quarta-feira, 8 de abril de 2015

Hello Barbie: evolução ou invasão de privacidade?

O anúncio da nova boneca Hello Barbie conectada por wi-fi e que conversa com as crianças provocou uma avalanche de análises e comentários na web a respeito da invasão de privacidade dentro dos lares. As críticas têm sido duras e muito bem fundamentadas. A boneca tem um microfone embutido que capta tudo que é conversado ao redor dela. Essas conversas serão transmitidas para os servidores da Toy Talk, a parceira de tecnologia da Mattel, que é a fabricante do brinquedo.

A Mattel informa que vai aprender sobre o que as crianças gostam e não gostam, que a boneca vai conversar com elas através do alto-falante existente no brinquedo e que os pais receberão emails com destaques das conversas de sua crianças. Psicólogos estão analisando o caso com avaliações catastróficas. Conheça a boneca no vídeo abaixo.



Apesar de parecer intrusivo, ameaçador e uma afronta à privacidade, eu acho que podemos estar fazendo tempestade em copo d'água. O argumento de que as bonecas ouvirão os segredos das crianças, apesar de verdadeiro, nada mais é do que uma evolução natural do que vêm ocorrendo em nossas vidas.

Nós já compartilhamos segredos, deixamos rastros e nossos gostos pessoais nas redes sociais nas quais participamos. Muitos de nós somos facilmente localizáveis pois permitimos que nossos smartphones registrem nossos passos. As nossas vidas estão armazenadas nos servidores do Google, Facebook e etc. com detalhes que desconhecemos. Cada vez mais pessoas compartilham suas informações com empresas em troca de benefícios, promoções, facilidades, conveniências e ofertas personalizadas. O conceito de privacidade vem evoluindo radicalmente nos últimos anos.

Falar que são crianças inocentes contando os seus segredos para a Hello Barbie me incomoda. Elas já fazem isso nas redes sociais, nos smartphones e em outros canais que os pais nem imaginam. Portanto, se isso incomoda você, não dê a boneca para uma criança, ou, se optar em ter a boneca, não ligue o wi-fi, desligue o microfone e o alto-falante. Ah, aproveite para tirar o smartphone de suas mãos também. Se for fazer o serviço, faça bem feito e completo.

Será que alguém já perguntou para as crianças o que elas acham da Hello Barbie? Ou apenas os psicólogos, especialistas e pais se pronunciaram? Ah, elas não têm idade para avaliar essas coisas. Ok, então deixemos elas se divertindo com seus smartphones superconectados.

A boneca Hello Barbie é um mero sinal do tsunami à nossa frente. Em alguns anos haverá a explosão da computação cognitiva, robótica, inteligência artificial e assistentes virtuais. Você assistiu o filme Ela? (veja trailer abaixo) Assista! E me diga o que acha da Hello Barbie comparada à Samantha. Parece ficção, mas não é. Estamos muito próximos dessa realidade.

Tecnologias altamente avançadas de computação cognitiva permitirão a interação intensa entre homens e máquinas, com conversas inteligentes e profundas, numa relação quase humana. Provavelmente, mais breve do que imagina, o seu melhor amigo e conselheiro não será propriamente um humano, mas uma máquina, travestida de robô ou em algum dispositivo que você vai carregar consigo.

A internet das coisas vai permitir que os equipamentos e dispositivos ao seu redor conversem sobre você... sem você saber! Os wearables vão monitorar a sua saúde, evidenciar sua rotina, seus gostos e preferências. As empresas estarão aptas a entender e conhecer melhor você, provendo serviços personalizados, experiências únicas e individuais. E você vai gostar disso. As coisas ao seu redor saberão tudo sobre você. Quando isso acontecer, o conceito de privacidade pode ser totalmente diferente do que imaginamos hoje.

Enfim, a Hello Barbie é apenas a pontinha do iceberg que o titanic da sociedade vai encarar pela proa em breve. E não vai dar para fugir dele.

E aí, vai comprar uma Hello Barbie?




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