece não ser mais a da comunicação, mas a do marketing político. Nele, como vimos à exaustão nas últimas campanhas eleitorais, a imprensa precisa ser desqualificada e demonizada como inimiga política.

O que podem estar querendo, atropelando a ética dessa forma, é tumultuar e impedir a reportagem, para supostamente provar que, no jornalismo, tudo é opinião. É um erro, um abuso e um disparate – que merece o repúdio de todos.

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O QUE É INADEQUADO
Otavio Frias Filho - diretor de redação da Folha de S. Paulo

A Folha de S.Paulo considera que o teor do blog "Fatos e Dados" está na esfera de autonomia empresarial da Petrobras. Não considera adequado, porém, que questionamentos jornalísticos endereçados à empresa sejam tornados públicos por meio daquele blog antes que as respostas possam ser avaliadas e utilizadas pelos veículos que enviaram as interpelações.

***

UM MAL ENTENDIDO A SER CORRIGIDO
Ali Kamel - diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo

Todos nós que trabalhamos em redações de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e sites da internet temos a noção exata do valor de uma informação exclusiva: revelar um fato em primeira mão é um atributo da qualidade do trabalho jornalístico, que o público reconhece e valoriza. Não há "nova era" que modifique isso. Mesmo um site jornalístico, que publica notícias em tempo real, quer ser o primeiro a dar um furo, porque sabe que, se isso for uma constante, atrairá cada vez mais pessoas que buscam bom jornalismo. Isso é uma verdade aqui e em toda parte do mundo.

No trabalho cotidiano, no contato com as fontes, procura-se deixar isso bem claro, especialmente para aqueles que não conhecem a dinâmica do trabalho da imprensa, geralmente cidadãos comuns ou pequenas e médias empresas sem departamentos de comunicação estruturados. Nestes casos, explica-se também que as entrevistas fazem parte de um processo de apuração, que pode ou não levar à publicação de uma reportagem. Na maior parte das vezes, isso é bem entendido.

Quando são grandes empresas, de reputação sólida, a explicação costuma se absolutamente desnecessária: elas conhecem a seriedade dos órgãos de imprensa, sabem que o propósito deles é informar bem e não vêem problemas em guardar sigilo. Mesmo quando o assunto não é agradável, mesmo quando se trata da investigação de alguma denúncia. As grandes empresas sabem que, não havendo culpa, dolo, má-fé, basta dar as explicações.

Os problemas só acontecem quando a fonte, objeto da denúncia, não tem confiabilidade: neste caso, todo tipo de sabotagem é posto em marcha. Se houvesse uma regra geral, ela deveria ser formulada assim: quanto menos caráter e mais culpa tem a fonte, menor é a probabilidade de um órgão de imprensa, ao ouvi-la, conseguir manter a exclusividade da informação. Em muitos casos, tenta-se até a censura por meios de ações no Judiciário.

Evidentemente, esse nunca foi o caso da Petrobras, uma empresa que mantém com a imprensa, historicamente, uma relação altamente profissional, absolutamente correta, ética e desapaixonada. Neste governo e nos anteriores, prestou sempre todo tipo de esclarecimento quando solicitada, respeitando invariavelmente o princípio da exclusividade.

A Petrobras, uma empresa que detém informações estratégicas, que, por força de regulamentos, devem ser mantidas em sigilo para não privilegiar ou prejudicar investidores, sabe, como poucas, como lidar com a imprensa. Eu não posso atribuir a outra coisa senão a um brutal mal-entendido essa decisão de tornar públicas as consultas dos órgãos de comunicação antes que os mesmos façam uso das informações obtidas por meio delas.

Após a publicação da reportagem, a Petrobras e qualquer outra empresa, se assim considerar necessário, podem tornar pública a íntegra das respostas. Não há mal nenhum nisso: jornalista algum se oporá a íntegras. Antes da publicação, porém, íntegras serão sempre uma atitude de desrespeito, não a veículos específicos, mas à imprensa, uma instituição que, numa democracia, deve ser sempre prestigiada.

Mal entendidos acontecem, e são corrigidos. Não tenho dúvidas de que a Petrobras, após refletir sobre a questão, porá fim à prática.

***

O FALSO ANTAGONISMO
Ricardo Gandour - diretor de conteúdo do Grupo Estado de S. Paulo

A Petrobras – tenho convicção, não por má fé, mas por falta de compreensão e aprofundamento de um assunto complexo e contemporâneo – caiu numa armadilha conceitual que foi a de achar que a sociedade pode prescindir da edição.

Isso fica claro quando ela diz que a blogosfera permite o contato direto com as fontes de informação sem a necessidade de um filtro. É o mesmo que desistitucionalizar a imprensa.

A sociedade não pode prescindir da imprensa e dos valores da edição.

A Petrobras dá a entender que o sigilo que a imprensa precisa para uma apuração se contrapõe à transparência.

Ora, o sigilo é transitório. Ele faz parte de um método de trabalho que sustenta a construção de um contexto em uma apuração completa. Culmina na transparência total.
Criar um antagonismo entre o sigilo da apuração e a transparência é falso. E pode, em último caso, jogar a opinião pública contra a imprensa, o que não é produtivo nem para a sociedade como um todo nem para a democracia.

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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Blog da Petrobras - A discussão está apenas começando

Tenho acompanhado as discussões sobre o blog da Petrobras - Dados e Fatos e quase todas são emocionais e extremadas. Na maioria das vezes, as pessoas defendem avidamente um dos lados, como se houvesse um combate entre Petrobras e mídia. Os blogueiros, com certeza, louvam a Petrobras pela coragem e ousadia (é só entrar no blog da Petrobras para ver os comentários emocionados). Os veículos de imprensa, em bloco, dizem que o blog da empresa está agindo de forma errada, para não dizer não ética.

O editorial do O Globo de ontem mostra a gravidade dessa situação. Ele cita "O ataque da Petrobras à imprensa", veja AQUI.

Já a ANJ, publicou um comunicado chamado "ANJ se manifesta contra a Petrobras" e já abre o texto dizendo "A Associação Nacional de Jornais (ANJ) manifesta seu repúdio pela atitude antiética e esquiva com que a Petrobras vem tratando os questionamentos que lhe são dirigidos pelos jornais brasileiros". Acesse AQUI.

A Petrobrás através de seu blog, respondeu a ANJ, dizendo que "A Petrobras reafirma que, assim como os veículos de comunicação, defende a livre e ampla circulação de idéias, informações e conhecimento". Veja AQUI.

Eu ainda não vi muitos comentários das assessorias de imprensa, mas me parece que elas ainda estão tentando entender o cenário. Eles entendem o dilema da imprensa, mas também sabem que o mundo dos blogs é poderoso, crescente e um excelente canal de comunicação das empresas com o mercado e o consumidor. É um caminho inevitável. Um dia, TODAS as empresas terão um ou mais blogs, algumas já estão saindo na frente.

Edu Vasques, em seu blog Pérolas das AIs, escreveu algumas vantagens evidentes do blog da Petrobras, entre elas comunicação direta com o público e exposição de maneira clara da versão dos fatos da empresa, sem possíveis distorções da mídia. Acesse AQUI.

Por outro lado, o Azenha em seu blog Vi o Mundo, publica 10 razões porque os jornais investem contra o blog da Petrobras, sendo a primeira: porque perdem o "monopólio da informação" e, com isso, autoridade sobre o público. Veja AQUI.

A grande questão é a EMOÇÃO e o RADICALISMO existente em todas essas discussões. O grande ganhador nisso tudo é o cidadão, como eu e como você, pois a Petrobras através desse blog perturba "o sistema". E isso é saudável, independentemente do resultado final. Mas acho que a Petrobras e a imprensa saem perdendo ao manter esse clima de hostilidade, pois o desgaste é evidente e recuperar algumas relações poderá tomar tempo.

A Petrobras tem que pensar muito bem em como vai conduzir sua relação com a imprensa a partir dessa novidade do blog. Fico imaginando que devem estar rolando dezenas de reuniões internas para discutir os próximos passos. Certamente algumas das considerações abaixo devem estar sobre a mesa:

- O blog da Petrobras pode atingir centenas ou milhares de pessoas;
- Os jornais atingem milhões, diariamente.

- O blog atinge somente aqueles que procuram o blog, ou seja, é o leitor interessado que procura o blog;
- Os jornais são pervasivos, vão em todos os lugares, atingem os interessados e os desinteressados. Um título quente, na capa, como aquele "80% das compras da Petrobras são feitas sem licitação", torna um desinteressado leitor num potencial interessado, num piscar de olhos. E podemos considerar que uma boa parte dos leitores fica só no título, tirando suas próprias conclusões sem se preocupar em entender o contexto.

- O blog é um canal de comunicação da empresa, portanto, conceitualmente, parcial;
- Os jornais formam um canal de credibilidade no país e supostamente são imparciais. Eu sei que existem muitos questionamentos a respeito dessa "tal" imparcialidade dos jornais, mas vale lembrar que os jornais pagos no Brasil têm uma média de circulação diária de 8,5 milhões exemplares (dado de 2008 segundo a ANJ, ver AQUI). É muito jornal...

Enfim, acredito muito na iniciativa do blog da Petrobras, mas não como um canal de alternativo ou de 'combate" ao tradicional canal da imprensa, mas sim como um canal complementar. Desenvolver e manter bons relacionamentos com a imprensa deve ser um objetivo constante da empresa. Por outro lado, é razoável esperarmos que a imprensa seja mais equilibrada e menos emocional nas suas análises em relação a Petrobras. Imparcialidade, pragmatismo e ética tem que nortear essa relação. A sociedade agradece.

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domingo, 7 de junho de 2009

Blog da Petrobras esquenta as relações da empresa com a mídia

Sob holofotes de uma CPI que parece um vagalume, vai e não vai, a Petrobras resolveu abrir um canal direto de comunicação com o público. A empresa lançou um blog, dias atrás, após ter sido bombardeada intensamente pelos principais jornais do país, com claro destaque da Folha, do Estadão e do Globo. O nome do blog denuncia seu objetivo: Dados e Fatos. A empresa diz que esse canal vai publicar fatos e dados recentes da Petrobras e seu posicionamento sobre as questões relativas à CPI.

No dia 31 de maio, os jornais publicaram longas matérias negativas sobre a Petrobras, muitas delas ocupando várias páginas. O Globo estampou o título "Muita política e ainda pouca transparência", afirmando que a Petrobras "faz 80% das compras sem licitação". No dia seguinte, dia 1 de junho, a Petrobras publicou um comunicado de 1/2 página, no mesmo jornal, esclarecendo as afirmações publicadas no dia anterior. O comunicado me surpreendeu pela veemência e pelo tom emocional. Veja AQUI.

No dia 3 de junho entrou no ar o blog Dados e Fatos. Acesse AQUI. O primeiro post foi suave, mas já do dia 4/6 em diante o blog começou a responder aos jornais. Foi o Globo, a Folha, o Correio Braziliense e até o Programa do Jô. Vale a pena percorrer os posts e ver os comentários.

Existe um evidente clima negativo entre a Petrobras e os jornais. Hoje, o GLOBO publicou uma matéria dizendo que: "nos últimos dias, o blog quebrou a confidencialidade de perguntas enviadas à assessoria de imprensa da estatal por jornalistas dos principais veículos de imprensa do país". Leia AQUI. É difícil prever os próximos capítulos desse caso, mas não é razoável que exista esse tipo de clima entre a imprensa e Petrobras, que é a sétima maior empresa de petróleo do mundo. Esse ciclo de insinuações e acusações não é bom prá ninguém.

Por fim, nesta segunda-feira, dia 8/6, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, estará no programa Roda Viva. Com certeza vão surgir perguntas sobre o relacionamento da empresa com os jornais. É bem provável que se fale também a respeito do blog. A entrevista será transmitida ao vivo na IPTVCultura – www.iptvcultura.com.br -, canal exclusivo da Cultura para exibição na web, a partir das 18h30, e exibida pela TV Cultura, às 22h10, sem qualquer corte ou edição.

(Incluído em 08/06/09)
Faz a gente pensar o que o Idelber escreveu no blog Trezentos num post chamado "O Blog da Petrobras e o desespero da mídia". Ele disse: "a inauguração do blog tem sido tratada, pela grande maioria, como uma verdadeira revolução e, por uma minoria ligada à mídia, como uma espécie de trapaça, de alteração das regras do jogo. Se a Petrobras agora publica a íntegra das perguntas que recebe, junto com suas respostas, os jornalões vão fazer o quê? Como vão esconder a fábrica de linguiças?" ... "o blog da Petrobras é um marco".

Interessante também o post "O fim da era das perguntas em off" publicado no Luis Nassif Online. Fala que o blog da Petrobras "encerra a era das informações seletivas para compor reportagens".

Enfim, a inciativa da Petrobras é louvável e abala a tradicional estrutura de relacionamento empresas e imprensa. Agora é acompanhar para ver no que dá.

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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Brasil Foods - A empresa que alimenta o país

A compra da Sadia pela Perdigão cria um gigante da alimentação no Brasil. A BRF Brasil Foods terá faturamento de R$ 25 bilhões e 120 mil empregados. Será a maior processadora de carne de frango e a maior empresa de alimentos industrializados do planeta, a terceira maior exportadora do país e a maior empregadora privada do Brasil. Sadia e Perdigão, juntas, responderão por aproximadamente 80% do mercado brasileiro de produtos congelados, 57% do segmento de industrializados de carne e 67% das vendas de margarinas. Por outro lado, a nova empresa já nasce com dívidas de R$ 10 bilhões, sendo que R$ 4 bilhões vence em 2009. Ou seja, é uma empresa de superlativos, cujo nome representa bem o tamanho da empresa que alimenta o país. No segmento de alimentação, em tamanho, ela só perde para a JBS Friboi.

Segundo dados dos relatório anual 2008 das duas empresas, a Sadia mantinha 17 unidades industriais próprias e 12 centros de distribuição no País. Já a Perdigão operava 25 unidades industriais, 15 fábricas de lácteos e 28 centros de distribuição no Brasil. A capacidade instalada das duas empresas para abate de aves é hoje de 1,7 bilhão de cabeças por ano, e para abate de suínos é de 10 milhões de cabeças por ano. Se considerarmos a população brasileira, é praticamente 10 frangos para cada cidadão, por ano.

Estamos vivendo uma era de fusões relevantes e nada disso sinaliza que vai parar. É o Santander e Real, Gol e Varig, Itaú e Unibanco, Oi e Brasil Telecom e por aí vai. Fico sempre interessado quando dois gigantes se juntam, particularmente em ver como eles vão gerenciar as suas marcas, trabalhar o marketing e gerir a fusão de duas culturas. Isso me interessa muito e fico sempre com o radar ligado.

A Perdigão e a Sadia deram o primeiro passo direitinho.
Na manhã de 19 de maio, as duas empresas, quase que simultaneamente, anunciaram através de ações de comunicação interna a criação da nova empresa. Ou seja, os funcionários não foram surpreendidos ao ler os jornais, apesar que a boataria a respeito da negociação das empresas já rolava solta na mídia nas semanas anteriores.

As duas empresas soltaram comunicados para o mercado no próprio dia 19 de maio. No entanto, diferentemente do que aconteceu com Itaú e Unibanco, a Perdigão e a Sadia soltaram comunicados com textos e formatos diferentes, evidenciando uma falta de entrosamento entre as duas empresas. A percepção é que essa junção de empresas não será fácil.

Juntar as duas empresas não será algo tradicional. São culturas diferentes. Gaulia, em seu blog, citou as missões da Sadia e da Perdigão:
Sadia: "Alimentar consumidores e clientes com soluções diferenciadas".
Perdigão: "Participar da vida das pessoas, oferecendo alimentos saborosos, de alta qualidade e a preços acessíveis, em qualquer lugar do mundo".
Tenho que confessar, plagiando a pergunta do Gaulia, que tenho dificuldade de entender o que são soluções diferenciadas em alimentação. Olhar as missões acima mostra que existe uma diferença enorme de inspiração das duas empresas, ou então uma delas escreveu a missão de forma rapidinha...

Enfim, existem diferenças grandes entre as duas. A experiência mostra que, quando duas empresas se juntam, quase sempre o DNA de uma prevalece sobre a outra. São raros os casos de duas empresas que se juntam e criam verdadeiramente uma terceira empresa, com DNA próprio, e melhor do que as duas anteriores. O cenário piora quando a fusão diz respeito a empresas que eram tradicionalmente arqui-inimigas, desde que nasceram. Como fazer os funcionários sentarem na mesma mesa para conversarem? Como criar um clima de união se até minutos atrás valia dedo no olho e chute na canela? Alguém acredita que os funcionários da Perdigão consumiam produtos da Sadia e vice-versa? Enfim, não vai ser fácil...

Uma visita aos sites da Perdigão e da Sadia já mostra que elas são empresas diferentes. As diferenças de gestão e estrutura são conhecidas. Políticas internas de bônus, participação nos resultados e políticas administrativas são bem distintas. A Sadia mantém 23 diretores em cargos estratégicos e de decisão, já a Perdigão tem apenas dez (dados da Isto É Dinheiro). No entanto, as duas têm data de nascimento próximas. A Perdigão foi fundada em 1934 e a Sadia em 1944.

O assunto da "fusão", por enquanto, está no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Caberá ao Cade aprovar ou não a união das empresas. Até que seja conhecida a decisão, o que pode demorar até 2010, as marcas das empresas continuarão separadas. É bom lembrar que existem outras marcas conhecidas dentro dessa nova empresa, como Batavo, Elegê, Doriana e outros. À primeira vista, parece inteligente manter as marcas Sadia e Perdigão, já que ambas ocupam posições de destaque nos principais rankings de marcas mais valiosas no Brasil. Saber trabalhar com essas marcas poderá ser um diferencial estratégico importante. Um bom exemplo disso é a AMBEV, que trabalha muito bem as marcas Brahma, Skol e Antartica, entre outras.

Uma coisa é certa. As duas empresas têm linhas de produtos muito parecidas, existe uma clara sobreposição. O nível de endividamento é assustador e a sinergia das operações é evidente. Eficiência operacional e ganhos de escala e sinergia serão prioridades evidentes. Ao juntarmos tudo isso, verificamos que os cortes de pessoas serão inevitáveis. É uma conclusão mais que do que óbvia.

As duas empresas trataram logo de colocar um filme institucional no ar, estrelado por Marieta Severo, que passa credibilidade e confiança ao principal cliente da BRF, a dona de casa. Aliás, a Dona Fernanda, dona de casa e minha mãe, já disse que os produtos da Perdigão são melhores que os da Sadia. Dona de casa sabe das coisas. Eu sou fã da salsicha hot-dog da Sadia.

Vamos acompanhar a união do "Se é de coração, é de verdade" da Perdigão com "Por uma vida mais gostosa" da Sadia. Ou, se você preferir, com a "Nem a Pau, Juvenal". Aliás, será que o Juvenal vai sair de cena?


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