Sim. O estresse pode ser positivo.
Antes de tudo, eu tenho uma pergunta para você: Você gostaria de trabalhar numa empresa cuja organização está estressada? A grande maioria das pessoas diz “não” para essa pergunta. Aliás, todos falam "não". Tenho certeza disso pois eu venho testando essa pergunta nos últimos anos.
E se mudarmos a pergunta para: Você gostaria então de trabalhar numa empresa cuja organização está relaxada. Não? Quase todas as pessoas me dizem que não achariam legal trabalhar num grupo de pessoas relaxadas.
Então? Qual é a resposta certa? O pulo do gato é entendermos bem o que significa ESTRESSE e o impacto que isso gera na empresa, ou melhor, nas pessoas que trabalham na empresa, especialmente porque a palavra ESTRESSE quase sempre é usada de forma negativa.
De acordo com Bruce McEwen, autor do livro “O Fim do Estresse como Nós o conhecemos”, o estresse faz muito bem para o ser humano. Segundo ele, o estresse faz o cérebro reagir e ficar preparado para o pior, ficamos prontos para tomar decisões com mais rapidez, nossa memória fica mais ativa e parece que aumenta a nossa capacidade de guardar informações. O aumento do nível de ansiedade nos faz mais alertas e competitivos. Ou seja: pessoas estressadas potencializam suas capacidades de superação de problemas, planejamento e tomadas de decisão. Isso parece bom, né?
Por outro lado, o estresse contínuo e em excesso é perverso pois os efeitos benéficos desaparecem. A pressão excessiva acaba trazendo prejuízos ao corpo, gerando um cansaço mental e físico indesejáveis que trazem problemas de memória e irritabilidade, podendo até gerar problemas no coração e hipertensão.
O resumo é que o estresse moderado é bom, mas com muito cuidado para não passarmos do ponto de equilíbro.
Se aplicarmos esta perspectiva no mundo corporativo, podemos dizer que gerar um nível de estresse na organização pode ser positivo. Fazer com que cada funcionário receba uma dose de estresse e pressão pode dar a atenção e o senso de urgência que toda empresa precisa. Não estou falando da pressão que o gerente impõe ao funcionário direto. Estou falando de fazer com que cada funcionário entenda os desafios e os objetivos gerais de curto e médio da empresa, e como ele pode ajudar à empresa a superá-los.
Essa sensação de inquietude na busca dos objetivos empresariais pode ser muito saudável para a organização, pois permite aglutinar os funcionários na busca de metas comuns, gerar um senso de foco e sinergia, além de dar um "chega prá lá" nos mais acomodados. Por outro lado, não é razoável manter a organização sob contínuo estresse. Celebração de conquistas, momentos de relax e reflexão são importantes para aliviar o acelerado ambiente corporativo que temos nas empresas atualmente.
Nesse cenário, cabe aos executivos e à área de comunicação interna a tarefa de manterem a organização em estado de alerta, porém, mostrando o caminho. Como fazer isso? Eis alguns conceitos sugeridos:
1- Estabelecendo uma comunicação clara dos objetivos e desafios empresariais. Para isso é importante desmistificar a estratégia da empresa, tornando-a simples e descomplicada. Cada funcionário tem que ter a capacidade de entender a estratégia geral da empresa e saber conversar sobre o assunto em qualquer ambiente;
2- Mostrando com clareza os obstáculos que a empresa têm que vencer para cumprir os seus objetivos. Os funcionários têm que entender onde e como podem contribuir para essa superação;
3- Mantendo uma comunicação interna constante e ativa, evidenciando, de maneira evolutiva, as conquistas e as dificuldades. É importante que os funcionários tenham noção do que está sendo vencido e onde estão as dificuldades mais resistentes;
4- Criando um ambiente altamente colaborativo, onde os funcionários sejam incentivados a colaborar e interagir com a direção da empresa;
5- Incentivando uma maior tomada de riscos nas decisões por parte dos funcionários, mas de forma consciente. Para isso as pessoas têm que estar mais preparadas, treinadas, informadas e incentivadas a agir dessa maneira. É o que chamamos de cultura de experimentação e risco.
Você continua não gostando da palavra ESTRESSE? Ok, então pode mudar o título do post para: Como colocar a Organização em Estado de Alerta.
Em resumo, impor um nível moderado de pressão e estresse na organização é muuuito saudável. Saber dosar e trabalhar essa ansiedade interna, é algo cada vez mais importante para a comunicação interna das empresas. Esse tipo de desafio é muito diferente do velho e tradicional jornalismo corporativo que muitas empresas ainda esperam da sua área de comunicação. Trata-se de uma transformação inevitável, que muitos ainda resistem e têm dificuldade de entender, mas essa é uma exigência do novo ambiente de trabalho que vivemos.
Cabe aos profissionais de comunicação que trabalham nas empresas, entender esse “novo” perfil de profissional que as empresas precisam. O problema é quando a empresa e o time de comunicação não enxergam esse novo cenário, aí não tem jeito, a comunicação interna vai continuar sendo o departamento da divulgação, da revistinha e do “funcionário do mês”.
4 comentários:
Muito bom texto, realmente empresas que não estabelecem um nível mínimo de stress certamente acabam não explorando todo o potencial de seus colaboradores.
Tesore
Muito bom teu texto, a leitura, apesar de grande, é fácil.
E este assunto, desconhecido pra mim, é excelente. Mas alterar esta cultura ("impor um nível moderado de pressão e estresse na organização")sem tornar o ambiente excessivamente estressado (maléfico) não deve ser simples. Um grande desafio. Nos conta, os colaboradores da IBM Brasil congregam este estresse positivo?
Abraços,
Mateus d'Ocappuccino
Oi, Mauro. Este post tem tudo a ver com outro que li hoje mesmo, no blog da Cristiane Correa (http://portalexame.abril.com.br/blogs/cristianecorrea/20090429_listar_dia.shtml?permalink=164084).
De fato, não queremos trabalhar em empresas "relaxadas". Mas como é difícil acertar a mão neste ponto de equilíbrio que vc mencionou - seja na postura dos executivos, seja na comunicação aos funcionários.
bjos.
Oi, Izabel. Sou leitor do blog de Cristiane Correa e o post dela é muito bom, né? Me identifiquei com a história dela pois tenho um histórico parecido.
Como você e Mateus comentaram, é muito difícil encontrar o ponto de equilíbrio. As vezes erramos a mão e exageramos, outras vezes somos lentos e perdermos o momento correto para entrar em estado de alerta. Aqui na IBM temos exercitado um pouco esse conceito. É sempre um desafio pois a empresa está muito segmentada, muitas vezes a companhia vai bem, mas algumas específicas unidades não vão tão bem assim. Outras vezes é o contrário. Esse ambiente multi-segmentado adiciona uma maior complexidade a algo que já é complexo. Enfim, é um aprendizado constante. Temos usado nossos canais de comunicação interna para implementar o conceito. Quando sentimos que é necessário dar um "chega-prá-lá" na turma, nós mudamos até a forma como construímos os textos em nossos veículos. Eles ficam mais pragmáticos, usamos menos adjetivos e repetimos os objetivos de curto prazo.
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