O post da Eline “Mark Zuckerberg e a capacidade criativa dos jovens nas empresas”, publicado no Foco em Gerações, fundiu a minha cuca. Prá você que está pegando carona nesse assunto agora, a Eline participou de um encontro com Mark Zuckerberg, dias atrás, num evento da FGV. E quem é ele? Mark é o menino prodígio que criou o Facebook aos 19 anos de idade.
Eline apresentou muitos insights legais (não deixe de acessar o post original dela). Mas teve um que me chamou a atenção: “Mark acredita que são as pessoas autônomas, e não aquelas que estão dentro de grandes organizações, as que têm mais condições de desenvolver os aplicativos mais requisitados, exatamente porque não estão com sua criatividade cerceada”.

Peguei toda a quilometragem rodada que eu tenho no mundo corporativo e fui pro cantinho pensar. Eu me desafiei a pensar em possíveis barreiras, oportunidades ou tendências atuais que influenciam na capacidade colaborativa para inovação dentro das grandes empresas. E constatei que as empresas podem estar numa sinuca de bico.
O primeiro sinal é que muitas empresas já descobriram que a CAPACIDADE DE INOVAÇÃO não está somente localizada nos centros de pesquisa e desenvolvimento que possuem. A inovação pode estar em toda a cadeia, em qualquer parte da empresa, e não somente no produto: pode estar na forma como atendemos o cliente, na fatura de cobrança, na maneira como nos relacionamos com o fornecedor, em algum processo logístico, enfim, em todos os lugares. Quando pensamos dessa forma, fica fácil ver que a grande capacidade inovadora não está nos laboratórios ou nos centros científicos. Ela está dispersa em todos os cantos da empresa, dentro e fora. Existe um conhecimento escondido e latente dentro da cabeça de cada funcionário. São eles que conhecem as falhas nos processos, as oportunidades de melhoria, as demandas e as necessidades dos clientes e o potencial de oportunidades que a companhia não vê. São eles que conhecem os sonhos dos clientes.
O grande desafio é como capturar esse conhecimento disperso em toda empresa. Infelizmente, a maioria das empresas ainda não saber como fazer isso, ou você acha que a caixinha de papelão escrito “Caixa de Idéias – Deposite aqui sua”, ao lado do cafezinho, ajuda em alguma coisa?

Ou seja, as empresas vivem um conflito de personalidade. Elas querem ser globais, com processos, sistemas e metodologias padronizadas, de classe mundial, mas também querem ser inovadoras, com funcionários pensando diferente, sendo criativos e questionadores. É quase um dilema shakespeariano. Padronização e criatividade parecem antônimos. Seguir a regra ou questionar a regra? Pensar diferente ou pensar igual? Ser ou não ser.
Aqui cabe um parênteses: é óbvio que a criatividade num ambiente global e padronizado é possível. Até porque é desejável que o processo criativo e de inovação ocorra em bases estruturadas dentro das empresas, sem isso seria o caos, né? Mas não é fácil.
Existe um outro fenômeno rolando nos EUA e que vai contaminar o resto do mundo. A recessão, que pegou os EUA pela proa, abalou a forma como os americanos encaram o trabalho. Praticamente todas as empresas norte-americanas sofreram e continuam sofrendo no cenário atual econômico, as demissões foram muitas e continuam na pauta do dia. Pouco tempo atrás, ter um emprego fixo em uma grande empresa era sinônimo de segurança. A percepção atual é que estar empregado pode se tornar uma experiência preocupante. Ninguém sabe o que pode acontecer no dia seguinte. Já existem sinais nos EUA de pessoas que estão questionando o valor de serem assalariadas. Muitos querem trabalhar por conta própria ou para alguém em quem confiam. O EMPREENDEDORISMO vem surgindo com força total. Essa nova tendência tem um impacto direto nas empresas, que terão que aprender a lidar com esse novo perfil de trabalhador, saber atraí-lo, contratá-lo e mantê-lo motivado. E todos sabem que os funcionários com o perfil de empreendedor são os mais questionadores e criativos, características importantes para inovação.
Soma-se a isso a CHEGADA DA GERAÇÃO Y AO TRABALHO.

Resumindo toda essa novela, eu citei quatro tendências que influenciam a inovação colaborativa nas empresas:
- mudança no conceito do que é inovação;
- globalização das empresas;
- busca pelo empreendedorismo;
- chegada da geração Y ao mercado de trabalho – um novo conceito de colaboração.
Qualquer teoria a respeito de inovação colaborativa nas empresas tem que considerar essas vertentes. Fica evidente que globalização, empreendedorismo e colaboração esbarram nas engrenagens de burocracia, excesso de processos, impiedosa hierarquia e impessoalidade que existem nas grandes empresas. Só conseguirão atrair os grandes talentos aquelas que conseguirem estabelecer um ambiente interno criativo, informal, motivador e colaborativo. Nessas horas as pequenas empresas saem na frente, pois seu tamanho e perfil favorecem essa cultura empresarial mais solta e empreendedora. O frescor da impessoalidade e camaradagem dentro das empresas menores é muito mais evidente do que nas grandes corporações.
Enfim, junte tudo isso e veja o nó que o mundo empresarial terá que desatar nos próximos anos.
7 comentários:
Mais uma vez, certeiro na análise!
Pegando carona no conceito de trabalho como expressão pessoal, quando você coloca isso numa pessoa empreendedora, o resultado é um profissional muito mais nômade.
Ele vende seu potencial criativo, trabalha por projetos e com várias empresas diferentes desempenhando um papel cirúrgico lá dentro.
E este papel pode estar realcionado desde a produção direta (como um colaborador numa área extremamente tecnica e restrita) até a gerência e gestão.
Imagine uma pessoa que se foca na limpesa, e vende seu know how de forma criativa e efetiva. Ele não precisa ser fixo dentro de uma empresa, ele pode ser itnerante, foca-se em jobs. Onde ele vai, executa seu serviço, e retorna para casa.
Este cenário me parece a grande toada que a geração X seguiu, bem diferente da Boomer que buscou a quebra com valores extremos.
Para um boomer, ser criativo, era usar os cabelos compridos na reunião e brincos para deixar claro que ele era diferente.
Já para os X e Y, ao que parece, ser criativo é justamente saber se colocar neste mundo cheio de paradoxos desafiadores. Achar o caminho das pedras.
Forte Abraço
Mauro, nós da geração Y passamos por uma crise também. Como você mesmo disse: como ser colaborativo, inovador, quebrar barreiras dentro de uma empresa globalizada e cheia de regras? Como gastar tempo com o inovar (sim, pois para criar soluções diferentes é preciso no mínimo parar um poquinho para analisar o seu redor) em uma era em que as empresas tem prazos e metas cada vez mais acirrados?? Acredito ser esse um dos maiores desafios da nossa geração: equilibrar as tarefas (que precisam ser completadas com exatidão e rapidamente) e a fome de criar (e vencer, também rapidamente rs). Bjos, Mari.
Mauro, muito bom seu post. Eu sou estudioso do assunto e posso te dizer que existe uma enorme confusão entre a criatividade (individual, pessoal, não catalizável) e a inovação (corporativa, planejável, estimulável). A inovação não existe sem a criatividade, mas o elo de ligação entre as partes é delicado e difícil de ser entendido. Se interessar veja mais no SlideShare: http://tinyurl.com/kn7768
abs
Augusto Pinto
Mari. Adorei seu comentário. Você não quer escrever um texto falando sobre o tema sob o ponto de vista da geração Y??? Seria ótimo. Bjs. Mauro.
Augusto. Adorei o material do slideshare. Especialmente quando diz que para obter inovações de valor é mexer com temas complexos como cultura, estrutura e processos. Abraços. Mauro.
fiquei fã. um lugar que reune as inquietações que têm me estimulado nos últimos tempos. bárbaro, parabéns, Mauro!
Katia
O desafio é como reter esse conhecimento pulverizado dentro das organizações e como lidar com um time de funcionários empoderados de ferramentas colaborativas externas às empresas, como os sites de redes sociais. Diálogo, relacionamento e espaços colaborativos parecem ser a solução para esse novo problema.
Abraços,
Stelleo Tolda
WWW.mercadolivre.com.br/mlog
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