domingo, 4 de julho de 2010

Uma lição da Copa: Dunga e Maradona, tão diferentes, tão parecidos

Vejam a seleção de Dunga.
Uma seleção fechada, carrancuda que nem o chefe, de treinos escondidos, proibida de falar com a imprensa e sempre evitando a torcida. Um Dunga que quase não deu folga aos jogadores, sempre enclausurados e controlados. Um Dunga de pouco sorrisos, de grosserias e palavrões. Um chefe que implementou um esquema de caserna desde que chegou na África, no dia 27 de maio. Ele sempre disse que aquele era um grupo fechado, mas que nunca realmente nos transmitiu a imagem de um grupo espontâneo e genuíno.
Ao longo das duas últimas semanas, mais do que nunca, Dunga demonstrou falta de estabilidade emocional. Soltava palavrões durante os jogos, xingava jornalistas nas poucas coletivas em que era obrigado a participar, sempre tenso e fechado. O clímax de toda história foi a derrota de 2 a 1 para Holanda, quando o time brasileiro mostrou falta de equilíbrio emocional para superar a adversidade. Dunga saiu de campo bufando e dando as costas para a equipe que liderou. O Brasil saiu da Copa nas quartas de final, num jogo que mostrou incapacidade de reação.

Vejam a seleção de Maradona.
Antes da Copa, na conturbada classificação da Argentina, Maradona entrou em pé de guerra com a imprensa. Até 3 de junho nenhum jogador e nem o técnico deram entrevistas. Os treinos foram fechados no centro de treinamento da Universidade de Pretória, sede da seleção de Maradona na Copa. Por outro lado, os liderados de Maradona foram tratados a pão de ló. Sexo, vinho e churrasco estavam liberados na concentração de Maradona. Sem abuso, mas liberado. A visita de familiares foi permitida durante todo o tempo da competição. Haviam muitos mimos para os jogadores, como videogame nos quartos e sorvete disponível 24 horas por dia. A partir de 3 de junho a imprensa passou a ter acesso à seleção argentina, porém ainda de forma limitada. Apareceu um Maradona de fartos e generosos sorrisos, as vezes até um pouco irônico. Às vésperas da estreia da Copa, durante um treino, num momento de descontração, Maradona acendeu um charuto à beira do gramado. Sempre demonstrando muito afeto na relação com seus comandados, era comum vê-lo beijando e abraçando os jogadores nos mais variados momentos. Um grupo espontâneo, que demonstrava confiança, e até um pouco de arrogância. Esta história acabou na derrota de 4 a 0 para a Alemanha. Maradona entrou em campo e beijou carinhosamente cada um dos comandados. A Argentina saiu da Copa nas quartas de final, num jogo que mostrou incapacidade de reação.

Dunga, líder de um grupo enclausurado, tenso, desconfortável, de poucos sorrisos, submetido a um modelo quase militar de trabalho e supostamente muito concentrado.
Maradona, líder de um grupo espontâneo, confortável, de exagerados sorrisos, submetido a um regime de trabalho com muitas liberdades e supostamente relaxado.

Dunga e Maradona, egos maiores dos que as suas próprias seleções.

Dunga e Maradona, Brasil e Argentina, dois extremos na Copa, ambos saindo nas quartas de final. Eu me atrevo a levar o cenário acima para o mundo corporativo, onde empresas fechadas e carrancudas e empresas extremamente abertas e descontroladas correm o risco de irem para o mesmo lugar. São empresas que no mundo competitivo moderno dificilmente passarão das quartas de final, nunca ganharão a Copa e nunca ocuparão um lugar de destaque. Acho que a comparação é muito válida.

Apesar dos extremos, ironicamente, Dunga e Maradona tinham algo em comum: ambos assumiram o posto de treinadores da seleção de seus países sem jamais terem treinado um time de futebol antes.

Pra terminar, vejam a coincidência infeliz. Se pensarmos só na nossa seleção brasileira, o oba-oba canarinho de 2006 e a caserna verde-amarela de 2010 terminaram do mesmo jeito: nas quartas de final.





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12 comentários:

Glaucea Boeing disse...

Apenas uma pequena correção: o Brasil perdeu de 2 x 1 para a Holanda (não de 1 x 0).

Alessander disse...

Excessos são errados concordo mas para mim o Maradona foi um líder e não um técnico. Ele tinha péssima defesa e por isso perdeu a copa. Acredito que a incapacidade dele e do Dunga tiveram mais impacto na derrota do que o método deles de administração.

Mauro Segura disse...

Glaucea. Que bebida foi essa que bebi?? Obrigado pelo alerta. Já corrigi no texto. E obrigado por visitar meu blog. Abcs. Mauro.

Mozart disse...

Muito boa comparação, a arte da liderança é o equilíbrio. Principalmente o emocional. Afinal que ganha é a equipe e não treinador (chefe)

Anônimo disse...

Mauro,

ótimo comparativo, GRANDE SACADA! Realmente é necessário equilíbrio em tudo na vida....

Obrigado por relacionar o "relações" nos links de blogs do A.Q.O.

Abraços
Pedro

belino disse...

Fala Mauro,

Não concordo com seu parecer sobre o Dunga pois é ignorado tudo que aconteceu antes dessa postura "fechada" (em todos os sentidos). Não concordo com os palavrões e acho mesmo que houve um certo descontrole sempre sobre a seleção. No entanto, acho que isso deve-se ao fato de uma cobrança além da conta para algo deve ser leve e prazeroso: o esporte. É uma onda, cada vez mais louca, cada vez maior, de exigência pela perfeição, afinal, no que deveríamos ter real exigência, corre solto.

Agora, abro parênteses: que admiração pela recepção aos hermanos, heim? Que belo exemplo de personalidade e cultura.

Abs,
Arthur

Mauro Segura disse...

Fala Pedro. Obrigado pelo comentário. Estou seguindo o Relações porque tem conteúdo relevante, tão simples quanto isso. Grande abraço e obrigado por visitar o blog. Mauro.

Mauro Segura disse...

Fala, Arthur. Eu respeito o seu ponto de vista, mas eu acho que faltou liderança e equilíbrio no comando da seleção. Tenho também dúvidas a respeito deste conceito de grupo "fechado", mas esta é uma discussão mais complicada. Também não concordo com o que você escreveu "tudo que aconteceu antes dessa postura fechada (em todos os sentidos)", mas o que aconteceu de diferente antes? Eu, sinceramente, não vejo diferenças significativas. Gosto muito de um post do Guilherme Fiúza que conta as 7 vidas do Dunga (ver abaixo). Enfim, é a minha opinião. Futebol é muito passional, portanto esta é uma conversa que deveríamos ter tomando um chopp. Envio abaixo links de 3 bons artigos que valem a pena. Obrigado por visitar meu blog e pelo comentário. Gosto muito quando alguém apresenta um ponto de vista diferente. Abraços.

http://colunas.epocanegocios.globo.com/bloglider/2010/07/05/lideranca-bernardinho-a-solucao/

http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2010/06/26/a-doutrina-dunga/

http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2010/07/05/o-fantasma-de-dunga/

Ocappuccino.com disse...

Esta comparação pode refletir a cultura e o clima organizacional de empresas opostas mas que podem ter o mesmo resultado? Neste caso o que diferencia o sucesso do fracasso? Em ambos os cenários (futebol e corporativo) as equipes/empresas precisam derrotar adversários/concorrentes, mas eaí? O que determina o final deste jogo é a sua postura ou a reação do 'inimigo'? O livro oceano azul fala de 'movimentos estratégicos', não será isso que faltou em ambas as seleções e falta às empresas? Contudo a Holanda teve um movimento estratégico, pois o segundo tempo foi totalmente diferente do primeiro. Mas a comparação é bem realista, olha este post > 'Transformar Ilhas de Competências em um Arquipélago de Excelência: O Grande Desafio dos Líderes' do blog do Líder (César Souza) > http://colunas.epocanegocios.globo.com/bloglider/2009/06/15/transformar-ilhas-de-competencias-em-um-arquipelago-de-excelencia-o-grande-desafio-dos-lideres/

Não sei se minhas perguntas tem resposta :(

PS: Já respondi no twitter, mas respondo aqui tb, não estava no aeroporto, mas apoio o Dunga, afinal sou gaúcho, sou bairrista :D

Abraços
Mateus

Zee Lima disse...

Fala Mauro!

Excelente colocação. Pq se começamos a pensar profundamente vemos que o que em aparência é tão distante (a abertura argentina x o concha fechada brazuca) deram na mesma.

Não só em resultados mas em ações práticas também. Ambos tiraram do "jogo" o assédio dos repórteres, transformaram um evento esportivo numa guerra (ou num ringue) entre outras ações que só podiam ter esta conclusão.

Então eram tão diferentes assim as duas seleções? Será que tanto a concha brazuca, quanto a liberdade argentina não eram apenas fachada para um exagerado controle e falta de foco?

Nesse mundo de estratégias corporativas e coisas do gênero como saber quem vai levar a melhor? Eu fico com a resposta simples de um cliente meu... são 20 anos de mercado trabalhando num segmento extremamente complicado correias de transporte para usinas de cana e laranja.

Ele diz: "Qualidade; invista nela tudo o que vc ia investir em todo o resto."

Acho que nós e nossos vizinhos investimos em outras coisas do que a qualidade (no sentido mais amplo). E no caso das empresas... idem.

Abraço a todos!

Mauro Segura disse...

Mateus. Estas perguntas são muito complexas e não sei a resposta não. Vou ficar devendo, mas se você souber manda pra mim, ok? :(
O seu post sugerido é excelente.
Abraços. Mauro.

Augusto Pinto disse...

Mauro, excelente as duas analogias, a primeira comparando 2006 com 2010 e a segunda levando para o mundo corporativo.

Eu faria uma terceira analogia: com o Brasil do Lula, que parece muito o escrete do Maradona. Se a lógica prevalecer, infelizmente a gente pode imaginar onde isso cai dar...

abs

Augusto Pinto

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