No dia 15/6 o programa "Notícia em Foco" da CBN conduziu um painel, ao vivo, com o título: "O risco de o papel do jornalismo de fiscalizar o poder e denunciar abusos estar ameaçado". Participaram do debate dois jornalistas experientes e conceituados: Clóvis Rossi e Eugênio Bucci.
Eu não gostei do tema do painel pois vivemos a época de maior abertura e liberdade de opinião no país. As novas tecnologias, como blogs e redes sociais, vêm alavacando ainda mais esse ambiente aberto de debates e troca de ideias. Acho que não faz sentido essa discussão de cerceamento do jornalismo pois existem temas muito mais relevantes e interessantes para debater. O que realmente me fez continuar acompanhando o painel foram os momentos de conversa a respeito do jornalismo versus novas mídias.
Eis 3 flagrantes que pincei do debate:
Momento 1: (aos 13min00seg)
Num determinado instante, um dos jornalistas entrevistados disse que tinha 3 restrições fundamentais em relação aos blogs. Abaixo você encontra alguns fragmentos:
1- O blog: "é basicamente uma conversa de nós com nós mesmos"; "não é um diálogo"; "é um monólogo"; "é o contrário da pluralidade"; "não é um debate de ideias".
2- a segunda restrição eu não entendi. Já ouvi várias vezes e não entendi o que o jornalista quis dizer. Agradeço quem me esclarecer.
3- "Se um blog me recomendasse, no ano passado, que investisse no banco Lehman Brothers, quem é que eu processaria se eu realmente seguisse esse conselho?"
Momento 2: (aos 23min46seg)
No meio da conversa surgiu uma pergunta: "Quem paga os blogs?"
Momento 3: (aos 40min15seg)
A conversa entrou no assunto blog da Petrobras e um dos jornalistas disse achar um absurdo a Petrobras ter contratado pessoas e agências para ajudar a empresa a enfrentar a CPI. Ele disse: "O fato de ter se mobilizado dessa maneira para enfrentar uma CPI, que é uma coisa que deveria ser corriqueira e banal se a empresa é sólida. Se a empresa é séria, ela vai passar no teste e até sair reforçada. Toda essa mobilização é que me fez desconfiar do que eu não desconfiava antes, que a Petrobras tem alguma coisa para esconder".
Eu tenho algumas observações a respeito.
O painel seria muito rico se os organizadores tivessem convidado um blogueiro sério para participar do debate. Isso daria a pluralidade que eles tanto comentaram ao longo da conversa. Por não ter um contra-ponto, a conversa acabou ficando tendenciosa e mais do mesmo.
Eles entraram em assuntos que não dominam. Por exemplo, um dos jornalistas disse estranhar a mobilização da Petrobras frente à CPI. Essa visão é típica de quem nunca trabalhou em comunicação empresarial. Eu nem vou perder meu tempo aqui citando o quanto uma crise impacta uma empresa, especialmente uma do porte da Petrobras. Eu já enfrentei várias crises nas empresas onde trabalhei, numa delas eu passei pela experiência de ter a empresa citada numa CPI (foi bem de leve e nada parecido com a Petrobras) e sei bem o que isso afeta os negócios e o relacionamento da empresa com seus colaboradores, clientes e sociedade como um todo, especialmente imprensa.
O painel da CBN serviu para reforçar uma das percepções que tenho: alguns jornalistas ainda têm dificuldade de entender e lidar com as novas mídias. Eles discutiram também a respeito do futuro do jornalismo, e isso foi bom. Foi dito que as mídias sociais não vão acabar com o jornalismo. O que existe, na verdade, é um desafio de modelo de negócio para as mídias que hoje dependem do jornal impresso.
Acesse AQUI o debate inteiro (tem intervalos de comerciais e notícias no meio).
2 comentários:
Mauro, tudo bem?
Te enviei um email (thalespaoliello@tamer.com.br). Sou leitor do seu blog e gostaria que você participasse do meu com um artigo. Quando puder me responda. Abraços, Thales Paoliello
Mauro, ouvi 3 vezes e o pouco que entendi da segunda restrição entendi que o estudante na carta afirmou que o jornalista, por ter crticado os estudantes afirmando que hoje não há mobilização/protesto, é um dinossauro fora do tempo e nenhum pouco adaptado com as novas mídias e que hoje os protestos se dão virtualmente, sem fazer baderna na rua e o jornalista afirma no programa que aqueles que nao protestam na rede, fazem aquilo que o estudante critiva, protesto/baderna na rua. Mas eaí, o que ele quiz dizer com isso? Que o blog mudou esta cultura e que se os blogs existissem em 1992, talvez Collor não tivesse sido deposto?
Primeira restrição: blog é sim pluradidade, diversidade, diálogo, debate de idéias em nichos, cada um na sua área tratando daquilo que conhecem, há critícas sim, poucas mas há. hehehe
Terceira: Blog não é consultoria, mas entendi o que ele quiz dizer, que blog não tem credibilidade,por não ser possível uma responsabilidade criminal sobre os conteúdos abordados. Claro que por não haver uma legislação especifica para a internet, essa afirmaçao é bem plausivel, contudo há a filtragem do leitor e acredito que também haja responsabilização judicial em casos de má fé ou difamação. Será que existe mesmo?
Abraços,
Mateus d'Ocappuccino
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