segunda-feira, 24 de maio de 2010

A (falta de) resiliência da Geração Y

Texto publicado no Foco em Gerações que reproduzo abaixo.

Seis meses atrás eu escrevi um texto sobre a resiliência da geração Y, mas não publiquei, acabei deixando-o na gaveta virtual, como rascunho. Na verdade, eu não estava seguro se aquilo era apenas uma percepção pessoal, o que me deixou intrigado se deveria ou não publicar.

No dia 14/4, no blog Foco em Gerações, me deparei com uma excelente análise da Sarah Newton, num post chamado “A geração Y possui a resiliência necessária para causar impacto em sua empresa?“. Li o texto, linha a linha, com o queixo caído. Ela não somente escreveu o que eu havia pensado, mas de forma muito melhor e mais clara. Enfim, eu havia encontrado alguém com a mesma percepção que vinha me perseguindo desde o ano passado.

De todos os desafios enfrentados pela geração Y no trabalho, parece que a resiliência é o mais complicado. Mas vamos entender o que é isso. Segundo o dicionário Aurélio, resiliência é a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal deformação elástica”.

Saindo da definição aureliana e indo para o popular, resiliência é a capacidade de você apanhar e resistir, independentemente do tamanho da paulada, de onde ela vem e do quanto dure. E então? Alguma similaridade? Lembrou de alguém?

Numa linguagem de recursos humanos das empresas, podemos dizer que resiliência é a capacidade do funcionário de tratar e superar obstáculos, dificuldades e incertezas, por mais fortes e traumáticas que elas sejam.

A geração Y, no ambiente atual de trabalho, parece não ser tão resiliente como as gerações passadas. Parte deste contexto pode ser consequência dos jovens estarem hoje muito mais bem informados, antenados e conscientes de seu potencial e possibilidades do que os jovens do passado.

O mundo interconectado e global, as quebras das barreiras econômicas e culturais, a internet e a maior independência da juventude parecem ajudar muito neste processo.

Outro motivo poderia ser a facilidade de opções de trabalho que hoje se oferece para os trabalhadores mais jovens, o que é bem diferente de décadas passadas. Hoje o mercado de trabalho é global, existem mais opções e variações de carreiras e especializações, a migração de uma carreira para outra é coisa natural, as empresas admiram profissionais polivalentes e dispostos a novos desafios e mudanças, etc,etc, etc. Ou seja, existe um incentivo natural para que os jovens pulem de uma cadeira para a outra. Esse ambiente ajuda a aumentar a impaciência e a ansiedade dos jovens trabalhadores, que ao se depararem com dificuldades e obstáculos, preferem mudar de direção ao invés de perseverar e enfrentar as incertezas. Isso é ruim? Sinceramente eu não sei. Esse cenário faz parte do mundo moderno e não adianta lutarmos contra ele.

A preocupação aparece quando os sinais de impaciência e frustração surgem de modo mais intenso nas relações do dia a dia, ou seja, nas interações rotineiras do ambiente de trabalho, nas relações com os chefes, na lentidão das promoções e progressões de carreiras, etc, etc, etc. É aí que a coisa pega mais. Aí vale a pena ler o post da Sarah Newton porque ela dá dicas de como lidar com isso.

Enfim, quase todos apontam a falta de resiliência da geração Y como um problema que gera impacto negativo nas empresas. Eu não estou certo disso. Só sei que este é um problema de difícil solução, pois as gerações futuras serão ainda mais voláteis em termos de carreira. Com o fim do “emprego para a vida toda” os trabalhadores estão cada vez menos conectados ao ideal do emprego fixo. Ou seja, esta onda está apenas começando. Cabe às empresas saberem lidar com este novo cenário e criarem um novo ambiente de trabalho e desenvolvimento para os jovens trabalhadores.

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

7 comentários:

Edu disse...

Mauro, acho esse tema muito interessante. Também acredito que a resiliência nos jovens seja bem menor. Mas acho que também tem outro lado positivo nessa história. Os jovens também engolem menos sapo. Enquanto os profissionais do passado aguentavam todo e qualquer tipo de pressão, no caso dos jovens de hoje, se forem tratados com desrespeito, simplesmente pegam suas coisas e vão embora.

Esse tipo de atitude está mudando a cultura e o comportamento daquela gestão estúpida, grosseira. Esses profissionais mais rudes tendem a perder espaço nos próximos anos. E isso é positivo porque trabalhar com clima tenso demais não faz bem a ninguém. Pode ser muito produtivo e fazer com que as pessoas superem suas metas por um bom espaço de tempo, mas isso tende a ruir com o passar dos anos e acabar com a relações.

Por mais globalizado e exigente que esteja o mercado, acho que estamos muito próximos de um limite muito perigoso atualmente. De falta de controle total de agendas, de compromissos, de atividades. Quando achamos que chegamos ao máximo de produtividade, conseguimos fazer algo mais, mais uma reuniaozinha, mais um relatório. Sinceramente, ainda não sei onde vamos parar, mas acho que, desse jeito, será no buraco!

Anônimo disse...

Mauro, preciso fazer uma matéria sobre mídias sociais. Poderia me dar uma entrevista. Meu email: marittoledo@gmail.com

Por favor me escreva e não publique este comentário.

Obrigada.

Mauro Segura disse...

Edu, concordo muito com você. A vida corporativa parece que perdeu o bom senso. Existe uma paranóia com o descontrole das agendas e atividades. Parece que tudo é prioridade e urgente. Eu não sei onde isso vai parar, mas eu estou refletindo muito sobre o que eu quero para minha vida nos próximos anos. Bom saber que existem pessoas com a mesma angústia que a minha.
Abraços. Mauro.

Verinha disse...

Oi Mauro (sorry teclado sem acento)

Sempre leio seu blog, acho ele excelente. Uma pena que nos "desencontramos" aih na IBM.

Voltando ao post, tambem concordo muito com o que o Edu falou. Tanta resiliencia pra que? Ok, pra engolir sapo - mas por que?

Eu tenho 30 anos e vejo que estou no meio entre resiliencia e chutacao de balde. O pessoal mais novo com quem trabalho nao quer saber nao, nao tah feliz, foi embora. Fui.

Aqui na Australia entao eh completamente diferente do Brasil, eles nao valorizam tanto o fato de se trabalhar em grandes empresas, o que conta eh ser bem tratado, ganhar razoavelmente bem e poder ter qualidade de vida - tanto faz se isso vai ser em uma IBM da vida ou no fish and chips da esquina. A competicao eh bem menor e por isso o empregado tem muito mais poder de barganha. Sair as 5 da tarde eh bem mais comum, as pessoas tem vida fora do trabalho. No Brasil se eu saia as 6 as vezes escutava uma brincadeirinha do tipo "e aih, saindo as 6, da desmotivada". Eu sempre respondia "pelo contrario, estou eh motivada com a vida".

Jah ouvi que a proxima geracao (no caso, a "atual") quer sempre ser o oposto da geracao anterior justamente por que viu os erros que aqueles certos exageros trazem. Provavelmente a geracao Y eh assim pois viu seus pais workaholics dos anos 80 e 90 longe deles, estressados, se divorciando, se matando de trabalhar, e isso nao foi legal na vida de ninguem, nem na dos pais e nem na dos filhos. Eles devem ter testemunhado/refletido sobre a questao que a vida eh muito mais do que soh trabalhar. E ainda mais nesse tipo de trabalho em escritorio, onde trabalhamos de 9 as 6 em um cubiculo...

Enfim, espero que essa geracao reinvente o que significa trabalhar. E espero que essa revolucao esteja soh no comeco.

Abracos

Mauro Segura disse...

Verinha. Adorei a sua reflexão. Também espero que esta revolução seja só o começo. Abraços. Mauro.

Brunno Pessoa disse...

De fato é uma análise interessante e uma realidade com a qual as empresas terão que lidar, queiram ou não. Eu penso que isso que chamam de impaciência da Geração Y (ou falta de resiliência), nada mais é do que uma reação ao mundo que lhes foi entregue. Diga-se de passagem, foi um mundo criado pela Geração X, senão não existiria nada na forma que temos e vivemos hoje. É um mundo recheado de informação e tudo muito rápido... tão rápido que entregar ontem já pode ser tarde demais. Ou seja: exigem da Geração Y rapidez, mas por outro lado não querem que esses jovens exijam rapidez para ter ascenção profissional etc. É um tema rico e bastante complexo.

Amarena disse...

A gte vai precisar saber selecionar e treinar cada vez mais, melhor e mais rapido pra poder contornar essa danca das cadeiras, maa talvez melhor msm seja desenvolver mecanismos pra encantar e reter esse pessoal q daz a diferenca e traz resultados...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...