Huffington Post e blogueiros: o fim da magia depois da compra da AOL
Em setembro passado, eu escrevi um post sobre o Huffington Post (carinhosamente chamado de HuffPo), citando que ele é o exemplo mais próximo do que podemos chamar de jornalismo do futuro.
Caso você não conheça o HuffPo, eu recomendo que você consulte AQUI. Vale muito conhecer.
A novidade é que o HuffPo foi comprado recentemente pela AOL pela bagatela de US$ 315 milhões. Dias depois do anúncio público, já surgia na internet um burburinho onde vários blogueiros colaboradores expontâneos do HuffPo pediam uma "boquinha" nesse "trocadinho". Ou seja, eles acham que têm direito de receber uma parte desse dinheiro embolsado por Arianna Huffington, dona e idealizadora do HuffPo.
A razão é simples e direta. Eles alegam que o negócio com a AOL só aconteceu porque o HuffPo foi construído com a ajuda de escritores/colaboradores que nunca receberam qualquer remuneração por seu trabalho. Eles acham que merecem um quinhão nessa bolada.
Já estão pipocando muitos comentários na rede. Existe um grupo no facebook chamado "Hey Arianna, Can You Spare a Dime?" (Ei Arianna, você pode me dar um trocado?). A mensagem dos blogueiros para ela é dura.
Aparentemente, o processo de reação teve início após o comunicado que Arianna enviou para todos os blogueiros do HuffPo informando a transação com a AOL, e reforçando que a única mudança para eles seria um grande aumento na audiência. O resto continuaria tudo igual. Parte dos blogueiros não gostou da falta de transparência da carta. Arianna não citou o valor da transação e nem comentou que vai receber um salário anual de US$ 4M do novo empregador.
O entendimento da carta foi simples: os blogueiros continuarão sem receber qualquer remuneração pelos textos escritos e a contra-partida é que a visitação de seus blogs deverá aumetar bastante. Veja a polêmica carta AQUI.
Muitas mensagens sobre o assunto estão correndo na web, como o post "Huffington Should Pay the Bloggers Something Now" publicado no blog @Mediactive. Outro post, com título forte, que vale a pena ler, é o post "Huffington Post and AOL: the end of Web 2.0", assinado por Douglas Rushkoff do @guardian.co.uk
Esse assunto pode ser analisado por diversos prismas. Mas, na minha opinião, a melhor análise é aquela publicada no blog @techdirt, num post chamado "Why The Arguments That The Huffington Post Must Pay Bloggers Is Misguided: Payment Isn't Just Money". Eu concordo com a análise.
O principal motivo que os blogueiros colaboram de graça para o HuffPo é que isso vale a pena para eles, especialmente pela enorme exposição que todos eles recebem. Ninguém está ali por acaso. Todos encontram ali o melhor local para ganhar atenção do que outros meios disponíveis, e continuarão lá enquanto valer a pena. Foi assim que cada um deles decidiu entrar como colaborador do HuffPo e continuam lá até hoje, sem qualquer remuneração. Aliás, essa foi uma condição clara para eles desde o início. A avaliação é essa, simples assim. O casamento será "eterno" enquanto for melhor para todos.
E a minha percepção de futuro é mais simples ainda.
Quem quiser sair do HuffPo porque se sentiu passado pra trás, poderá sair pois deve existir uma fila quilométrica de novos colaboradores e escritores querendo entrar no HuffPo. O que não falta são geradores de conteúdo capacitados e interessantes.
Quem sair do HuffPo poderá seguir, talvez, uma carreira de freelancer. Terá que tratar de buscar seus relacionamentos e criar outros, investir algum dinheiro para ter os recursos e condições que hoje o HuffPo já oferece para os colaboradores.
Se você estuda numa universidade ou trabalha numa agência, esse poderia ser um excelente tema para debate, né?
Enfim, essa é a minha opinião. Qual é a sua?
Eu, de minha parte, já estou até pensando em me tornar contribuidor internacional do novo HuffPo... sem remuneração. Who knows?
5 comentários:
Concordo com a sua análise, Mauro. E, como você, também venho me mexendo há alguns meses para tentar cavar um espaço para contribuir no HuffPo (não está sendo nada fácil, claro).
De qualquer jeito, acho que passou batida por muita gente, mas no mesmo comunicado em que ela anuncia a fusão, ela fala sobre a criação de editorias "internacionais", a começar pela de... "Brazil"! Ou seja, aumentaram as nossas chances. A informação está no terceiro parágrafo, e o link é http://goo.gl/yHz48.
Abraço,
Paulo.
Mauro,
li quase todos os textos que sugeriu ao longo do Post, e alguns outros que encontrei pelo caminho.
Confesso que no começo concordava com o ponto de vista de que, se a Arianna chegou onde está em função do trabalho FREE dos seus colaboradores, nada mais justo do que dividir o que recebeu com eles.
Aí cheguei no texto do @techdirt e a coisa mudou de figura. Deixemos de lado a exposição que os blogueiros recebem e a questão de " trabalharem" de graça. O ponto principal é, eles concordaram com isto E, se a coisa não fosse tão bem, será que eles colocariam dinheiro para manter o serviço no ar?
Como muito bem diz o texto a Arianna é quem assumiu o risco do HuffPo e "bancou" (pelo menos por um tempo) o site até ele se sustentar.
Fora isto, acho que realmente devemos esperar as cenas do próximo capítulo para ver no que vai dar este "casamento". Podem manter tudo como está e tirar proveito disto, ou querer mudar tudo e...... aí é esperar para ver.
Abraços
Pedro Prochno
@prochno
www.blogrelacoes.com.br
Mauro, sempre visito seu blog, porém hoje discordo com a sua opinião do post. Não duvido que a Arianna tenha "carregado" o HuffPo por um tempo mas acredito que o deal somente aconteceu devido ao suporte dos blogueiros no mantenimento do portal.
Hoje ela esta em alta porque tem um bocado de gente por baixo.
Dizer a um blogueiro que se quiser sair, ok, é o mesmo que dizer a um cliente "você é só mais um".
Mais um ou menos um não faz diferença pro HuffPo agora sem nenhum a história é outra.
Abraços
CR
Não concordo, Mauro.
Sabe a história do ganha, ganha, ganha? Todo mundo tem que ganhar. Dinheiro, relevância, experiência, mas tem que ganhar. Basta definir a moeda em jogo.
Quando ela diz que os blogueiros não ganharão nenhum dinheiro com o HuffPo, ela minimiza a participação deles a braços de trabalho, e não a "colaboradores" de fato, gente que suportou o site até onde está hoje. E aí você tira uma das moedas nesse jogo: o reconhecimento. Ok, o blogueiro trabalharia por relevância. Mas será que continuaria por muito tempo sabendo que a cadeia de ganhos dele é limitada? Ou seria apenas uma plataforma para o sucesso, como milhões de "focas" fazem hoje?
O modelo de Arianna não é diferente de muitos outros. Mas ao limitar os colaboradores a simples braços, ela diminui as moedas dentro dos ganhos para todos. E com isso, eu acredito que a qualidade do HuffPo vai cair vertiginosamente no decorrer deste ano.
Comprometimento só existe quando os ganhos são claros e justos para todos. Arianna acabou de passar um borrão nisso.
1abs
Vejam que interessante os comentários que recebi até agora. Existem alguns que concordam com minha avaliação e outros que discordam.
Entendo os pontos de Cassio e Anderson, que são muito válidos e coerentes. Esse assunto é polêmico mesmo. Não existe nada 100% correto ou errado. Não sei se o HuffPo vai ter uma queda de qualidade, mas acredito que vai passar por um período de reformulação e mudanças, onde muitos "colaboradores" vão pular fora do barco por não se sentirem realmente "colaboradores". Agradeço muito os comentários de todos vocês, me fez pensar e balançou o meu conceito a respeito de tudo isso. Enfim, estamos todos aprendendo nesses novos tempo. Obrigado por contribuir a abrilhantar o blog.
Postar um comentário