No dia 2 de dezembro de 1991, Jô Soares comandou uma entrevista histórica com Jean Paul Jacob, Gerente de Pesquisas da IBM na Califórnia, no seu antigo programa Jô Onze e Meia, ainda no SBT. Numa era em que a tecnologia da informação e a internet ainda estavam dando os primeiros passos, JP (Jean Paul) e Jô travaram uma conversa divertidíssima sobre o futuro dos computadores, mundo multímidia, inteligência artificial, internet e super condutividade.
A entrevista toda foi sensacional, mas a magia aconteceu no final, quando JP demonstrou a super condutividade ao vivo, fazendo uma pastilha de cerâmica levitar, diante dos olhos e das bocas boquiabertas do público, inclusive do próprio Jô. Ainda mais no finalzinho, já no encerramento, JP tinha que se desfazer do nitrogênio líquido (que é perigoso e de difícil manipulação) e decidiu jogá-lo no chão, criando uma espécie de fumaça. A câmara captou o momento e Jô Soares se espantou. JP simplesmente comentou: "Estou devolvendo ar ao ar".
A entrevista teve tanta repercussão, que Jô trouxe JP mais uma vez para o seu programa, desta vez em 1992.
Na entrevista de 1992, a conversa voltou a ser sobre futuro e transformações. Falou-se sobre robôs miniaturizados introduzidos no corpo humano e computadores pessoais multimídia, que eram super novidades naquele ano. É divertido compararmos essa conversa com os dias de hoje, onde temos smartphones e dispositivos super sofisticados em nossas mãos. Foram quase 40 minutos de diálogo e quase nada se falou sobre internet, que naquela época era algo ainda incipiente e poucos conseguiam estimar a dimensão transformadora que ela traria à sociedade.
Completando a trilogia, Jô voltou a entrevistar JP em 1996. Nessa nova conversa, as estrelas da conversa foram os laptops multimídia e, principalmente, a internet. Muito interessante a demonstração feita por JP de busca na internet sem usar o... Google, até porque o Google ainda não existia :) Ver o JP fazendo as demonstrações é estranho, pois mostra como éramos bebês ingênuos na jornada de transformação da tecnologia. É incrível ouvir o JP falar naquela época em wearables, parecia algo de um futuro muito distante e improvável.
JP tem uma história formidável. Ele se formou em engenharia eletrônica no ITA, São José dos Campos, em 1959. Logo que se formou, JP descobriu que ser
cientista no Brasil era uma profissão muito mal remunerada e repleta de limitações. Ele partiu para o exterior. Trabalhou como pesquisador na França e na Holanda. Em 1961 ele recebeu um convite para se juntar a uma equipe da IBM que pesquisava métodos de automação de aciaria na Suécia. O projeto exigia conhecimentos avançados de matemática para gerar um modelo matemático do processo, e JP gostou da oportunidade. A alegria durou pouco. JP fazia seu trabalho usando computadores analógicos, algo muito limitado, e ele queria mais. Durante o seu trabalho na Suécia, já na IBM, a NASA anunciou um projeto para o primeiro estudo de uma estação espacial. Na época os médicos diziam que o ser humano não poderia sobreviver fora da atração da gravidade e se tentasse, os órgãos vitais seriam expelidos para fora do corpo. Algo bizarro. O projeto da NASA pedia a simulação de uma estação espacial que gerasse gravidade usando a força centrífuga, e a equipe da IBM que trabalhava no projeto da aciaria era de longe a mais experiente em simulações. Foi aí que JP aceitou o convite para participar do projeto e pousou na Califórnia em 1962. De lá ele nunca mais saiu, com exceção de um breve período, entre 1969 e 1971, quando morou no Brasil. Na Universidade da Califórnia, em Berkeley, ele alcançou os graus de mestrado e doutorado em matemática e engenharia.
JP é de tudo um pouco. É professor, cientista, pesquisador, palestrante e um monte de outras coisas. Recebeu dezenas de prêmios ao longo do tempo. Talvez, a melhor definição para ele seja futurólogo. Toda a sua vida é dedicada para olhar para frente. Ele frequentemente diz que temos que aprender com nossos erros. Nunca devemos repetir o mesmo erro. Afirma que aprendeu isso quando ainda era muito jovem, numa fazenda em São Carlos, São Paulo. Diz ele: "olhe sempre onde você vai pisar e não onde você já pisou". Assim nasceu o futurólogo Jean Paul Jacob.
Com enorme poder de comunicação e sedução, JP é um dos melhores palestrantres que eu já vi na minha vida. Ele é uma espécie de evangelista das ciências. Já fez palestras pelo mundo todo: Brasil, Estados Unidos, Europa, América Latina, etc. Falando em português, inglês, francês, alemão e espanhol. Um assombro :) Dono de um humor envolvente, ele encanta as plateias com seu estilo pessoal e magnético. Sempre foi extremamente preocupado com detalhes e com o planejamento de cada uma de suas palestras e reuniões. O sucesso nunca veio por acaso e sempre veio por conta do conteúdo extraordinário que compartilha com quem conversa ou assiste suas apresentações.
Sempre foi uma pessoal humilde, de sorriso farto e sincero, com riso fácil. Eu tenho a impressão que a palavra que ele mais fala na vida, até hoje, é "porque", sempre com tom interrogativo. É um curioso costumaz. Acho que ele deve ler até bula de remédio. Seus paradeiros prediletos sempre foram o Centro de Pesquisas da IBM em Almaden e a Universidade da Califórnia. Aliás, ele hoje continua residindo na Califórnia, a terra escolhida para viver nas últimas cinco décadas.
Como qualquer futurólogo, JP acertou muitas previsões e errou algumas. Porém,
mesmo aquelas que ainda não deram certo, ainda me parecem muito prováveis de acontecer, como a previsão de que vamos usar a condutividade elétrica da pele e do sangue para interconectar "coisas" que carregamos. Uma espécie de rede pessoal. Lembro bem dele falando sobre isso em suas palestras. Aliás, lembro dele falando da internet das coisas, computação cognitiva, robótica, dispositivos vestíveis, e-readers, o fim do LP e o surgimento do CD laser, câmeras digitais, mundos virtuais, internet 3D, etc.
Mas o gênio JP também é um ser humano como nós. É gente como a gente. E esta sempre foi uma face de encantamento para as pessoas. É um sujeito espartano, humilde, sem preconceitos e que gosta de coisas simples, como um belo prato de camarão e ouvir música clássica.
JP passou a vida toda imaginando e planejando o futuro. Foi um agente de mudança, impactando a vida de milhares de pessoas. Trabalhar com o futuro é magnífico pois exige sonho e imaginação, por outro lado pode ser frustrante, pois o futuro nunca chega, ele está sempre a frente. Fico pensando no que JP está atualmente pensando sobre o futuro da sociedade. Visite e participe do Grupo dos Amigos do Jean Paul no Facebook. Lá você você vai ter chance de saber mais sobre JP, sua história e interagir com ele.
A primeira das entrevistas da trilogia abaixo aconteceu em 1991, um pouco mais de 20 anos atrás. Assista o vídeo, veja a demonstração da super condutividade, que é antológica, e solte a sua imaginação. Isso tudo aconteceu há somente duas décadas. Será que somos capazes de imaginar o mundo daqui há 20 anos para frente?
Aperte os cintos e boa viagem :)
3 comentários:
Excelente post!
A IBM já tinha um "iPad" em 1992.
Excelente post. Já está marcado nos meus favoritos. Adorei este site ao ler vi que era o que eu estava procurando, Estou ansiosa para ler seu próximo artigo, parabéns.e muito Swing um abraço
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