No evento de Comunicação Interna do IQPC, em Nov/08, eu tive o privilégio de participar de uma mesa redonda com Viviane Mansi, da Merck Sharp & Dohme, e Juliana Marques, do HSBC. O tema do debate foi o Futuro da Comunicação Interna (CI).
Eu apresentei 5 tendências que, na minha visão, vão implicar na transformação da CI.
1- INFORMAÇÃO CADA VEZ MAIS PESSOAL
A CI das empresas estará cada vez mais focada nas pessoas do que nas mensagens corporativas. A explosão das redes e mídias sociais é uma evidência dessa tendência. Vou explicar melhor. As pessoas gostam de ouvir histórias de pessoas, de heróis e de conquistas individuais. A CI cada vez mais se alinhará em torno disso, fazendo com que as mensagens corporativas sejam moldadas em torno de histórias de pessoas.
2- MAIS COLABORAÇÃO E MENOS COMUNICAÇÃO UNIDIRECIONAL
A explosão das redes sociais chegará rapidamente às empresas. CI vai migrar de um modelo unidirecional de comunicação (via email, murais, newsletters impressas, etc) para um modelo de intensa colaboração. Já podemos imaginar que todas as empresas, pequenas e grandes, terão seus blogs, fóruns e orkuts internos. Ousando um pouco mais, podemos vislumbrar um cenário onde a maior parte da CI será feita pelos funcionários para os funcionários.
Nesse contexto colaborativo e meio caótico, eu acredito também que as mensagens e notícias serão cada vez mais curtas, em pílulas, objetivas e diretas. É a visão do menos que é mais. Esse é um viés que já vem acontecendo e que é fruto do volume de informações com que já somos bombardeados todos os dias, e que só vai aumentar.
3- MOBILIDADE
Tudo será móvel nos próximos anos. O computador, a TV, a câmera e o telefone serão uma coisa só. O telefone fixo, aquele ramal parado em cima da mesa, tem os seus dias contados. O funcionário vai estar conectado 24 horas por dia, com equipamentos sofisticados, integrando som e vídeo, com alto poder de processamento. Muitos funcionários passarão a trabalhar remotamente (de casa, no escritório dos clientes, etc). CI terá papel fundamental na formação desse novo trabalhador, exigindo o desenvolvimento de novas estratégias e canais de comunicação.
4- FIM DA FRONTEIRA ENTRE COMUNICAÇÃO INTERNA E EXTERNA
O mundo atual, interconectado, online e 24hs no ar, já sugere que essa fronteira não existe. Porém, a gente continua dividindo as funções dentro das empresas, apesar delas não serem tão estanques e muito menos independentes. Muitas empresas colocam a área de CI dentro de RH e tratam Comunicação Externa apenas como Relações com a Imprensa. Essa abordagem cria uma distância entre CI e CE indesejável. Acho que existe uma tendência forte de CI e CE ficarem na mesma organização e diretamente ligadas à presidência, com o surgimento de ferramentas que atenderão simultaneamente CI e CE.
5- MUDANÇA DO PAPEL E PERFIL DO PROFISSIONAL DE COMUNICAÇÃO
Essa é a tendência mais importante e a mais árdua. Enquanto as outras citadas acima vão ocorrer por pressão do mercado, da tecnologia e do ambiente empresarial, essa última tendência é algo que depende quase que exclusivamente da iniciativa e tomada de decisão dos líderes de comunicação das empresas.
Vejo o profissional de comunicação cada vez mais estratégico e menos produtor de matérias. Será cada vez mais gestor da informação e da colaboração. Estará menos preocupado em fazer o tal “jornalismo corporativo” e mais focado em preparar os funcionários da empresa para o novo ambiente de trabalho, que é cada vez mais global, dinâmico, online e com mudanças constantes. Será alguém mais focado em formar pessoas do que informar pessoas. Podemos até imaginar uma mudança de nome de profissional de comunicação para profissional de capacitação. Será um profissional preocupado em ser um agente de mudança e transformador cultural.
No debate, Juliana Marques fez um comentário muito pertinente quando disse que o profissional de comunicação terá que estudar e conhecer antropologia. Concordo muito com isso. Cada vez mais estudar as sociedades humanas, como elas se relacionam e se desenvolvem será importante para a área de comunicação.
Como todo exercício de futurologia, as tendências acima podem ou não ir prá frente, apesar que todas elas, hoje, já são conceitos estabelecidos e discutidos intensamente em todos os fóruns de comunicação.
5 comentários:
Mauro, o post é fantástico. Os 5 pontos de transformação da Comunicação Interna são super interessantes, mas como vc msm colocou, os 4 primeiros itens os novos tempos farão que esses venham por si só, vão acabar acontecendo naturalmente. Nesses, ressalvo que é essencial cair a barreira entre CE e CI, não dá mais para trabalhar desta forma. Esses duas vertentes tem que caminhar juntas, a língua falada tem que ser a mesma. Agora o mais difícil com certeza é o nº5, a mudança no perfil do profissional da comunicação. Na verdade toda gestor é um comunicador (independente de ser da área ou não)- ou pelo menos deveria. Mas, infelizmente muitos gestores não sabem se comunicar e/ou nem querem, acham tudo balela, conversa fiada. É aí que estará o grande desafio, para o comunicador (de formação) entender que ele terá muito mais na participação da formação da sua equipe, e para gestores com outra formação, entender a importância da comunicação. Aviso aos naveguantes, quem não souber se comunicar e nem liderar...corra atrás, ainda há tempo.Abraços, Milena Apolinário.
A mudança de que trata o 5º ponto terá que começar num nível acima: entre os presidentes e diretores. É triste perceber que muitos ainda encaram CI como emissão ditatorial de um calhamaço de mensagens. Um modelo ultrapassado, mas ainda muito presente, que gera mais resultados negativos e indignação. Que os "patrões e chefões" mudem suas visões em relação a CI, que aprendam a investir em volume igual ao que sempre investiram em CE. E que nós, comunicadores, saibamos nos adequar a essa realidade de forma competente como verdadeiros educadores.
Importante considerar que ainda por muitos anos, a maior parte dos trabalhadores nas empresas – principalmente em países fora do primeiro mundo – não terão funções ligadas à “era do conhecimento” e portanto continuarão demandando o tal “jornalismo corporativo”. Resumindo, como em praticamente todas as áreas da atividade humana, vivemos simultaneamente diversas etapas de evolução. A emergência da atuação mais estratégica do profissional de comunicação é sem dúvida evidente, porém terão uma atuação bem restrita, para poucos, durante muito tempo! Parbéns pelo artigo Mauro, muito bom. www.blogcantarelli.blogspot.com
Johnny. O seu blog é muito bom. Já coloquei na minha lista de favoritos. Obrigado pelo comentário. Abcs. Mauro.
Concordo plenamente com seu post. Vejo que haverá uma "revolução" na comunicação interna. O engajamento será parte intrínseca do processo, envolvento a organização como um todo. Líderes centralizadores - e ainda existem muitos por ai - terão que repensar sua estratégia de gestão da comunicação, especialmente com a nova geração que já entra na empresa com sede de informação rápida e de fácil acesso. A linguagem deverá ser menos corporativa para interessar e prender a atenção desse novo colaborador.
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