domingo, 18 de outubro de 2009

Quando o incentivo monetário não resolve

Quem me passou o vídeo abaixo foi um colega de trabalho. É um excelente vídeo de Daniel Pink, conhecido consultor e autor de livros no mundo empresarial. Aliás, eu já li e recomendo um livro dele chamado "O Cérebro do Futuro". Vou até escrever um post sobre as ideias apresentadas no livro pois merece. Para conhecê-lo melhor eu convido você a ler uma entrevista dada por ele para a HSM. Acesse AQUI.

Enfim, o objetivo deste meu post é compartilhar as ideas apresentadas por Daniel Pink no vídeo abaixo de 18 minutos. Ele aborda um tema recorrente na esfera corporativa: o sistema de recompensas e incentivos.

Eu já tenho uns 128 anos de vida corporativa, já trabalhei como técnico eletricista, engenheiro, em fábrica, em escritório, em vendas, em administração, em marketing e até, acredite, em comunicação. Em todas as minhas sete vidas corporativas eu sempre ouvi coisas do tipo:
"-- Quer aumentar as vendas? Então aumenta os prêmios para o vendedores e bota mais pressão";
"-- Quer criar um programa de sugestões de ideias dentro da empresa? Então lança um programa de recompensas que as ideias vão aparecer";
"-- Quer buscar novas formas de reduzir custo? Então cria um sistema de incentivo monetário onde os idealizadores das propostas receberão parte do dinheiro economizado pela empresa".

Em resumo, as empresas quase sempre partem para programas de recompensa monetária quando pensam em aumentar seus negócios, sua produtividade ou buscar mais criatividade. Isso ainda é muito comum e um recurso usado abundantemente no mundo empresarial.

Daniel Pink surpreende ao dizer que tais sistemas de recompensa só funcionam em situações muito especiais, particularmente quando há um grupo simples de regras e um objetivo claro para se alcançar. Ele diz que recompensas, por natureza, estreita o nosso raciocínio e concentra a mente, restringindo possibilidades devido ao foco excessivo. E cita um excelente experimento chamado "The Candle Problem" para defender a sua teoria. Eu não vou contar aqui, mas esta história é muito boa e só ela já vale o vídeo.

Em resumo: os prêmios monetários criam foco e pressão, fazendo as pessoas a fazerem "mais do mesmo" para alcançarem rapidamente seu objetivo, minimizando tremendamente as chances das pessoas pensarem diferente.

Ele diz que a motivação verdadeira, genuína, deve estar baseada em 3 pilares:
- AUTONOMY - AUTONOMIA - o desejo de sermos donos das nossas próprias vidas;
- MASTERY - DOMÍNIO OU CONHECIMENTO PROFUNDO - o desejo de fazermos cada vez melhor as coisas que realmente nos interessam;
- PURPOSE - PROPÓSITO - o desejo de fazermos coisas que façam a diferença e que sirva a algo maior que nós mesmos.

Ou seja, se conseguirmos implementar um ambiente corporativo onde os funcionários tenham mais liberdade de trabalho, com oportunidades reais de se desenvolverem continuamente no que gostam e que participem de algo realmente construtivo e importante para a sociedade, certamente vamos ter funcionários mais motivados, criativos, inspirados, comprometidos e cúmplices da empresa onde trabalham. Esse conceito é muito maior que um programa de incentivos. Poderíamos até chamá-lo de filosofia corporativa ou valores corporativos.

Minha percepção é que falta um quarto conceito que é INSPIRAÇÃO, que de alguma forma está ligado ao PROPÓSITO. Chamo de inspiração o incentivo para as pessoas pensarem diferente, sonharem e não se prenderem nas regras e nas limitações do dia a dia. Muitas empresas têm programas definidos para isso. Talvez o melhor exemplo seja o Google que permite que TODOS os seus funcionários usem de parte do seu tempo de trabalho para trabalharem no que quiserem, sem necessariamente vínculo com os objetivos da empresa, podendo usar os recursos internos para serem criativos e desenvolverem novos projetos inspiradores. Acho INSPIRAÇÃO um componente muito importante no mundo corporativo atual que é cercado por pragmatismo e metas arrojadas. Utopia? É, pode ser. Mas as empresas têm que pensar nisso.

Voltando aos trilhos do vídeo...

Daniel resume a apresentação dizendo que existe um desencontro entre o que a ciência sabe e que o mundo prático mostra:

1- Aquelas recompensas do século XX, aqueles motivadores que pensamos ser parte natural dos negócios, funcionam somente em uma faixa surpreendentemente estreita de ciscunstâncias;

2- Recompensas monetárias frequentemente destroem a criatividade;

3- O segredo para alta performance não é o modelo "recompensa/punição", mas aquele desejo de fazer as coisas que importam.

Eis o vídeo abaixo. Acione a opção de "subtitle" para a legenda em português. E pressione a opção de tela inteira pois a apresentação merece.


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5 comentários:

Dienes disse...

Duas palavras: Fantástico e Verdadeiro.

Zee Lima disse...

É exatamente isso.

Aquela história de 1% de criatividade e 99% de árduo trabalho é pura falácia. Se fosse verdade viveríamos no paraíso, afinal o índice de criatividade corporativa deve girar em torno de bem menos de 1%...

É como diz um velho amigo meu, "quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro." Parece incoerente a primeira vista, mas não é.

Quando nós não tinhamos mobilidade, ou seja quando nossos horizontes eram definidos pela televisão, tínhamos uma estrutura de pensamento.

Hoje, nós temos mobilidade (celulares, GPS, internet, games, livros...) nosso horizonte é variável; nossa estrutura está acompanhando a mudança.

Qualidade de vida hj, é tão importante quanto um saldo bancário gordo. E com certeza criatividade está licada a qualidade de vida.


Abraços a todos.

Ocappuccino.com disse...

Simplesmente genial: 'Nnoções tradicionais de gerenciamento são ótimas. Se quiser conformidade. Mas se quiser engajamento, auto-direcionamento funciona melhor. Autonomia, domínio e propósito. Essas são as peças de uma nova forma de se fazer as coisas. Há um desencontro entre o que a ciência sabe e o que os negócios fazem.'

Será que este modelo funciona para qulquer empresa de quaqluer negócio?

MATEUS

Alex Campos - MG Group disse...

Fantástico! O mais interessante é que continuamos lutando contra fatos. Há muito tempo insistimos no 1% inspiração e 99% transpiração. Já fiz muitos treinamentos, principalmente em vendas e todos dzem a mesma coisa "1% inspiração, 99% transpiração", e nunca conegui realmente acreditar nisso. Talvez para vender parafusos ou pregos isso funcione, mas como fazer isso com soluções complexas? Como assumir uma postura mecânica diante de problemas complexos e com tarefas pouco ou nada estruturadas? Depois de ver o vídeo deixei de me sentir sozinho no mundo.

Abraços,
Alex

Mauro Segura disse...

Alex.
É isso mesmo. Gostei do seu exemplo dos parafusos e pregos. Não é possível assumir uma postura mecânica ou uma solução trivial diante de um problema complexo ou desestruturada. Abraços e obrigado por visitar meu blog. Mauro.

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