Em 2011 eu participei do Festival de Publicidade de Cannes, tradicional evento voltado para o mundo publicitário. As palestras mais cheias (aquelas lotadas com gente pendurada no lustre) foram as do YouTube, Facebook, Yahoo e Google. Aquela experiência mostrou para mim que os publicitários finalmente tinham reconhecido o fenômeno das mídias sociais como um sério e efetivo canal para publicidade e marketing.
Qual é o problema nisso? Nenhum, a não ser que a maioria esmagadora das pessoas não querem ver anúncios publicitários nas redes sociais. Uma excelente matéria chamada "Acabou a moleza' publicada na Exame de junho cita uma pesquisa global que mostrou que apenas 3% das pessoas gostariam de ver anúncios nas redes sociais, ou seja, quase a totalidade quer ver anúncios nas mídias tradicionais.
Traduzi a pesquisa acima na seguinte mensagem:
"Não me venha encher o saco na rede social que eu gosto tanto. Aqui é meu espaço. Já chega na TV que você, anunciante, me interrompe quando quer e como quer. Não vem fazer isso aqui também e sabe por que? Porque se fizer isso eu me mando".
Eu já comecei a ouvir de amigos e colegas algumas mensagens de insatisfação dizendo que os anúncios publicitários começam a incomodar nas redes sociais. A maioria das reclamações recai sobre o facebook, apesar que a tendência é geral. Num papo recente que tive com Fabio Coelho, CEO do Google Brasil, ele disse que a Google+ está muito preocupada em manter a rede preservada dessa "cachoeira publicitária". Bom isso.
Rupert Murdoch, CEO da News Corporation, publicou o seguinte post em seu Twitter no dia 16 de maio: "Look out Facebook! Hours spent participating per member dropping seriously. First really bad sign as seen by crappy MySpace years ago". Numa tradução livre: "Cuidado, Facebook! Horas de participação por membro caindo seriamente. Primeiro sinal realmente ruim visto pelo MySpace anos atrás". Vale lembrar que a News Corporation comprou a ex-poderosa rede social MySpace por US$ 580 milhões em 2005. Seis anos depois o MySpace foi vendido por US$ 35 milhões. O Sr. Murdoch tem experiência para dar essa conselho ao Facebook.
Por outro lado, veja essa história da Procter & Gamble. Há um ano atrás, o CEO da P&G afirmou para Wall Street que uma parte importante de seu programa de redução de custos seria a migração de parte do investimento em marketing para as mídias sociais, como Facebook e Google, alegando que elas seriam mais rentáveis que as mídias tradicionais. A expectativa era cortar U$ 1bi do total do orçamento publicitário anual da P&G de U$ 10bi. Depois de um ano a empresa constatou que tal redução não aconteceu. Parece que o retorno das mídias sociais não foi suficiente para viabilizar a redução do bolo publicitário, segundo dados publicados pela Advertising Age. E, pior, como o Facebook terminou a vida fácil para os anunciantes, a perspectiva é que a P&G tenha que aumentar os investimentos publicitários. Em matéria publicada na Business Insider, o CEO e o CFO da empresa afirmaram que a verba de marketing vai aumentar.
Em resumo, os anunciantes estão migrando fortemente para as redes sociais, especialmente o Facebook. A maior evidência disso foi o recente anúncio do Facebook dizendo que eles alcançaram 1 milhão de anunciantes ativos nesse mês de julho.
Qual é a solução para aqueles que não curtem anúncios nas redes sociais? Eu não sei. Apenas sei que tal contexto pode causar movimentos migratórios de grandes contingentes de usuários para outras redes menos exploradas e ainda incipientes.
Acho que a nova geração, que nasceu sob a sombra das redes sociais, poderá ser o fiel da balança. Para onde eles forem, o mundo vai atrás.
Dias atrás, quando eu já havia publicado esse post no blog do Meio&Mensagem, alguém publicou a imagem abaixo no timeline do Facebook. Ou seja, o tema é atual.
5 comentários:
Bom artigo, gostaria de acrescentar algo, já que você citou a propaganda da TV. Olha só, você compra um televisor, paga por ele uma vez. Liga e assiste a programação que tiver, mais os intervalos comerciais. Se quiser variar, contrata TV por cabo ou satélite e paga por isso, também uma vez porém com a vantagem que na TV por assinatura a quantidade de anúncios é (deve ser) menor. Como é na internet? Você compra um computador e logo mais vai ter que trocar porque fica todo dia mais lento. Aí tem que pagar bem caro pela conexão de internet todo mês. E ainda tem propaganda de tudo quanto é jeito e para piorar, monitoram seus acessos para se intrometer na tua vida e fazer "propaganda dirigida" enfiada goela abaixo do usuário que ainda tem que pagar por isto várias vezes?
E os vídeos de propaganda no youtube? que saco aquilo
A solução é os anunciantes perceberam que anúncio, tanto nas mídias tradicionais como social é coisa do passado. As pessoas hoje são espertas. De nada adianta anunciar, se a reputação da empresa é péssima. Quer estar no Facebook? Então criar uma página com conteúdo bacana, quem tiver interesse vai curtir por livre espontânea vontade e você estará em contato com seu público direto na timeline dele, e o melhor, sem gastar nada! No Youtube, os anúncios que aparecem antes do vídeo causam mais repugnação do que visibilidade. Coloquem os anúncios no final dos vídeos! Se a pessoa assistiu mesmo o vídeo, a receptividade do anúncio será muito melhor aceita. A solução está em conteúdo interessante e não nos tradicionais anúncios. Isso é coisa do século passado! ;)
Lembro do filme A Rede, onde numa discussão o Saverin e Zuckerberg discutem a venda de espaços publicitários na rede, Zuckerberg foi categórico ao dizer: "Duardo as pessoas estão usando porque é bom desse jeito."
Esse é o desafio das grandes redes sociais: crescer com publicidade e não se tornar "chata demais".
Rodrigo
http://www.vindi.com.br
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