segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Seu futuro emprego nem existe ainda


Num sábado passado, numa corrida matinal na praia, eu perdi a chave de casa. Imediatamente fui num chaveiro próximo para fazer uma cópia da chave da minha esposa. Entrei no pequeno espaço e fui prontamente atendido. Havia três pessoas esperando por algum serviço. Em apenas cinco minutos o chaveiro me entregou a cópia da chave.

Daí em diante seguiu o diálogo abaixo:

- Você foi rápido, hein? Eu acho que antigamente demorava mais tempo – comentei.
- É, agora está mais rápido – respondeu o chaveiro.
- Daqui a pouco nós não vamos mais precisar vir aqui. Vamos imprimir nossas chaves numa impressora 3D que todos vão ter em casa – interferiu um senhor perto de nós.

O chaveiro sorriu, e respondeu:
- Eu já li sobre isso. Acho que vou precisar comprar uma. Será que vai substituir a máquina que uso hoje?
- Pra que? Daqui a pouco a gente nem vai precisar mais de chave para abrir as portas – exclamou um adolescente encostado na porta do local.

O chaveiro virou o rosto interrogativo, mostrando surpresa. A esposa do chaveiro, que estava na parte de trás da parede, surgiu de repente para acompanhar a conversa.

O adolescente levou o indicador e falou:
- Sabe o dedo que nós colocamos na máquina do banco para tirar dinheiro? Estou falando da impressão digital. Vai ser assim daqui a pouco.

O chaveiro respondeu:
- Mas precisa de energia para funcionar, né? E quando faltar luz?

Todos riram. Aí eu comentei:
- Eu acho que vai ser mais do que impressão digital. A gente vai chegar em frente da casa e vai dizer assim: Casa, cheguei! E aí a porta vai abrir automaticamente porque vai reconhecer a minha voz.

O chaveiro sorriu e respondeu:
- Ainda vai precisar de energia.

Aproveitei para falar que ao longo dos próximos anos surgirão os assistentes virtuais nos nossos smartphones e em outros aparelhos, que nos ouvirão, conversarão conosco e até nos darão conselhos. Como todos me olhavam intrigados e curiosos, gastei mais dois minutos para falar sobre o conceito do IBM Watson, de inteligência artificial. Minha percepção é que todos encaravam aquilo como algo distante ou como ficção científica.

Para demonstrar algo simples, peguei meu smartphone e entrei no Google. Ativei a pesquisa por voz e coloquei as pessoas para falarem. Todos ficaram maravilhados com as respostas perfeitas do Google a partir do que falavam. Ninguém sabia que aquilo já existia.

Neste momento, o chaveiro ouve um sinal em seu smartphone. Ele pega o aparelho no balcão e o vejo digitando algumas coisas. Dois minutos depois ele me mostra a tela. Ele estava trocando mensagens no WhatsApp com alguém que perguntava se ele tinha determinado modelo de chave para fazer cópia. Tratava-se de uma chave de um carro importado. No WhatsApp do aparelho aparecia a imagem da chave que o cliente havia enviado. Isso colocou pimenta na conversa sobre tecnologia.

Com todos encantados, vi que era hora de partir e fui!

Isso tudo aconteceu de fato. Uma pequena situação cotidiana que traduz as transformações que passamos diariamente. Todas as profissões existentes no mundo estão passando por mudanças profundas. Existem previsões de todos os tipos, algumas apocalípticas e outras menos radicais, mas o fato é que o mundo ao redor exige novas competências e conhecimento para todos os profissionais.

A tecnologia assume papel protagonista em quase todas as situações. É evidente que as pessoas têm que adotar um papel diferente em relação às novidades tecnológicas. Em vez de reagir e olhar o lado vazio do copo, elas devem procurar entender, aprender e adotar tais tecnologias em seu cotidiano. Porém, infelizmente, a prática mostra que a maior barreira na adoção das novas tecnologias são as próprias pessoas. Algumas alegam falta de conhecimento, dificuldade em lidar com mudanças e até falta de tempo, que me parecem desculpas exageradas. Aliás, a falta de tempo não é uma desculpa aceitável em qualquer situação.

Existem muitas análises e estudos a respeito da inteligência artificial e da computação cognitiva. Todos falam sobre isso atualmente. O que antes era pura ficção científica, agora parece bem real. O futuro está cada vez mais próximo. Mas será que a inteligência artificial poderá realmente superar a capacidade de raciocínio do ser humano? Será que as máquinas vão mesmo roubar nossos empregos?

A discussão de máquinas roubando empregos dos seres humanos não é nova. Desde a revolução industrial que esse tema é discutido. A verdade dos fatos é que a tecnologia criou mais do que ceifou empregos nos últimos dois séculos. A chegada da eletricidade, da água encanada, das comunicações, da computação, da medicina avançada, dos transportes e muitas outras tecnologias transformadoras fizeram o mundo mudar completamente. Nossos trabalhos e empregos são muito mais divertidos e nobres do que aqueles de nossos antepassados.

O que vem por aí ninguém sabe, mas dá para especular. Máquinas com algoritmos complexosconseguem escrever histórias melhores do que jornalistas experientes. Carros conectados e autônomos nos conduzirão com mais segurança que os motoristas atuais. A comunicação instantânea e multicanal praticamente nos isenta da comunicação escrita em papel, impactando todo o setor de correios. Sistemas cognitivos já são capazes de diagnosticar pacientes com câncer com mais precisão do que os próprios médicos, por conta do big data e análise avançada de dados. Cada vez mais decidimos nossas viagens através de recomendações colhidas na internet, de amigos ou não, diminuindo as nossas idas aos agentes de viagens. A lista de mudanças nas profissões é enorme e muda a todo momento. Muitas delas têm futuro incerto e previsões ameaçadoras.

Robôs deixaram de ser ficção científica. Cada vez mais surgem pesquisas sobre as profissões ameaçadas pelo surgimento dos robôs. Esqueça a imagem dos robôs como seres de lata, aqui estamos falando de máquinas que pensam e agem como seres humanos, alguns podem até ter a forma parecida com a forma humana, mas não necessariamente. No livro "The Second Machine Age" (A segunda era das máquinas, em tradução livre), bestseller lançado no ano passado, os autores Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, ambos do MIT, afirmam que vivemos uma revolução mais intensa que a revolução industrial do início do século passado. Eles dizem que vivemos um ponto de inflexão: uma virada na curva onde muitas tecnologias que só eram encontradas na ficção científica estão virando uma realidade cotidiana.

O jornalista David Baker, notório palestrante sobre o futuro do trabalho, costuma dizer que os robôs substituirão grande parte das carreiras que conhecemos hoje. E isso vai acontecer mais breve do que imaginamos. Uma pesquisa realizada em 2014 pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, chamada "O Futuro do Emprego", analisou as perspectivas de 702 profissões. Segundo o estudo, o operador de telemarketing é o profissional mais ameaçado, com 99% de chances de perder seu emprego. Ao olharmos a pesquisa, basicamente ninguém escapa da onda transformacional. No entanto, da mesma maneira que robôs destroem empregos, eles fazem aparecer outros. David Baker acredita que os robôs permitirão que os seres humanos tenham uma vida mais confortável, gerando mais bem estar para humanidade.

Olhar as mudanças pelo viés dos empregos é somente um lado do cubo. Existe outro lado tão impactante quanto ameaçador: as empresas. Um estudo recente da Cisco afirma que a disrupção digital provocará um tsunami no mundo dos negócios nos próximos cinco anos. O relatório estima que 40% das empresas tradicionais não resistirão por não conseguirem remodelar seus modelos de maneira rápida suficiente para acompanhar as transformações de mercado. Os números e as conclusões do estudo são perturbadores.

Em resumo, se você está preocupado com o futuro do seu emprego, tenha consciência de que a onda que vem por aí é muito maior do que você imagina. Algumas pesquisas indicam que mais da metade dos universitários de hoje terão no futuro empregos que ainda são desconhecidos ou nem existem. Trate de preparar a sua prancha. Estude, evolua, se sacuda, trate de desenvolver novas competências e conhecimento, não se acomode no seu emprego e analise se a empresa onde trabalha está realmente se transformando para o futuro. O tsunami vem por aí. A onda vai pegar você. Você pode ser atropelado por ela ou surfar a maior onda da sua vida.


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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

E aí, CEO, topa encarar as mídias sociais?


Semanas atrás eu almocei com um amigo que comanda a área de comunicação de uma grande empresa. No meio do papo, ele falou que puxou conversa com o presidente da empresa para que ele entrasse nas mídias sociais. O bate-papo durou apenas alguns segundos porque a resposta do executivo foi: "eu não tenho interesse pessoal nisso". A resposta foi lacônica e inibidora para qualquer continuidade de diálogo.

A resposta desse executivo é um dos maiores equívocos que muitos executivos pensam a respeito das mídias sociais, especialmente os presidentes de empresas. O fato de estar presente numa mídia social não é apenas um fator de interesse pessoal para um CEO de empresa, muito menos de algo relacionado a ego, buscar popularidade, se tornar celebridade ou apenas estar lá porque todos estão. Vai muito além disso.

Pesquisa da Weber Shandwick revelou que 45% da reputação das empresas depende diretamente da reputação de seus CEOs. Na mesma pesquisa, os executivos entrevistados disseram que pouco menos da metade (44%) do valor de mercado da empresa é atribuído à reputação do seu CEO. No Brasil, este índice é ainda maior: 55%. A tendência é que estes números cresçam nos próximos anos. O estudo "The CEO reputation", publicado em 2015, foi resultado de mais de 1,7 mil entrevistas com executivos seniores em 19 países, incluindo o Brasil. A pesquisa mostrou que o engajamento público do CEO é essencial para construir a reputação da empresa, além de sua própria reputação como líder. O documento examina as melhores práticas de engajamento de CEOs conhecidos e apresenta uma espécie de "Guia do CEO" para reputação e engajamento.

Existem várias características que agregam valor à reputação de um CEO. Ser bom porta-voz interno e externo, ser transparente, ser acessível, autêntico, ser bom ouvinte e gostar do diálogo são algumas delas. Uma das iniciativas mais apreciadas pelos entrevistados na pesquisa foi a participação dos CEOs como palestrantes em eventos de mercado. Para os que se interessam pelo tema, eu recomendo fortemente a leitura deste estudo. Têm informações valiosas que geram boas reflexões e alguns insights para os que trabalham com isso.

Na era da conexão total, seria razoável imaginar uma maior adoção das mídias sociais como ferramenta de engajamento dos CEOs com os diversos públicos que formam a roda de influência de qualquer empresa. Surpreendentemente, um estudo da CEO.com mostra que 68% dos Fortune 500 CEOs têm presença ZERO nas principais mídias sociais, incluindo Twitter, Facebook, Instagram, Google+ e até Linkedin. Vale a pena ver o infográfico do estudo da CEO.com e descobrir que os líderes das 500 maiores empresas norte-americanas não estão presentes e ativos no mundo das midias sociais. Cerca de 8,5% dos 500 CEOs estão ativos no Twitter, sendo que 69% deles postaram pelo menos uma vez nos últimos cem dias.  E 25,4% deles têm conta no Linkedin. Apenas 8,3% têm conta no Facebook. Os números de participação nos últimos anos têm aumentado, mas ainda timidamente.

Se você deseja ir um pouco mais além nesta questão da atuação do CEO nas mídias sociais, recomendo também o estudo "Socializing Your CEO III: From Marginal to Mainstream". Este estudo conclui que houve uma aceleração da presença online dos CEOs em 2015, sugerindo que esses líderes já estão encontrando uma forma equilibrada de participação nas mídias sociais. Na parte final eles apresentam nove dicas de como aumentar o engajamento dos CEOs no mundo online.

As mídias sociais formam a maior plataforma de diálogo na sociedade: é um ambiente democrático, extremamente colaborativo e de grande alcance. Por outro lado é um território de grande exposição, de difícil domínio e controle, imprevisível e desconfortável para as áreas de relações públicas das grandes empresas. Portanto não é difícil entender o desconforto dos CEOs com as mídias sociais. Eles têm seus motivos e muitos deles são perfeitamente razoáveis.

Anos atrás eu publiquei um estudo apresentando as razões por que os executivos não blogavam e não participavam das mídias sociais. Acredito que uma boa parte desses motivos continuam atuais. Vários CEOs com quem conversei pessoalmente disseram-me que têm uma grande sensação de perda de tempo quando estão nas redes sociais, além de distração e ter que lidar com temas irrelevantes. Compartilho desses sentimentos. Queiramos ou não, as mídias sociais têm uma enorme capacidade de nos tirar do foco. Por outro lado, é inquestionável que as redes sociais podem trazer benefícios reais para a liderança de qualquer organização.

Enfim, na era da colaboração e transparência totais, os CEOs estão mais do que nunca com a responsabilidade de olhar e engajar com todos os públicos, seja pelo meio que for, o importante agora é abrir a agenda e investir no diálogo. E não dá para delegar.
 

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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sua marca está pronta para os podcasts?


Existe algo acontecendo no território dos podcasts. Segundo a Pew Research Center, o consumo de podcasts nos Estados Unidos teve uma aceleração nos últimos dois anos. O número de ouvintes tem aumentado ao mesmo tempo em que novos podcasts são lançados, bem como o cresce também o número de downloads. Os avanços na tecnologia, com destaque para o rápido avanço do uso de smartphones e dispositivos móveis, além da maior conectividade dentro dos carros, têm contribuído para o aumento do interesse por podcasts.

Outra pesquisa, desta vez da Edison Research, concluiu que os podcasts estão ganhando preferência em relação às outras mídias, especialmente em relação às rádios AM/FM. E quem escuta podcasts passa mais tempo conectado a eles do que nas outras mídias de áudio. A pesquisa apontou que quase 13 milhões de norte-americanos ouvem podcast todos os dias e quase 40 milhões ouvem pelo menos uma vez por mês.

No ano passado, a mídia podcast alcançou um marco histórico nos EUA. A série Serial tornou-se o podcast que chegou mais rapidamente aos 5 milhões de downloads e streams na história do iTunes. Lançado em 2014, conta a história do assassinato de uma estudante em Maryland. A história dramática caiu no gosto do povo e virou febre entre os americanos. Desde então, é coberta pelos principais canais de comunicação do país, criando um momento mágico para o mundo dos podcasts. A segunda temporada de Serial já foi anunciada para 2016.

"This American Life" é provavelmente o podcast mais popular e conhecido no mundo, sendo constantemente o de maior número de downloads no iTunes. Cada programa ultrapassa rotineiramente a marca de um milhão de downloads. Existem outras evidências do sucesso crescente dos podcasts, como foi o caso do famoso WTF (abreviação de "What the fuck?"), comandado pelo espirituoso Marc Maron. Olha a moral do cara: Barack Obama foi à casa do podcaster para ser entrevistado pessoalmente. Aliás, vale muito escutar a entrevista, especialmente o início, quando Marc entra em delírio não acreditando que o presidente dos Estados Unidos está na garagem da casa dele. É muito divertido.

Se você deseja conhecer os melhores podcasts dos EUA, recomendo acessar o post "The 30 Best Podcasts Right Now" de Damien Scott, ou então o post "9 Podcasts That Will Make You Smarter", publicado no Business Insider. Essas são duas boas análises de podcasts que são campeões de audiência no país.

O interesse de agências e anunciantes

O sucesso dos podcasts tem chamado a atenção dos anunciantes e das agências, que estão investindo mais neste tipo de mídia, porém ainda de forma cautelosa. Existem algumas razões para tanta cautela. A primeira é o tamanho da audiência. Podcasts, em geral, não atraem as grandes audiências que as marcas tanto perseguem, apesar de os números nos EUA serem impressionantes. Outros pontos que incomodam aos anunciantes são a falta de dados detalhados sobre a mídia e a dificuldade de se fazer anúncios mais criativos.

Por outro lado, a ascensão dos podcasts tem razões bem fortes e consistentes. A primeira é que os podcasts de hoje são simplesmente muito melhores do que no passado. A produção está mais esmerada, com edições cuidadosas e tratamento de áudio caprichado. Outro forte motivo para o crescimento dos podcasts é o fator econômico. A produção de um podcast mediano custa muito menos do que a produção de um programa de TV ou um programa de rádio. Com microfones, um software de edição e um serviço de hospedagem na web é possível produzir e distribuir um podcast. Tem muita gente nova produzindo podcasts. Além disso, matéria da New Yorker afirma que as taxas de retorno de publicidade em um podcast de sucesso é maior do que em outras mídias. Mas, segundo alguns podcasters norte-americanos, a maior razão do crescimento dos podcasts não tem nada a ver com os próprios podcasts. São os carros.

Um dos segredos para o sucesso do rádio sempre foram os ouvintes se deslocando pelas cidades e ouvindo rádio. Estima-se que 44% de toda a audiência de rádio nos EUA ocorra dentro de carros, cujos ouvintes são cativos: eles sintonizam por longos períodos por viagem e, por isso, são muito valiosos para os anunciantes. Porém, há algo mais se passando dentro dos automóveis. Cada vez mais as pessoas desligam os rádios e se conectam à internet dentro dos cubículos. A chegada dos carros conectados, a facilidade de se ouvir podcasts em qualquer dispositivo móvel e uma mudança geracional evidente, tudo isso vem transformando as opções de entretenimento e informação dentro dos carros e transportes em geral. Os anunciantes já estão atentos a essa nova tendência.

Um ponto a ser mencionado é a atenção do ouvinte. Diferentemente de outras mídias, quando a atenção do consumidor está dividida, no podcast o consumidor está imerso e dedicado para aquela mídia. Ele pode estar ouvindo dentro do carro, com um fone enquanto está andando, correndo ou dentro de um ônibus ou até mesmo sentado diante de um computador trabalhando. Em todos os casos, a atenção é total, quase sem dispersão. Isso explica a enorme capacidade de transmissão de mensagem oferecida pelos podcasts.

Podcasts que cobrem temas específicos atingem públicos específicos. Nesses casos, a audiência se sente parte de comunidades de interesse e de um clube fechado. Diferentemente dos vídeos publicados na web, que precisam ser curtos e mais objetivos, o podcast pode ser muito mais longo, oferecendo um espaço enorme para discutir em profundidade qualquer tema. Os ouvintes de podcasts são muito mais engajados nos conteúdos do que os consumidores tradicionais de outras mídias. Também são mais leais, mais entusiasmados e ficam muito gratos quando uma empresa investe num podcast – ou seja, surge um sentimento de gratidão pela marca por ela apoiar algo que ele aprecia. Essa possibilidade de conversar diretamente com grupos segmentados, que tem grande engajamento, pode ser uma oportunidade mágica para o marketing e comunicação dos anunciantes.

Um excelente artigo publicado na Fast Company, com o ousado título "The Future of Media is Podcasting", faz um raio-x sobre podcasts e apresenta os caminhos da monetização que os podcasters norte-americanos estão buscando. As alternativas não se resumem a publicidade, mas também a outras formas como assinaturas, eventos, colaboração espontânea e criação de subprodutos. Existem histórias de sucesso, como o já citado WTF, no qual 10% de seus ouvintes já pagam um mensalidade para serem membros premium do "clube", além de vendas de CDs e DVDs com coletâneas de episódios passados, livros, uma loja virtual com vendas de posters, canecas, camisas e outros produtos com a marca WTF. Mas o crescimento dos podcasts certamente exige uma mudança radical na forma como podcasters e o mundo da publicidade se relacionam.

Já existem algumas grandes marcas de olho nessa nova "velha" mídia. Nos EUA, a GE lançou o podcast "The Message", que é uma série de oito capítulos contando uma história de ficção científica. A aceitação tem sido excelente e a série já ocupa posição de destaque no ranking do iTunes. O artigo "Big Corporate Sponsors Could Change Podcasting Forever", publicado na Wired, apresenta uma análise interessante sobre essa tendência e o propósito da GE no projeto.

E no Brasil?

Aqui no Brasil não existem pesquisas que mostrem detalhes. Faltam números oficiais. A pesquisa que conheço é a PodPesquisa 2014, que apresenta alguns números interessantes, mas que não permite compararmos o consumo de podcasts com outras mídias. Também falta visibilidade do número de downloads e segmentação da audiência.

Mesmo sem dados oficiais no País, é fácil concluir que o consumo e interesse por podcasts tem aumentado substancialmente. Alguns sinais evidentes mostram que mudanças estão acontecendo. Podcasts como Nerdcast e Café Brasil têm larga audiência, produção caprichada e anunciantes. Tais sucessos permitem que seus idealizadores desdobrem os podcasts em outros produtos que podem ser monetizados. O Brainstorm#9 vem investindo na sua família de podcasts, mantendo o excepcional Braincast, mas lançando vários outros podcasts que já caíram no gosto do povo, como o excelente Mamilos. O investimento do B9 em novos podcasts é uma evidência do futuro que eles avaliam para essa mídia. Podcasts de vida longa e que já viraram referência, como o conhecido RapaduraCast que cobre cinema, continuam com sua fiel audiência. Podcasts com foco em temas específicos, como o BeerCast que fala sobre cervejas, são muito interessantes. Os que falam sobre temas gerais, como TemaCast e NaPorteiraCast tem suas audiências cativas, não tão grandes, mas altamente engajadas. Enfim, existem muitos podcasts legais no Brasil, muitos realizados na base da raça e da paixão de seus criadores e associados. Estima-se que no Brasil existam quase mil podcasts ativos. Tudo isso é bacana, mas como monetizá-los?

Os anunciantes, especialmente aqui no Brasil, ainda não acordaram para a mídia podcast. Existe o mito de que podcasts são consumidos essencialmente por nerds. Já foi assim no passado, mas atualmente essa é uma percepção equivocada. É natural que o consumo de podcasts seja maior pelo público mais jovem, que não consome TV e rádio como as gerações mais velhas, mas não se iluda: a mídia podcast está pegando todo mundo. Vários dos podcasts que citei acima tem uma audiência eclética, formada por empreendedores, gestores de empresas, trabalhadores de todas as idades e perfis, acadêmicos, estudantes, etc.

A maioria dos podcasts existentes segue o formato de "conversa de mesa de bar", ou seja, junta uma galera para conversar descontraidamente sobre algum assunto. Esse formato é massivamente repetido, inclusive nos novos podcasts que seguem sendo lançados. No entanto, alguns podcasts criaram modelos próprios, como o Café Brasil onde o idealizador Luciano Pires conversa com o ouvinte de ponta a ponta, numa narrativa sempre muito bem construída, misturada com músicas nem sempre tradicionais que ele garimpa pessoalmente e com tempo de duração menor que 30 minutos. Outro formato super interessante é o magnético podcast Escriba Café, onde o criador Christian Gurtner narra histórias misteriosas com mágica dramaticidade, uma produção de áudio caprichada e envolvente. Na época em que falamos do sucesso de Serial nos USA, cabe dizer que o Escriba Café já vem fazendo isso aqui em Terra Brasilis desde 2005. Os dois citados são projetos de longa data, reconhecidos na podosfera, mas surgem alguns projetos bem inovadores, como por exemplo o Projeto Humanos, um podcast lançado em 2015 com um formato de narrativa que mistura entrevista com histórias reais, contadas por pessoas reais, que você começa a ouvir e não consegue parar mais. Outra novidade é o GVCast, um podcast de entrevistas com convidados que foi lançado em setembro. Nesta linha também cito o excelente LíderCast, lançado no ano passado, que também segue o formato de entrevistas, porém com foco em liderança. Em resumo, tem gente fazendo coisas bem legais, diferentes e inovadoras.

Evidenciando que o momento dos podcasts é especial, um dos principais e mais acessados blogs do país, o "Não Salvo", lançou o podcast "Não Ouvo". No anúncio feito em agosto deste ano, o blog disse que estava atendendo uma demanda de muitos ouvintes que já pediam há anos o lançamento de um podcast exclusivo do blog. Este é apenas um exemplo, mas basta uma simples pesquisa para descobrir que blogs e veículos de comunicação estão lançando podcasts como complemento de suas plataformas.

O futuro


Há 10 anos a Apple trouxe o podcasting para o iTunes. Durante todo esse tempo o iTunes reinou soberano no território dos podcasts. Porém, recentemente, o Google Music e o Spotify anunciaram que em breve terão podcasts. Estas são notícias espetaculares para o mundo podcast pois o Android domina o mercado de dispositivos móveis e o Spotify tem um público imenso. Recentemente, o Deezer lançou o seu serviço de podcasts no Brasil, que pode ser acessado por qualquer pessoa, mas os usuários premium, que pagam uma assinatura mensal, possuem a vantagem do suporte offline, que permite ouvir seus podcasts favoritos mesmo quando estiver sem Internet. Acredito que estamos diante de um salto gigantesco no consumo da mídia podcast.

Apesar de todo esse interesse por podcasts, a percepção é que os anunciantes e as agências ainda não reconhecem o potencial dessa mídia e não sabem como inclui-la em seus planos de marketing. Falta também entender o perfil do típico ouvinte de podcasts. Quem ouve podcasts rotineiramente é um consumidor diferenciado, mais complexo e mais bem preparado. É um indivíduo que busca informação mais dirigida e mais profunda, provavelmente um reverberador mais ativo dentro de sua rede de relacionamento e um influenciador de maior qualidade. Como esse é um público que não consome TV e rádio, a mídia podcast passa a ser uma alternativa super interessante e complementar para a estratégia de marketing das marcas.

O potencial dos podcasts para as empresas não é somente patrocinar podcasts já existentes, mas até mesmo criar podcasts novos para os fãs de suas marcas ou para se posicionar no mercado. Também é possível ir além do uso publicitário: vejo os podcasts como uma ferramenta espetacular para capacitação e comunicação interna dentro de empresas com milhares de funcionários.

Um dos desafios existentes no Brasil é que a maioria dos podcasts surgiu como hobby, por pessoas apaixonadas pela mídia, mas que não conhecem bem o mundo do marketing e comunicação das empresas. São pessoas que iniciaram seus projetos como diversão e com o propósito de conversar sobre os assuntos que elas adoram. Essa dificuldade de transformar seus projetos em algo que possa ser monetizado ainda é uma grande barreira para os podcasters. Faltam canais de acessos aos grandes decisores de marketing, que ainda carregam preconceitos e percepções equivocadas em relação a essa mídia. Também faltam aos podcasters a capacidade de oferecer alternativas e opções de formatos inovadores que sejam interessantes para as marcas.

Em resumo, existe uma ponte a ser cruzada. No momento em que as agências e as marcas descobrirem que existe um tesouro a ser desenterrado, certamente teremos uma explosão no consumo de podcasts no Brasil. E aí? Rola um café?


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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

As mídias sociais que mais gosto

Recentemente me perguntaram como uso as mídias sociais e as que mais gosto. Não sei bem o motivo, mas tem gente que acha que eu sou um especialista no assunto. Não sou não.

Eu comecei a consumir mídias sociais lentamente. Em todas elas eu entrei como mero observador para ver o que se passava. Minha primeira experiência foi com o falecido Orkut, que foi bem traumática, porque foi uma mídia que nunca me fisgou pois nunca vi um propósito claro no seu uso.

Com o passar do tempo eu fui entendendo a dinâmica das principais redes. Também aprendi que as mídias sociais podem sugar todo o seu tempo se você não souber trabalhar com elas. Algumas ganharam importância ao longo do tempo, enquanto outras foram perdendo valor e deixando de ser interessantes para mim.

Se você procura as mídias sociais como um canal para desenvolver o seu perfil profissional, acredito que o Linkedin é a rede mais importante nos dias atuais. O Linkedin deixou de ser somente uma rede social de recrutamento e emprego, agora é um canal de produção de conteúdo e netwotking valioso. Se você busca entrenimento, aí as opções são bem mais diversas. E, vale dizer que independemente do uso, o Facebook é a mídia de maior impacto em qualquer cirscuntância. O crescimento e números do Facebook impressionam.

Compartilho abaixo a avaliação e meu uso de algumas mídias sociais. Trata-se de uma avaliação bem pessoal.

É a mídia social que mais curto no momento. Acompanho algumas comunidades com regularidade onde sempre consigo achar bom conteúdo. Também conheço muita gente legal por aí. Consumo o Linkedin por todos os meios, mas preferivelmente pelo notebook. Gosto de parar 10 a 15 minutos por dia para navegar por lá em busca de bons posts e debates. Da mesma maneira que consumo, eu também gosto de compartilhar conhecimento e minhas percepções sobre comunicação, marketing e o mundo do trabalho. Faço isso de duas formas. Primeiro publicando dois ou três posts curtos por dia fazendo menções a notícias que leio, quase sempre é uma frase apenas apontando para um link. E, segundo, publicando um post longo e caprichado, de minha autoria, tentativamente a cada duas semanas.
 br.linkedin.com/in/maurosegura

Estou me cansando do Facebook. Tenho que estar lá porque todos estão, mas tem muita coisa desinteressante aparecendo na minha timeline, mesmo considerando que eu estou sempre limpando e mudando os ajustes para melhorá-la. A rede deixou de ser espontânea, muito do que chega a mim vem de algoritmos que privilegiam a publicidade e o conteúdo patrocinado. Eu tenho duas contas no Facebook. Uma conta pessoal que eu uso para ver abobrinhas, as vezes aparece alguma coisa interessante. Uso quase sempre via smartphone, entre uma atividade e outra do dia. Já tentei publicar algumas coisas mais sérias, mas não senti um ambiente legal para conversar com as pessoas. É tudo muito efêmero nessa rede. A outra conta que tenho é a do meu blog AQO - A Quinta Onda - que eu uso para postar as matérias, notícias e estudos que considero relevantes. Tento publicar 2 ou 3 posts por dia. A audiência dessa minha página parece estagnada, está com pouco mais de 2.400 curtidas.
www.facebook.com/aquintaonda/

Essa mídia já teve o seu reinado na minha rotina. Eu entro uma vez por dia, normalmente via Hootsuite para dar uma olhadinha na timeline. É comum eu me interessar por alguns tweets, onde sempre descubro algo novo. Antigamente eu ficava paranoico por percorrer toda a timeline com receio de ter perdido algo importante, mas eu desencanei, hoje é impossível acompanhar a timeline. O volume de conteúdo é grande. Atualmente eu costumo postar dois ou três tweets por dia.
twitter.com/maurosegura

Não tenho regularidade no uso e raramente publico alguma coisa. No entanto o meu interesse vem aumentando. Cada vez mais encontro bom conteúdo e sinto que estou prestes a incluir o YouTube na minha rotina. De vez em quando eu acesso canais do YouTube na minha TV de casa, substituindo programas tradicionais de TV. A verdade é que o YouTube já é um campeão de produção de conteúdo profissional, entretenimento e inovação. Não dá para ficar fora do YouTube.
www.youtube.com/user/maurosegura

Estou lá, mas raramente entro. Tenho poucos amigos que estão ativos nessa mídia social. Nem sei o que dizer dela pois não sou um usuário frequente.
plus.google.com/ 

Esta mídia social é um show, tem muito valor e muita coisa legal. Eu sempre descubro estudos, estatísticas e referências dos assuntos do meu interesse de uma forma bem organizada e fácil. Cada vez mais eu tento dedicar tempo para explorar o Pinterest. Para quem não conhece, eu recomendo criar uma conta e experimentar. Tem muita chance de você curtir e virar fã.
br.pinterest.com/

Não sou aficionado, apesar de ser um apaixonado por fotos. Gosto de entrar pelo smartphone para curtir algumas fotos bonitas, mas faço isso sempre de maneira irregular. Procuro publicar alguma coisa para manter a atividade, mas não é uma rede que me adiciona valor.
instagram.com/maurosegura/

Não é uma mídia social, mas é uma ferramenta espetacular para quem lida com várias mídias sociais simultaneamente. A maioria das coisas que publico no Linkedin, Twitter, na conta do AQO no facebook e no Google + eu faço via Hootsuite. Acesso todo o dia, pelo notebook, tablet e smartphone. Imagine um cockpit montado na sua frente com todas as mídias sociais na sua frente. É isso!
hootsuite.com

Não é propriamente uma mídia social, mas acho que cabe falar aqui sobre os meus blogs porque é um espaço de publicação de conteúdo e colaboração. Eu tenho 4 blogs ativos. O mais ativo é o AQO - A Quinta Onda - onde regularmente publico posts desde 2008. Em seus dias de glória, quando a busca orgânica no Facebook e no Google ainda era possível, ele chegou a alcançar milhares de unique visitors por dia. Hoje em dia este número diminuiu muito. Através do AQO eu conheci e ainda conheço muita gente legal, crio bom bons relacionamentos e acesso conteúdos valiosos.
Tenho um blog sobre Paraty, um blog de contos e crônicas e um blog da família controlado por senha. Todos ativos e com bom conteúdo.
www.blogger.com

Esse é um resumo. Existem outras mídias e ferramentas sociais digitais que uso, como Whattsapp, Medium, Klout e outras coisas bacanas que nem comentei aqui. Mas a adoção e uso de mídias sociais é algo muito individual. Depende de seus interesses, tempo, objetivo e muitos outroo fatores. O importante é estar aberto para descobrir coisas novas, abandonar aquelas que vão perdendo relevância e encontrar uma forma equlibrada para consumir todo esse conteúdo. No fundo, no fundo, o importante é saber ser seletivo e criar a "sua fórmula". 


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