Há dois anos, numa conversa com Marcelo Miranda, diretor de marketing
da Sky, ele me contou alguns “segredos” que viabilizaram o avanço
contundente da empresa nos últimos anos. A Sky vem crescendo dois
dígitos ano a ano, tendo dobrado a base de clientes em três anos,
alcançando hoje mais de 5,4 milhões de assinantes. Um feito
extraordinário. Nada aconteceu por acaso, o aumento veio de
planejamento, ousadia, inovação e, principalmente, porque eles passaram a
entender melhor o seu cliente.
Me responda: quem é o cliente da Sky? Tipicamente, numa casa de
família, o cliente da empresa é o pai ou a mãe, que é pagador da conta,
mas na maioria das famílias nem sempre quem paga a conta é o decisor.
Na família moderna, quem decide o que será visto na TV são os filhos.
Portanto, numa típica família do século 21, o pai ou mãe paga a conta,
mas quem decide são os filhos.
Um dos motivos que permitiu a Sky crescer foi ela conhecer melhor
quem é o cliente de cada casa, foi aprender a linguagem das crianças e
dos adolescentes, entender a dinâmica no consumo da TV dentro dos lares e
iniciar uma conversa com os antigos e os novos interlocutores da marca e
do serviço.
Enfim, até anos atrás, eram as operadoras de TV que ofereciam a
programação e os consumidores tinham que aceitar o que recebiam. Agora o
jogo mudou e são os principais influenciadores da casa que decidem,
normalmente os mais jovens. E, a reboque, vem todo o restante de
serviços prestados via web e dispositivos móveis, como smartphones e
tablets, que são parte do corpo da nova geração.
A história da Sky grudou na minha cabeça e tem um paralelo
impressionante com a indústria de TI. A adoção da tecnologia pelas
grandes empresas sempre teve o CIO como o protagonista. Ele foi e
continua sendo super importante, mas o jogo mudou dentro das empresas. O CIO não é mais o ser soberano que avalia e toma as decisões de TI
isoladamente dentro das empresas. O CIO sempre me pareceu um sujeito
solitário, que cuida de grandes investimentos e adoção de tecnologia que
vai modelar a empresa durante os anos seguintes. São decisões de grande
impacto, por isso muitas vezes são decisões complexas e demoradas.
Se olharmos para trás, até a década passada, a TI era algo muito
concentrado na operação interna da própria empresa. Em tempos atuais, o
CIO praticamente trabalha para atender as necessidades das linhas de
negócio. As novas tecnologias emergentes criaram um consumidor e cliente
totalmente dependentes de tecnologia. As áreas de marketing e vendas
dependem do uso intensivo de tecnologia para interagir com os clientes.
Logística e finanças, por exemplo, também se tornaram áreas necessitadas
de investimentos pesados em tecnologia.
Ou seja, as decisões de TI dentro das empresas não estão mais somente
com o CIO. Quem decide, influencia, pressiona, determina prazos e
prioridades não é mais o CIO, mas os seus pares dentro das empresas. A
dinâmica mudou completamente. Uma das grandes dificuldades é de
linguagem. Não adianta procurar o CMO para falar de servidores ou integração de
base de dados, o interesse e a linguagem deles são outros. As
prioridades também são diferentes. A velocidade é outra. A cabeça desse
pessoal funciona de maneira distinta. E isso também vale para CFOs,
COOs, CHROs e outros C-Level.
O paralelo com o caso da SKY é incrivelmente válido. No mundo da TI,
os CIOs são os velhos pais, os sábios, que sabem das coisas, tomam
decisões racionais e precisam se preocupar com coisas que ninguém
imagina. Os jovens são os CMOs, CFOs, CHROs e COOs. São aqueles que precisam
de tudo que é novo, tem pressa, sofrem de ansiedade, batem pé, tendo que
atender seus anseios e necessidades prementes, sem desculpas ou
justificativas complexas. Da mesma maneira que os jovens pedem tudo aos pais, os C-Level também
pedem tudo para os CIOs. E, se não são atendidos, vão buscar a saída de
outra forma.
É preciso entender essa nova dinâmica, aprender como conversar e se
relacionar com cada um deles. Tal qual a Sky, o cliente de TI dentro das
empresas mudou. Esse é um dos segredos para que os grandes provedores
de tecnologia no mundo corporativo tenham sucesso nessa nova jornada de
transformação da tecnologia.
2 comentários:
Pelo menos aqui na minha cidade, o principal motivo que proporcionou o crescimento vertiginoso da SKY foi o esquema de compartilhamento de pontos da assinatura. Em vez das pessoas usarem os 4 pontos de direito com aparelhos em outros cômodos da sua própria casa, elas os compartilha com outros amigos, e todos ajudam a pagar a mensalidade da Sky para o assinante principal. Se não fosse assim, a grande maioria das pessoas não teria condições de pagar os planos da Sky, que são caríssimos para o consumidor médio brasileiro. É claro que esse esquema é ilegal, mas com certeza a Sky está ciente disso, porque como você mesmo disse, ela conhece o seu cliente como ninguém...
Estes textos obre mkt e estratégia nunca falam a real mesmo, sempre tem um pulo do gato , mas ninguém revela, sky compartilhada esse sim é o verdadeiro segredo , eles fazem vista grossa e fingem que são bons de mkt, conheço bem esses historias depois de 20 anos na área ....
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