No mesmo evento que citei no último post , Comunicação Interna do IQPC, eu fiz uma apresentação sobre a experiência da IBM Brasil em comunicação interna.
Pelas minhas contas, o evento tinha quase 100 participantes, sendo que maior parte era formada por profissionais de comunicação de empresas. Haviam poucas pessoas de agência. Lá pelas tantas, no final da palestra, eu fiz as seguintes perguntas:
1- Na empresa em que trabalham, vocês têm acesso livre ao MSN e Orkut?
Resposta: Apenas 5 pessoas levantaram a mão. Ou, seja, 95% disseram não ter acesso.
2- A empresa de vocês tem blog corporativo?
Resposta: Apenas 2 pessoas se pronunciaram. 98% deram a negativa.
3- Aí fiz a pergunta mais específica, aquela mais cruel. A empresa em que trabalham tem uma política de blog ou permite que seus funcionários criem blogs internos ou externos?
Resposta: Zero. Ninguém levantou a mão.
Os índices de resposta não surpreendem, mas assustam.
O cenário descrito é muito simples: as pessoas têm, em suas casas, computadores com acesso à internet, participam de redes sociais, falam e compartilham livremente suas idéias e percepções em fóruns virtuais, muitas vezes com pessoas que elas nem conhecem bem. Já nas empresas, elas se deparam com um ambiente limitado, super-hiper-ultra-controlado, sem fóruns de compartilhamento livre, instantâneo e aberto.
Ou seja, as pessoas têm em suas casas um ambiente muito mais colaborativo do que em seus ambientes de trabalho, onde elas passam, pelo menos, oito horas por dia.
Não é incrível?
Por que as empresas não soltam as amarras da organização favorecendo a criação e estabelecimento de redes e fóruns de discussão aberta?
Alguém me respondeu dizendo que é porque as empresas têm medo de perder o controle da comunicação. Já ouvi pessoas comentando que é porque existe o receio de informações confidenciais e estratégicas vazarem nesses fóruns. Por trás disso, está a palavra que as empresas adoram e temem: controle. Mas que controle é esse? As empresas se iludem, pensando que controlam alguma coisa. Esse compartilhamento de opiniões, idéias e percepções já acontece diariamente nos corredores e "cafezinhos" das empresas. As pessoas falam e se relacionam minuto a minuto durante o trabalho, portanto a colaboração entre elas já existe. A questão é que, na maioria das vezes, esses momentos de colaboração não ficam registrados em lugar nenhum. Aliás, ficam sim, na cabeça das pessoas que participaram, somente isso. Muitas idéias e conceitos inovadores ficam pedidos nos “corredores da vida” das empresas.
Resumindo, volto a pergunta: por que as empresas não disponibilizam fóruns, blogs e outras ferramentas para que as pessoas migrem suas conversas de corredor para esse novo “corredor virtual”? Vamos alavancar essa vontade que existe dentro de cada um de nós para opinar, dar idéias e trocar figurinhas sobre qualquer coisa. As empresas têm muito mais a ganhar do que a perder com isso. Pelo menos, ao criar esses espaços de discussão e colaboração, as empresas irão saber qual é o papo que rola nos corredores.
Enfim, as redes sociais e os blogs nas empresas são os “corredores e cafezinhos” do futuro. E esse é um caminho inevitável. Transformá-los em algo do presente depende exclusivamente das empresas. É por isso que sou chato e repito sempre que o profissional de comunicação nunca teve um papel tão importante e transformador como o que estamos tendo agora.
O grupo de comunicação nas empresas (interna e externa) tem que deixar de fazer mais do mesmo e entender o papel de agente de mudança que está diante de nossos olhos. É uma oportunidade única e imperdível. Falta coragem, né? Entrar nesse mundo novo significa risco. Aí vem a velha palavrinha de sempre... controooole.
9 comentários:
Mauro,
eu acredito que sejam dois fatores:
1- a empresa realmente quer ter o controle como vc diz
2- os funcionários em sua grande maioria não sabem usar com parcimônia as redes sociais. Não digo quem tem a função de alimentá-la.. mas quem usa.
Mauro, excelente texto. Conheci bastante coisa do que a Magda apresentou no Newscamp e achei sensacional essa liberdade. Concordo plenamente quando você diz (e a Marcia também) que não existe controle algum. Lembro de um caso de uma empresa que perdeu um grande cliente e teria de demitir uma quantidade imensa de pessoas. O assunto estava sendo tratado somente a portas fechadas pela diretoria. Era confidencial. No final, antes mesmo do anúncio dos cortes, todo mundo já sabia que a conta havia sido perdida e até quais seriam as demissões mais prováveis. Infelizmente quem está no comando das empresas ainda não percebeu a importância que a área de comunicação tem neste novo cenário. Vão aprender pela dor, creio eu!
mauro, era isso mesmo que eu dizia no outro comentário! Perfeito! Pela apresentação da Magda no Newscamp deu p/ perceber que a IBM está anos-luz à frente da grande maioria! O que pra mim, particularmente, é até uma coisa boa. Significa que eu tenho um campo imenso de trabalho pela frente a explorar! Obrigada (de novo).
Mauro, era isso mesmo que eu dizia no outro comentário! Perfeito! Pela apresentação da Magda no Newscamp deu p/ perceber que a IBM está anos-luz à frente da grande maioria! O que pra mim, particularmente, é até uma coisa boa. Significa que eu tenho um campo imenso de trabalho pela frente a explorar! Obrigada (de novo).
Oi, Silvia. Eu não diria que a IBM está anos-luz à frente, mas diria que estamos na frente na ousadia e na coragem de experimentar coisas novas. É sempre uma decisão de risco implementar coisas que ninguém conhece muito bem. Internamente nós temos muitas discussões a respeito do tema web 2.0. Obviamente, por sermos uma empresa de tecnologia, esse tema nos encanta muito. Obrigado por visitar meu blog. Mauro
Acho que as empresas ainda não montaram esses ambientes colaborativos porque não têm idéia do CONTROLE perfeito que isso representa. Rede social e usar blog, mensagens, documentos compartilhados, wikis, enfim tudo isso que a gente usa no Google é uma oportunidade imensa de controlar mais o workflow da empresa. a diferença é que esse controle passaria a ser interno e não totalmente solto, livre e pelos corredores...
Mauro, excelente texto. Na empresa em que trabalho também não há abertura para blogs, MSN, Orkut e outros, ou seja, tudo fica entre corredores e salas de café. E mesmo assim a empresa acredita ter controle. Chega a ser hilário pensar neste controle - será que a empresa acredita que quando saimos delas e chegamos em nossas casas, no barzinho com os amigos, não colocamos os nossos pontos de vistas, críticas, elogios nessas redes sociais externas?! Ou seja, o controle que a empresa insiste em dizer, não é real, ele não existe.É, extamente por isso, que acredito que a empresa só tem a ganhar em incentivar a prática dessas redes. Abraços, Milena Apolinário.
Olá Mauro, na minha empresa vamos começar agora com os blogs, hoje em dia temos um portal chamado i9, no sentido de angariar boas ideias e descobrir talentos. Hoje em dia esse portal não é respeitado pelos diretores. Eu gostaria de fazer um bentchmark na IBM, para saber como eles incentivam para um ambiente colaborativo e quais ferramentas utilizam pra isso. Você pode me ajudar ?
Arádia. Podemos conversar sim. Mas você passou um email de contato. Aguardo. Mauro.
Postar um comentário