Eu já escrevi várias vezes sobre nossa experiência na IBM onde o uso de mídias sociais é liberado e incentivado. Qualquer funcionário pode criar e usar livremente blogs, wikis e redes sociais. Para gerir esse ambiente, nós temos uma espécie de Manual do Blog, veja AQUI.
Encaramos esse modelo de trabalho de forma muito positiva, destacando a transparência e a colaboração que esse ambiente propicia. Por outro lado, eu não posso deixar de reconhecer que a gente também passa por alguns percalços e desafios. O ambiente aberto e o incentivo constante à colaboração energizam as pessoas a tomarem iniciativas, a serem criativas e ousadas. Isso é legal, mas sempre tem alguma coisa rolando no fio da navalha. Isso faz parte do risco do modelo.
Eis aqui um caso exemplar desse tal “fio da navalha”.
No final do ano passado passamos por uma saia justa. Um dia, recebi um telefonema de um integrante do time de comunicação dizendo que um filme de uma reunião interna de vendas, confidencial, havia sido publicado no YouTube. Fiquei gelado. Parei tudo e saí correndo para entender o que estava acontecendo, até porque eu sabia que em pouco tempo teria que encarar todo o time executivo da empresa para explicar o caso.
Levei quase uma hora para entender a situação. Minha maior preocupação era saber se algum funcionário havia filmado uma reunião interna (com celular ou algo parecido) e publicado no YouTube. Isso seria muito grave e mereceria ações rigorosas.
O super-resumo do caso é: um funcionário copiou um conteúdo confidencial publicado em nossa intranet (um filme de poucos minutos e um texto) e publicou no YouTube. Analisei os detalhes e minha percepção é que o funcionário não agiu de má fé, apesar de ter cometido um erro grave.
O filme e o texto publicado no YouTube eram de uma reunião de vendas onde foram apresentadas e discutidas as deficiências e fraquezas de um concorrente. Esse material havia sido publicado em nossa intranet como uma espécie de “Sales Kit” para nossa Força de Vendas. O conteúdo inserido no YouTube foi apenas uma parte do material completo disponível na intranet e não apresentava nenhum dado a respeito da IBM, somente do concorrente.
Minha percepção é que o funcionário fez isso com a motivação de “bater” no concorrente. Poderia até ser um vendedor da IBM, super-motivado, pensando: “Vamos lá arrasar esse concorrente”. O grande erro dele é que ele não poderia capturar uma informação classificada como confidencial e publicar externamente.
Obviamente que eu recebi pedidos de todos os lados para identificar quem era o tal funcionário que fez isso e orientá-lo a respeito do caso. O problema é que foi impossível identificar a pessoa. Ele publicou o conteúdo no YouTube com nome fictício, sem deixar rastros.
Nem todos sabem, mas para retirar o conteúdo publicado no YouTube só existem duas maneiras: o próprio autor remove o conteúdo ou alguém entra no YouTube pedindo a remoção do conteúdo alegando tratar-se de conteúdo impróprio. Seguimos a segunda alternativa alegando que o filme era confidencial corporativo. O processo é feito no próprio site do YouTube, de forma simples e prática. No nosso caso, o material foi retirado do YouTube no mesmo dia.
Nós não conseguimos identificar o funcionário. Isso foi muito ruim pois seria importante instruí-lo a respeito do erro que ele cometeu. É claro que rolou algum stress interno, mesmo considerando o fato de sermos bastante abertos a esse tipo de situação. Teve gente querendo a “cabeça” do funcionário, colocá-lo no paredão, enquanto outros qualificavam a ação do funcionário como uma motivação exagerada contra a concorrência. O fato é que o funcionário errou.
Contei todo esse caso para ilustrar que tais ambientes virtuais colaborativos trazem benefícios, geram inovação, mas também riscos, onde o tratamento e as conseqüências vão depender diretamente da maturidade da empresa. Já contei outra história interessante num post passado, “Te conheço, Washington?”, que também exemplifica isso.
Eu não tenho dúvidas de afirmar que os benefícios gerados são muito maiores que os problemas enfrentados. O fato é que aprender a lidar com os “Washingtons da vida” faz parte do ambiente colaborativo moderno em que vivemos. É um caminho sem volta. Cabe a cada um nós saber lidar e aprender com essas experiências. Por falar nisso, mando um abraço pro Washington e aviso que já tenho seu novo número de celular.
9 comentários:
Mauro,
Já tive a oportunidade de comentar em seu blog uma vez, na ocasião, coloquei alguns pontos da minha monogragia cujo tema é "Comunicação Interna".
Sobre o tema de hoje (ou melhor, ontem), acho que as empresas com as diretrizes corretas, como as da IBM, podem SIM gerar mais efeitos positivos à negativos com a liberdade de acesso a redes sociais e incentivo a criação de blogs. Um mundo que ainda não foi integrado ao nosso dia-a-dia profissional, mas assim que chegamos em casa é logo a primeira atividade que fazemos. Uma pena, pois seria de grande mais-valia certas empresas ouvirem mais seus colaboradores.
Sou fã do blog.
Abraços,
Vinicius Feher
Mauro,
não nos conhecemos, é claro. Mas, recentemente, fiz uma apresentação sobre web 2.0 para um grupo de comunicação interna de várias empresas. Foi aí que encontrei seu blog e também a política da IBM para os blogs.
Dirijo a área de Novas Mídias da Voice, uma agência de comunicação institucional. E seus posts são ótimos, sempre me trazem novas idéias, principalmente sobre como lidar com varias situações.
Se vc me permite, gostaria de enviar um e-mail pessoal, pois gostaria de conhecer sua opinião sobre um assunto assim, digamos, meio espinhoso.
Tks
Beth Guaraldo
Oi, Vinicius. Eu realmente não tenho certeza se a IBM tem as "diretrizes corretas". Eu acho que a IBM optou por uma determinada linha estratégica e vem perseverando nela nos últimos anos. O Manual do Blog da IBM foi publicado em 2005. Existem outras empresas com políticas próprias que também têm suas virtudes e riscos. Enfim, isso é um aprendizado contínuo. De minha parte, eu acredito muito na estratégia da IBM, os resultados e experiências têm mostrado que os benefícios são imensos. Isso é fruto de mais de uma década de mudanças na política de comunicação da empresa. Abraços. Obrigado pela honra de tê-lo visitando meu blog. Mauro.
Oi Beth. Obrigado pelas suas palavras carinhosas. Manter esse blog tem sido uma experiência gratificante prá mim. Pode mandar um email prá mim... ou se preferir me envie o seu e entro em contato. Abraços. Mauro.
Mauro,
Achei melhor mandar meu e-mail para vc. Assim, quando der a gente fala - bguaraldo@voice.com.br.
Obrigada
Mauro,
Aproveitando a deixa da Beth... Estou em fase de conclusão da minha monografia e como último capítulo destacarei um case de sucesso de uma grande empresa na área de Comunicaão Interna.
Sempre apreciei todos os seus posts em seu blog desde que eu tomei conhecimento no encontro da ABERJE, em 2008, no qual você foi o palestrante. Acredito que a IBM tenha muito a acrescentar neste meu estudo já que trata-se de uma grande empresa na qual todos sonham em trabalhar e que conta com uma área de comunicação fortíssima. Você pode me ajudar?
Atenciosamente,
Vinicius Feher
Vinicius. Falemos por email. Abraços.
Oi Mauro ,
Parabéns pelo Blog , sou IBmista também e estou escrevendo um blog sobre Mainframe , sem dúvida vou usar suas palavras como guia.
Abcs
Marcos Caurim
Marcos. Já entrei no seu blog. Gostei. Obrigado por visitar meu blog. Abçs. Mauro.
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