segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Será que Jobs, Gates e Zuckerberg teriam chance numa entrevista de emprego?
O processo de seleção não estava na velocidade desejada. A empresa desejava contratar alguém para a vaga recém-aberta na área de desenvolvimento de novos negócios. Buscavam-se candidatos com perfil empreendedor, mente inovadora e com alguns anos de experiência. O salário não era alto, mas a chance de carreira era bem concreta.
O processo de análise de currículos, conduzido pelo departamento de RH, apresentou quatro candidatos na seleção final para a vaga. Todos eram jovens e iniciavam a sua vida profissional. Eram eles: Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg e Bernard Madoff.
O passo seguinte incluiria três entrevistas com executivos da empresa e uma análise mais minuciosa do currículo e competências dos candidatos. E assim foi...
Steve Jobs acabou sendo eliminado nas entrevistas. As razões apontadas no relatório das entrevistas foram:
- O candidato parece não ter uma formação familiar sólida. Ele foi abandonado pelos pais verdadeiros e adotado por um casal no subúrbio de San Francisco, que eram operários, sem formação especializada;
- Steve não completou a faculdade. Ficou apenas seis meses e abandonou o curso, dizendo que a escola era chata e não via benefícios em continuar. Ele afirmou isso na entrevista. E disse que está pensando em tocar algum negócio próprio, mas precisava juntar dinheiro;
- O candidato se comportou de maneira arrogante nas entrevistas. Por diversas vezes, disse que a empresa estava com uma estratégia errada e que os executivos não sabiam o que estavam fazendo;
- Demonstrou estar atento às entrevistas e, curiosamente, repetiu várias vezes o nome do entrevistador, talvez para demonstrar familiaridade;
- É uma pessoa com personalidade forte. Muito assertivo;
- Falou muito sobre suas convicções, mas fez poucas perguntas. Ele queria mais falar do que escutar.
O segundo candidato, Mark Zuckerberg, também não se saiu bem nas entrevistas. Eis as razões destacadas no relatório:
- O candidato estudou em Harvard, mas nunca levou os estudos a sério. Ele contou que teve que se apresentar ao Conselho de Administração de Harvard, porque foi acusado de infringir regras de segurança na internet e de privacidade e propriedade intelectual;
- Mark parece ser uma pessoa que não quis se submeter às regras da faculdade. Ele reclamou dizendo que as regras eram caducas e abandonou a faculdade no meio do curso;
- O candidato tem dificuldade de concentração. Na entrevista, ele pareceu dispersivo, desatento;
- Ficou calado na maior parte do tempo. As poucas perguntas que fez foram desinteressantes;
- No pouco que falou, ele mudou de assunto repentinamente, demonstrando falta de foco. Parece ter muitas ideias, mas pouca capacidade de realização;
- Ele demonstrou fascínio pela tecnologia, mas parece não saber o que fazer com o conhecimento que tem. Afirma que tem ideias para que a tecnologia ajude as pessoas a se relacionar melhor, mas não consegue ser claro nessas ideias. Divaga muito.
O terceiro candidato, Bill Gates, saiu-se um pouco melhor nas entrevistas do que os anteriores, mas mesmo assim também acabou reprovado. O relatório dizia o seguinte:
- O candidato apresenta boa formação familiar. Seus pais, de classe média, tinham boa formação e eram bons trabalhadores. Ele tinha duas irmãs. A família mostrava equilíbrio;
- O candidato foi escoteiro quando jovem, o que reforça o ponto acima;
- Ele foi admitido na Universidade Harvard, mas abandonou o curso de Matemática e Direito no 3º ano. Perguntado sobre isso, o candidato disse que não queria falar a respeito;
- Por diversas vezes durante a entrevista, o candidato olhou para a janela. Parecia pensar em outras coisas. Algumas vezes, recostava-se na cadeira, ficando quase deitado, demonstrando desinteresse e falta de educação;
- Não estava bem vestido. Veio de tênis para a entrevista;
- Também durante a entrevista, ele mexeu no celular várias vezes, demonstrando desatenção com o entrevistador.
O último candidato, Bernard Madoff, saiu-se muito bem nas entrevistas e acabou sendo o escolhido pelos executivos. Eis alguns dados do relatório:
- O candidato nasceu de família judia, cujos pais eram bons trabalhadores;
- Seu primeiro trabalho foi como encanador, mostrando um início humilde, o que é muito positivo;
- Boa formação universitária, tendo estudado Ciências Políticas e Mercado de Capitais;
- Compareceu às entrevistas vestindo terno, o que mostra preocupação com a imagem;
- Nas entrevistas, parecia ouvir tudo atentamente e fez muitas perguntas, demonstrando curiosidade;
- Mostrou concentração, foco e interesse;
- Também mostrou ambição e ansiedade, o que pode ser muito bom para um jovem em início de carreira.
O candidato Bernard Madoff foi escolhido por unanimidade pelos entrevistadores. Ele apresentava mais qualidades e evidências de um potencial talento do que os outros.
Steve, Bill e Mark receberam cartas da empresa, agradecendo a participação no processo e dizendo que os seus currículos continuariam no banco de dados da empresa.
Observação:
Em dezembro de 2008, Madoff foi detido pelo FBI e acusado de fraude. A fraude foi em torno de 50 bilhões de dólares, o que a torna a segunda maior fraude financeira levada a cabo por uma só pessoa. Em junho de 2009 Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por um tribunal em New York. Em dezembro de 2010 o seu filho Mark Madoff se suicidou.
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carreira,
comportamento
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17 comentários:
Muito bom!!! As pessoas levam muito a sério esses "manuais" de comportamento e conduta corporativa, tem até passo a passo para o sucesso, RIDÍCULO, "joguem sua individualidade no lixo e sigam esse roteiro e terão sucesso", se vc quiser trilhar o mesmo caminho de tantos outros, go ahead!!
Mauro,
fantástico o texto. Gostaria de pedir permissão para compartilhá-lo em meu blog, dando os devidos créditos, naturalmente.
Eu faço um trabalho voluntário de apoio a profissionais que estão buscando se recolocar no mercado de trabalho e muitos colaboradores da área de Recursos Humanos o acompanham. Já bati muito na tecla da necessidade de evoluir o olhar do recrutador, mas às vezes sinto que estou gritando sozinha no meio da multidão.
Tenho hoje vários excelentes profissionais no meu banco de currículos procurando uma colocação e que são rejeitados nas entrevistas pelos motivos errados... Isso me machuca.
Profissionais sêniores recusados pela idade; jovens idem; mulheres por não serem um símbolo de feminilidade, outros por não terem um MBA, apesar dos anos de experiência e excelentes resultados...
Ano passado, quando eu estive desempregada, me falaram para que eu deletasse meu blog e parasse com meus trabalhos voluntários, pois um deles é numa Organização que atua no âmbito do controle social e da democracia participativa. Diziam que Empresa não gosta de funcionário politizado, pois "cheira a confusão". Não fiz nada disso.
"Sou o que sou, não o que querem que eu seja", já diz minha bio no facebook.
Simples assim.
Grande abraço,
Adriana
Puxa vida... fiquei encomodada com esse post. Primeiro pq meu senso comum me apontou: ta vendo, nao podemos julgar pela aparência... olha no que deu o exemplo do Madoff. Mas ao mesmo tempo fiqui pensando no lado da empresa e do entrevistador... se Madoff tinha as condiçoes e perfil que a empresa queria, fizeram a escolha certa, nao é? Simples assim para o momento. O problema acho que está mais embaixo... quais os valores dessa empresa? O que ela busca realmente? Como ela cuida de seus funcionários? O que ela faz para manter a saude mental deles ? O que ela faz para ajudar a contruir pessoas honestas e humanas e coibir qualquer tipo de fraude e mau comportamento?? Não sei se o problema estava no momento da contratação nao... acho que os principios, valores e objetivos da empresa devem ser observados nessa historia também. Gde abço!
Adriana.
Use e abuse. Sinta-se livre para publicar o texto em seu blog. E agradeço que dê os créditos.
Qual é o seu blog?
Fiz o texto para incomodar mesmo. Acho que o universo de recrutamento e seleção muito desafiador. A contratação de um candidato é decidida numa entrevista, as vezes, de 30 minutos. Isso me lembra também o processo do vestibular, onde o futuro do candidato é decidido numa prova. Enfim, são as mazelas do mundo competitivo.
Obrigado por prestigiar meu blog e pelos elogios... rsrsrs. Divulga ele para os seus colegas e amigos. Abcs. Mauro.
Pois é, Mari. Veja o comentário que escrevi para Adriana. Decidir o futuro de alguém numa entrevista é sempre um risco. Enfim, obrigado pelo prestígio de sempre em visitar e comentar no meu blog. Faz muuita diferença. Abcs. Mauro.
Excelente texto! Retrata bem a realidade dos absurdos que avaliam em entrevistas de recrutamento e seleção.
Parabéns! =)
Thaís Castilho
Excelente artigo, não conhecia o blog, passo a segui-lo agora com mais frequência.
Mauro, post muito bom, como sempre!
Forte abraço! Vou compartilhar no meu twitter.
Tá aí!! O "pessoal" que recruta "pessoal" não entende nada de competência. Se bem que para cometer uma fraude tão grande, o cara tem que ser muito bom mesmo!!
Você mesmo que fez este texto, Mauro? Mandou bem demais!
De certa forma, temos que agradecer a esses padrões estabelecidos, viu, Mauro. É por causa disso, inclusive, que muitos indignados, como eu, se lançam a empreender, a desenvolver e pôr em prática ideias e a fazer seus nomes e de suas empresas.
Parabéns por nos mostrar e nos ajudar a ponderar mais e mais sobre essa questão. E viva os Jobs, os Zuckerbergs e Gates, por mais controvertidos que sejam. E abaixo os Madoffs. Argh.
Um abraço,
Newton - @New_Alexandria (ou @DrConteudo)
Fala Dr. Conteúdo. Sim, sim, fui eu que criei e escrevi. Se eu colocar algo que não seja de minha autoria, com certeza estarei dando o crédito. Obrigado por visitar e comentar no blog. Abraços. Mauro.
ESPETACULAR!
Vivo um momento bem parecido com o dos reprovados: há mais de 1 ano tentando preencher o 'quadrado' perfil que as empresas buscam, mas não me encaixo. Talvez seja 'prisma'!
Oi Mauro!
Honestamente, não lembro como cheguei no teu post, mas realmente achei muito legal!
Realmente temos que mudar muitas coisas, e o teu post me fez pensar tanto que eu resolvi escrever um post no meu blog sobre o teu texto.
Eu não concordo com tudo o que tu disse, mas concordo com grande parte!
Se tu quiser dar uma olhada no que eu escrevi, está aqui http://dicasdotnet.blogspot.com/2011/03/eles-nao-sao-deuses.html
Abraço,
Oscar Albrecht
http://dicasdotnet.blogspot.com/
Nossa. simplesmente show o post.
Concordo com o Demétrio "As pessoas levam muito a sério esses "manuais" de comportamento e conduta corporativa, tem até passo a passo para o sucesso".
Não cita fonte.. E desde quando Bill Gates teria celular em uma entrevista de emprego a pelo menos 35 anos atrás? Me parece pura fantasia.
Oi, Jader. Obviamente que este texto é uma ficção. Eu misturei situações reais com algumas invenções minhas para fazer o ponto de que o mundo corporativo nem sempre é justo e racional. Obrigado por colaborar com o blog. Abraços. Mauro.
Boa estória, mas que acontece na vida real, creio que sim...
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