Esse é um filme com vários capítulos. Tem a versão mundo e a versão Brasil.
A versão mundo tem 10 capítulos:
Cena 1:
A venda de jornais em vários países desenvolvidos vem caindo consistentemente, com destaque para EUA. Eis os índices de queda de 2003 a 2008:
EUA: -15%
Inglaterra: -10%
Alemanha: -8%
Cena 2:
O aumento de circulação de jornais no mundo, em 2008, foi de apenas 2,5%, resultado puxado fortemente pelos emergentes, já que nos países desenvolvidos os índices são negativos.
Cena 3:
A americana News Corp, de Rupert Murdoch, anunciou um prejuízo de bilhões de dólares no trimestre passado. A receita caiu em relação ao ano passado. Já a editora do New York Times teve um prejuízo de 58 milhões de dólares em 2008. Agora eles estudam cobrar pelo acesso ao site. Ainda está em estudo se a editora cobrará por tudo ou apenas parte do site. A editora tem uma dívida acima de 1 bilhão de dólares.
Veja mais detalhes aqui.
Cena 4:
525 publicações americanas fecharam em 2008. Detalhes aqui.
Cena 5:
Os jornais americanos, nos últimos meses, vêm estampando matérias dizendo que a recessão econômica tem reduzido a receita publicitária das empresas de mídia. A receita publicitária dos jornais nos EUA caiu 16,4% em 2008, para 37,9 bilhões de dólares, segundo pesquisa do eMarketer. Até 2012, a previsão é de que a queda se aprofunde e a receita dos jornais seja de 28,4 bilhões de dólares.
Cena 6:
A audiência dos sites dos dez principais diários americanos aumentou 16% em dezembro, segundo levantamento do instituto de pesquisa Nielsen. Em 2004, a audiência era de 40 milhões de visitantes, já em 2008 o número passou para 70 milhões. No entanto, a publicidade online nos sites dos diários não vai bem - a estimativa da eMarketer é de que em 2008 houve queda de 0,4%. E a projeção para 2009 é de recuo de 4,7%.
Cena 7:
Na França, o presidente Sarkozy anunciou um pacote salva-vidas para ajudar os jornais. São várias ações, mas uma surpreende: os franceses que completarem 18 anos de idade vão ganhar de presente do governo uma assinatura anual de um jornal à sua escolha.
Cena 8:
Cerca de 60% dos custos fixos dos jornais diários são representados por: papel, impressão e distribuição de exemplares. Ou seja, jornais contribuem fortemente para o aquecimento global.
Cena 9:
Em 2008, vários veículos americanos anunciaram a migração definitiva para o meio online, abandonando a mídia impressa.
Cena 10:
O maior índice de penetração da internet no mundo é na América do Norte. Para quem não conhece, vale a pena passear por esse site: www.internetworldstats.com
Não deixe de entrar nesse link para conhecer as estatísticas do uso da internet pelo mundo.
Agora a versão brasileira...
Cena 1:
Depois de já ter crescido 11,8% em 2007, a circulação de jornais no Brasil voltou a aumentar em 2008. A alta foi de 5%, chegando a 4.351 milhões de exemplares na média diária no ano passado (IVC).
Cena 2:
Num debate na TV no ano passado entitulado “O futuro dos jornais”, os três principais jornais brasileiros dizem que está tudo “uma maravilha”. Ninguém falou em mudança drástica do modelo de negócio. A discussão sobre mídia online decepcionou.
Cena 3:
Pesquisa da PWC apontou que 57% dos consumidores brasileiros aceitariam pagar por uma revista que passasse a ser apenas on-line. Na China o resultado foi 79%. Ambos os números são bem acima dos números dos países desenvolvidos.
Cena 4:
No Brasil a internet explode. Os números diferem dependendo da fonte e da metodologia de cálculo, mas são todos grandiosos. Segundo o Ibope/NetRatings, são 41,5 milhões de internautas no país. Já a DataFolha fala em 64,5 milhões. E crescendo exponencialmente na classe C. Várias pesquisas demonstram que as lan houses passaram a ser, desde 2007, o principal local de acesso à internet no Brasil (pesquisa da Cetic.br). No total, metade dos internautas brasileiros utilizam a rede em locais públicos pagos. Como curiosidade, somente na Rocinha, a maior favela do Rio, existem mais de 100 lan houses.
Cena 5:
Pesquisa da comScore mostra que os jovens estão cada vez menos lendo jornais e... cada vez mais pendurados na internet.
Cena 6:
A venda de computadores no Brasil continua forte, apesar das previsões pessimistas para 2009. No ano passado foram vendidos mais de 10 milhões de computadores no país, entre notebooks e desktops. Hoje no Brasil se vende mais computador do que TV. Um estudo realizado pela Intel, afirma que o Brasil poderá se tornar o terceiro maior mercado mundial de PCs em 2009.
Cena 7:
O crescimento da banda larga no Brasil é evidente, mas ainda estamos longe da maioria dos países desenvolvidos no mundo. Apesar de sermos campeões na venda de computadores, a banda larga no Brasil não é tão acessível devido ao preço e dificuldade de acesso. De qualquer forma, os índices de crescimento são significativos e merecem ser comemorados.
Cena 8:
Orkut, redes sociais e blogs. Os brasileiros internautas adoram tudo isso. Em dezembro de 2008, 11,6 milhões de pessoas acessaram blogs contra 9,5 milhões de brasileiros de dezembro de 2007, um crescimento de 22,1%.
Resumindo...
O modelo de negócio dos jornais baseado em mídia impressa está sendo questionado fortemente nos EUA. A imprensa sempre se sustentou sobre um tripé financeiro, formado pela venda de assinaturas, de exemplares na banca e da publicidade. Como fazer dar certo se as três pernas do tripé vêm diminuindo? Por outro lado, uma parte considerável da população mundial já aceita pagar por conteúdo digital. Junta tudo isso, coloca no liquidificador, e a gente vai sair com algumas conclusões e algumas perguntas de difícil resposta.
A primeira conclusão é que o modelo de negócio dos jornais tem que mudar correndo.
Outra conclusão é que o Brasil parece estar localizado em outro planeta diferente da Terra. Enquanto a circulação de jornais no mundo desenvolvido desce a ladeira, aqui no Brasil ela aumenta. Vivemos aqui um “boom” de informação onde todos que trabalham com informação parecem ganhar dinheiro, inclusive os jornais. O aumento do poder aquisitivo da população alavancou o acesso aos meios de comunicação, sejam eles jornais, TV a cabo, internet ou o papo da esquina. É isso mesmo. É o papo da esquina sim. Com mais dinheiro no bolso, a população sai mais, fala mais, aprende mais, enfim, evolui.
Uma questão sem resposta é a viabilidade dessa tal “informação online paga”. Eu tenho dificuldade de ver isso dar certo apesar de algumas pesquisas apontarem o contrário. A explosão dos blogs e das mídias sociais pode jogar contra ou a favor. A informação livre, disponível e de fácil acesso é o que o povo quer. Bom mesmo foi o que Walter Isaacson, jornalista da Time, escreveu na excelente matéria "How to Save Your Newspaper". Ele disse: "os jovens pagam US$ 0,20 para mandar mensagens de texto pelo celular, mas ninguém quer pagar US$ 0,10 por um jornal na internet". Veja mais aqui.
Agora uma curiosidade. Comparem os dados abaixo:
BRASIL
População: 180 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia (IVC): 4,35 milhões
JAPÃO:
População: 130 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia: 68,4 milhões
INGLATERRA
População: 50 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia: 15,5 milhões
EUA
População: 300 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia: 49,8 milhões
Comparou o Brasil com os outros países? Sacou? Viu a penetração dos jornais nos países?
Como falei antes, o nosso país vive o “boom” da informação e da internet. Minha percepção é que o Brasil vai pular a era dos jornais e vai direto para a mídia online. Nós não vamos mais chegar no mesmo índice de penetração existente de circulação de jornais dos países desenvolvidos. Esse “novo” povo sedento de informação vai encontrar o que procura na mídia online.
Por fim, como tudo que acontece na Terra do Tio Sam acaba chegando aqui em Terra Brasilis, vamos ficar ligados nos próximos capítulos do filme americano dos jornais. Mudanças drásticas acontecerão em breve sob pena de naufragarem alguns ícones editoriais importantes.
3 comentários:
Mauro,
vc não sabe como esse post me ajudou. Vou trocar um email com você sobre o assunto.
Abraços,
Caro Mauro,
Ao ler este post foi inevitável fazer uma relação entre os jornais de grande circulação e os jornais internos. Lembrei imediatamente de outro post que você escreveu ano passado, sobre redes sociais nas empresas. Falava sobre um encontro que você participou e no qual questionou a platéia sobre o uso de blogs, orkut e outras redes sociais no ambiente de trabalho. O resultado constatou como as corporações ainda investem pouco nessas ferramentas por temerem perder o suposto "controle" sobre as informações. E é impressionante o tanto de empresários ou executivos que procuram nossa consultoria apenas para "fazer o jornalzinho interno, nada além disso, ok?". O discurso é quase sempre assim. Jornais que, muitas vezes vi, acabam sendo esquecidos ou apenas folheados sem leitura profunda. Não estou dizendo que não sejam úteis (dentro de um mix bem elaborado), mas não são - definitivamente - o futuro da comunicação interna. Principalmente num país onde se lê tão pouco jornal como o nosso e onde a internet está cada vez mais presente. Quando sugiro: "e que tal fazer algo na rede, mais colaborativo?". Os olhos se arregalam e o espanto é indisfarçável. Sei que o cenário já está mudando, e muito. Mas ainda há muita resistência.
Abraço,
Marcus Bezerra
Marcus. Entendo perfeitamente o seu comentário, mas tenho que confessar que sinto muita dificuldade de entender a resistência das empresas em entrar nesse mundo colaborativo. Obrigado por visitar meu blog. Abraços. Mauro.
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