sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nas redes sociais corporativas, educação e orientação são mais importantes do que controle e punição

Dias atrás, eu recebi uma ligação de um colega. Ele queria me comentar um caso de redes sociais que rolou na empresa onde trabalha. A conversa foi a seguinte:

-- E aí? Tudo bem? Tô ligando para contar uma experiência que tivemos aqui na empresa com redes sociais.

-- Experiência com redes sociais? Mas como? Vocês não permitem o acesso dos funcionários às redes sociais. E, pelo que sei, vocês também não têm blogs internos ou coisas parecidas. Mudou alguma coisa?

-- Não. Você está certo. O acesso aqui é proibido mesmo. Mas o que aconteceu é que um funcionário falou mal da empresa em seu blog pessoal. Parece que ele ironizou o presidente, falou que não concordava com as algumas coisas que a empresa fazia e até reclamou do salário baixo.

-- E?

-- E hoje a empresa demitiu o funcionário.

-- Demitiu o funcionário? Mas quando vocês descobriram este caso? Aliás, se o blog era pessoal, como a empresa chegou nele?

-- Foi uma denúncia anônima. Um funcionário, que não se identificou, ligou para o RH e deu o endereço do blog dele, contando o problema. A denúncia aconteceu há dois dias. Isso chegou rapidamente no diretor de RH, que parece que teve uma reunião com o presidente, e hoje de manhã deram a demissão sumária no funcionário.

-- Foi justa causa?

-- Não sei. Acho que não. O que corre pelos corredores é que a demissão foi dada para servir de exemplo. Eles não querem ver novos casos parecidos e resolveram radicalizar.

-- E o clima aí? Como está?


-- Todo mundo só fala nisso. Existe um pouco de revolta das pessoas, elas acham que ninguém deveria ser demitido por escrever algo num blog ou numa rede social. Os funcionários ainda não entenderam muito bem o que ocorreu.


-- Você pode me passar o endereço do blog?

-- Até poderia, mas o blog foi apagado. Ele desapareceu. Por isso esse papo até parece boato, mas ele ocorreu de verdade.

-- Eu posso citar o seu nome ou o nome da empresa? Eu gostaria de escrever sobre este caso.

-- Não, não, por favor. Não fale nada. Eles não estão querendo divulgação para o caso. Estão com o maior medo disso cair na imprensa.

-- E o funcionário demitido? Será que ele não vai reclamar? Será que ele não vai escrever sobre isso em outro blogs?

-- O que rola aqui é que a empresa fez um acordo com ele.

O relato acima me surpreendeu muito. Este foi o segundo caso de demissão no Brasil por conta de mau uso de redes sociais que tomei conhecimento. O primeiro foi o caso da Locaweb ocorrido em março deste ano. Eu não sei de mais nenhum. Gostaria de conhecer outras situações, caso existam, para meu aprendizado.

Eu não estou certo se este tipo de situação é comum em nosso país, até porque as empresas não gostam de falar sobre destas experiências. Uma pesquisa realizada no ano passado nos EUA mostrou que o número de empregados punidos por conta de uso inadequado de emails e redes sociais vem aumentando consideravelmente. Apesar da amostragem pequena, a pesquisa foi feita apenas com 220 empresas americanas com mais de 1 mil empregados, o resultado do estudo serve como sinal de alerta para o mundo corporativo, já que 17% das empresas pesquisadas aplicaram alguma ação disciplinar em funcionários que violaram as políticas de uso de blogs. Enquanto 9% delas reportaram que demitiram empregados por tal violação.

Eu acredito que a demissão deve ser sempre o último recurso. No caso acima relatado, eu, sinceramente, acho que a empresa perdeu uma excelente oportunidade de educação. Antes de punir, a empresa deveria procurar o funcionário para conversar e entender as motivações que o levaram a escrever sobre a empresa em seu blog pessoal, quando ele poderia e deveria ter externado suas opiniões dentro da própria empresa, para o seu gerente ou para os canais adequados da empresa. É importante fazer o funcionário refletir, pensar sobre a situação e os danos que uma exposição pública inadequada por causar. Na maioria das vezes, os funcionários cometem equívocos de forma inocente. Eles não entendem a dimensão e as implicações do que representa escrever suas opiniões num blog público, seja ele pessoal ou não.

O caso relatado pelo meu colega lembra aquele que contei no ano passado, quando uma funcionária de uma empresa espinafrou a empresa em seu blog pessoal. Achei as situações muito parecidas. Acredito que o procedimento descrito para aquele caso se ajusta perfeitamente para este também. Vale a pena ler.

Enfim, educação e orientação são muito mais importantes do que controle e punição.

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14 comentários:

Rubens Mendrone disse...

Mauro welcome back ! Muito interessante o caso. Sera que se acontecer o contrario (um funcionario falar bem da empresa, elogiar seus executivos e tudo mais), ele sera beneficiado de alguma forma? Seria ele promovido por promever a empresa publicamente na internet? Com certeza não. Talvez nem um obrigado ou um aperto de mao. As empresas sao muito boas em "bater" e punir e precisam aprender que antes disso existe a fase da educacao. Sera que a empresa do seu amigo falou abertamente sobre redes sociais com seus colaboradores, dando guides sobre etiqueta, postura, etc ainda que internamente o seu uso nao seja incentivado? Duvido. Perderam eles, perdeu o funcionario, perdemos todos nos. Um abraco !

Shirley Guimarães de Mello disse...

Alem do caso da Locaweb, teve o caso do jornalista da National geographic que falou mal da Veja e foi demitido. Pesquise no Google e vc vai achar.

Gisele Paula disse...

Oi Mauro, bom caso para estudo e discussão, desde o que gerou o comportamento do colaborador até a decisão do presidente. Seu post me desenhou uma imagem muito carregada dessa empresa. Clima pesado, comunicação muito restrita... julgo ser uma empresa que houve muito pouco o que o colaborador tem a dizer.
Não conheço outros casos a respeito. Mas posso compartilhar a experiência que temos aqui na empresa: o manual de conduta na web faz parte do código de ética, mas os desvios que são apontados no monitoramento das redes são tratados um a um com orientação e a pessoa, por si só, toma a atitude de corrigir. Na maioria dos casos, percebo que são feitos na inocência, como você diz, sem medir a proporção que pode causar e aproveitamos a oportunidade para evangelizar sobre as tendências, etc.

Parabéns pelo post! Um abraço!

Mauro Segura disse...

Rubens. A resposta é não. A empresa do meu colega nunca deu orientações claras e regulares aos seus colaboradores sobre redes sociais. Concordo com tudo que escreveu. Abraços e obrigado por visitar meu blog. Mauro.

Mauro Segura disse...

Caramba, Shirley. Obrigado pela dica. Me sinto sempre desinformado. Vou atrás do caso do jornalista da National Geographic. Abraços e obrigado por visitar meu blog. Mauro.

Mauro Segura disse...

Gisele. A empresa onde se passou esse caso não parece ter um clima pesado, mas a comunicação é limitada sim, um pouco restrita e muito institucional. Gostei muito de seu comentário. Abraços e obrigado por visitar meu blog. Mauro.

Mauro Segura disse...

Gisele. A empresa onde se passou esse caso não parece ter um clima pesado, mas a comunicação é limitada sim, um pouco restrita e muito institucional. Gostei muito de seu comentário. Abraços e obrigado por visitar meu blog. Mauro.

Edney Souza disse...

Oi Mauro, um link com o caso do jornalista da Abril: http://www.interney.net/blogs/imprensamarrom/2010/05/12/a_demissao_do_jornalista_da_abril_os_fat/

Ocappuccino.com disse...

Essa foi a tua resposta a um comentário meu neste post que a "funcionária de uma empresa espinafrou a empresa em seu blog pessoal":

"Mateus,
É verdade. O que ela escreveu no blog pessoal dela provavelmente demonstra o tipo de conversa que ela tem a respeito da empresa com os colegas e amigos. Isso me parece negativo, mas será que é suficiente para demiti-la? Eu acho que não. Não dá para avaliar alguém por uma escorregadela num blog. Acho que isso é papel de seu gerente imediato, que tem que avaliar e tomar a decisão que for mais adequada. Se existirem outras evidências além do blog, aí a situação fica mais clara. Muitos me chamam de exageradamente flexível e tolerante, mas eu acho que esse é um caminho correto. Para termos pessoas abertas e questionadoras trabalhando conosco, precisamos ser pacientes a cada minuto, entender os diferentes pontos de vista e compreender que a nova geração tem um "mindset" diferente. Grande abraços para você. Mauro."

Então nada mais a declarar.

abraços
MATEUS

Marcos disse...

Hoje, não importando a empresa, essa é um cuidado que todos temos de ter, independente de a empresa ter uma politica esclarecida quanto a esse ponto, devemos ter bom censo e se ligar no que podemos ou não dizer na internet.
E o por coincidencia, essa semana mesmo tava pensando sobre isso e assim que esse post apareceu nos meus feeds até me animei a escrever um pouco sobre o assunto no meu blog: http://marcosvpj.posterous.com/vida-pessoal-x-empresarial

Anônimo disse...

Oi Mauro.
Não conhecia o guia da IBM. Muito legal! Aliás, parabéns também para a entrevista na Época dessa semana.
Abs,
Tatiane Lima

Daniela Miranda disse...

Oi Mauro,
Parabéns pelo post. Concordo plenamente que o caminho é educar e orientar. A impressão que tenho é que muitas vezes as empresas não encaram o seu colaborador como um público como o consumidor ou cliente. E se nesse blog quem estivesse falando mal fosse um cliente? Qual seria a atitude da empresa? Talvez entraria em contato para verificar o que estava deixando a pessoa insatisfeita....E por que não fazer o mesmo com um funcionário?!?!?! Com este e outros casos que temos acompanhado, fica claro que as empresas ainda não estou preparadas para escutar o que, principalmente, os seus colaboradores tem a dizer. Não estou querendo defender ninguém, mas não acredito que esse seja o melhor caminho para fazer com que os colaboradores que ficam tenham mais consciência de seus atos nos diferentes ambientes digitais.

Zee Lima disse...

Mauro seja bem vindo de volta!

Muito bom seus ultimos posts, não tenho comentado pq estou numa correria sem tamanho. Mas esse é um caso que eu precisava falar alguma coisa.

Sou da turma do "perdemos todos com ese caso". E ainda mais com esse clima de "exemplo"... um tanto quanto restrita essa ação, não?

E moralmente duvidosa! Diga-se de passagem. Como já disse outras vezes eu não conheço quem tenha sido despedido por falar mal da empresa no vestiário do futebolzinho do fim de semana, ou por reclamar com os parentes no churrasco de domingo.

Mas como sempre, o grande mal é a internet, tem aquela cara de que ao postar algo seria como se o Faustão falasse em seu programa dominical! E olha que agora ele abriu um bloco para justamente... ouvir reclamações.

Ironias à parte, creio que fica para nós, que trabalhamos no meio deste furacão e que temos a chance de fazer diferente, de fazermos a nossa parte no que tange a educar todos os lados da moeda.

Educar nossos empregadores e nossos colegas colaboradores para que todos possam apreciar mais essa faceta da vida moderna com sobriedade, maturidade e equilibrio.

Forte Abraço à todos!

Unknown disse...

Oi Mauro,

Também soube de um caso que gerou uma saia justa, mas não foi no meio corporativo, foi no político. Um twite inadequado com informações de uma reunião "secreta". Um deputado começou a twittar as discussões sobre a Proposta de Emenda Constitucional.
Não consigo encontrar uma justificativa para tal comportamento. Segue o link do M&M Online, onde li a notícia: http://www.mmonline.com.br/noticias.mm?url=O_Twitter_que_saiu_pela_culatra&origem=mmbymail

Beijos.

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